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COLONIZAÇÃO
DE EIXO AMAZÔNICO CONTARÁ COM
PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE
CIVIL
Panorama
Ambiental
Fortaleza (CE) - Brasil
Abril de 2004
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A região
do entorno da BR-163, rodovia que corta a Amazônia
brasileira no sentido norte-sul, ligando os estados
do Pará (norte brasileiro) e Mato Grosso
(centro) abriga, além da floresta e do cerrado,
quatro bacias hidrográficas e o território
de 30 etnias indígenas. A estrada corta ainda
regiões como a Terra do Meio, pródiga
em conflitos fundiários e extração
ilegal de madeira.
A área, no entanto, está na mira do
Programa Plurianual do governo federal, que pretende
estender a fronteira agrícola brasileira
para a Amazônia legal e escoar a produção
pelos estados do norte do país. Um dos primeiros
passos para a implementação desse
projeto será a pavimentação
da rodovia.
"A gravidade dos problemas estruturais prévios,
associada ao projeto de asfaltamento da BR-163 como
mero corredor de transporte para commodities agrícolas,
motivou uma ampla mobilização de organizações
representativas do movimento social (indígenas,
produtores familiares, extrativistas, entre outros),
de ONGs, órgãos governamentais e de
instituições de pesquisa, nos estados
do Pará e Mato Grosso", afirmam as entidades
reunidas na última semana para estabelecer
as diretrizes do Plano de Desenvolvimento Territorial
Integrado e Sustentável da Região
de Influência da BR-163.
Mais de 100 representantes de organizações
não-governamentais, movimentos sociais, universidades,
entidades indígenas e camponesas, dentre
outras, apresentaram o Plano resumido na Carta de
Santarém, documento que consolida as propostas
da sociedade civil para a região da BR-163.
A proposta foi entregue aos ministros da Integração
Nacional, Ciro Gomes, e do Meio Ambiente, Marina
Silva, que prometeram incorporar as sugestões
e receber os agentes locais no Grupo de Trabalho
Interministerial da BR-163, que abrange 15 ministérios.
A primeira proposta das organizações
sociais é de que a região seja integrada
ao restante da Amazônia. "O asfaltamento
da BR-163 deve ser acompanhado do asfaltamento da
Transamazônica, de rodovias estaduais e da
abertura e manutenção de estradas
vicinais. Propõe-se um sistema viário
que integre a construção de rodovias
com terminais fluviais, rodoviários e rodofluviais
projetados prioritariamente para o fortalecimento
da economia regional", recomenda a Carta.
Os conflitos rurais, a devastação
da floresta por atividades ilícitas e o trabalho
escravo são apontados como problemas que
devem incluir a regularização da posse
da terra. "O ordenamento fundiário e
o combate à violência devem ser ações
prioritárias para iniciar o processo de governabilidade
e o Estado de Direito na região", afirma
o documento. O mesmo vale para os territórios
indígenas, demarcados a maioria de maneira
incorreta (sem corresponder aos territórios
tradicionais de etnias) ou mesmo com a delimitação
e homologação pendentes, o que facilita
a invasão das terras por atividades agropecuárias
e extrativistas.
No entanto, o Estado precisa marcar tanto a presença
legal como física na região a fim
de pacificá-la. "A garantia dos direitos
humanos exige a imediata criação de
uma força-tarefa para investigar e punir
os casos de violências cometidos por grupos
de extermínio, latifundiários, traficantes,
agentes de segurança do Pará (Terra
do Meio - Altamira, Itaituba, Santarém, Novo
Progresso, Almerim, Óbidos e Anapu) e Mato
Grosso (Lucas do Rio Verde, São Félix
do Araguaia e Querência) e a instalação
de delegacias regionais da Polícia Federal",
aconselha as entidades signatárias da Carta
de Santarém.
Na área ambiental, o documento pede que o
governo se proponha a regularizar e consolidar as
áreas protegidas, como Anapu, as Reservas
Extrativistas Verde para Sempre, Renascer, Bacajá,
Riozinho do Anfrísio e o mosaico de Unidades
de Conservação da Terra do Meio. Se
recomenda ainda o incentivo ao manejo florestal
com legislação diferenciada para a
escala da produção familiar, bem como
estabelecer linhas de microcrédito solidário.
Em relação aos estudos prévios
à pavimentação da rodovia e
demais construções das obras de infra-estrutura,
as organizações exigem que a abrangência
territorial de impacto da construção
da BR-163 considere como regiões de influência
o norte do Mato Grosso e oeste do Pará, incluindo
as bacias do Xingu, Araguaia, Teles Pires e Tapajós,
a fim de que não se cause nenhum dano ambiental
em nome do desenvolvimento.
Fonte: Adital – Agência de
Informação Frei Tito para a América
Latina (www.adital.org.br)
Assessoria de imprensa