|
DOCUMENTÁRIO
SOBRE CHERNOBYL GANHA VAIAS E APLAUSOS EM
GOIÁS
Panorama
Ambiental
Goiás (GO) – Brasil
Junho de 2004
|
|
O
documentário Chernobyl Heart (Bielorússia,
2003), ou Coração de Chernobyl, foi
considerado pelo júri do VI Festival Internacional
de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) um dos
filmes mais polêmicos do festival. Na noite
de sua exibição, o filme ganhador
do Oscar de melhor documentário de 2003 (entregue
em 2004), da diretora americana Maryann De Leo,
foi ao mesmo tempo aplaudido e vaiado pelo público.
O documentário mostra a dramática
história de crianças atingidas pela
explosão de Chernobyl, na Rússia.
Para fazer o filme, Maryann conta que viajou com
um grupo humanitário que trabalha com essas
crianças e visitou hospitais, institutos
psiquiátricos e de tratamento de câncer.
As lentes captaram os efeitos causados pela radiação
e o sofrimento das crianças atingidas, 16
anos depois da tragédia.
Em entrevista à Agência Brasil, a diretora
Maryann De Leo fala da experiência de filmar
no palco de uma das maiores tragédias nucleares
mundiais e mostrar o documentário num festival
de cinema ambiental brasileiro.
ABr: Do que
trata o filme?
O filme fala dos efeitos da radiação
nas crianças 16 anos depois do acidente nuclear
de Chernobyl. É uma jornada pelo país
com uma associação humanitária
que cuida dessas crianças. Eles me mostraram
as condições de saúde de algumas
dessas pequenas vítimas.
ABr: E qual
foi a sua primeira impressão quando viu de
perto essas crianças?
Eu comecei o filme porque vi algumas fotografias
das Nações Unidas sobre essas crianças
e foi muito chocante, muito forte. Então
eu quis relembrar a todos nós o que aconteceu
lá e quando eu estava lá foi duro,
foi difícil ver as crianças porque
você não pode fazer muito por elas.
E eles são tão inocentes, e as suas
vidas foram tão alteradas pelo que aconteceu...a
população adolescente, muitos deles
têm câncer de tireóide, mas isso
é mais ou menos curável. Há
também muitas crianças que nasceram
com deformações físicas, mentais,
e há muitos órfãos também,
porque o governo incentivava os pais que tinham
bebês com deformações a abandonar
seus filhos.
ABr: Por
que você escolheu filmar este tema?
Eu tinha me esquecido completamente deste assunto,
eu realmente não sabia o que tinha ocorrido
lá e foi somente quando eu vi as fotografias
que eu me lembrei e pensei que se eu tinha me esquecido
talvez muitas outras pessoas tivessem também.
Foi uma oportunidade de discutir novamente toda
essa questão nuclear, o que acontece quando
ocorre um acidente assim, e eu acho que muitos já
esqueceram como isso é perigoso. É
um assunto difícil de manter na mídia
e na mente das pessoas porque todos os dias acontecem
tantas coisas ruins, né?
ABr: O que
representa para você exibir o seu filme num
festival ambiental brasileiro?
É muito importante para mim estar mostrando
o filme num festival voltado para as questões
ambientais. Eu acho que é importante refletir
sempre sobre os temas ligados ao meio ambiente,
os filmes falam sobre questões que acontecem
em todo o mundo e é preciso prestar mais
atenção a esse assunto.
Abr: O foco
do seu filme é o sofrimento das crianças
de Chernobyl, mas o que você observou sobre
as conseqüências do acidente nuclear
no meio ambiente?
Ainda há muita contaminação.
O rio está contaminado, o ar, a comida. Durante
as filmagens, checávamos a radiação
em nossos corpos e havia césio. O depósito
onde foram colocados os reatores da usina continuam
vazando, então é um problema ainda
muito sério.
Abr: Como
foi a reação do público que
assistiu o filme aqui no festival?
Foi muito misturado. Essa é a primeira vez
que eu vejo o filme fora dos Estados Unidos, e no
final aparece (no filme) um médico norte-americano
que operou algumas das crianças vítimas
de Chernobyl, mas algumas pessoas interpretaram
isso como orgulho americano. Eu fiquei chocada porque
essas pessoas perderam o foco do filme, que são
as crianças. Elas apenas se concentraram
no fato de o médico ser norte-americano,
mas esqueceram que o filme não era sobre
o médico. Eu fiquei realmente muito surpresa.
Entenda o
acidente de Chernobyl
Em 25 de abril de
1986, a cidade de Chernobyl, localizada na ex-URSS
(atualmente Ucrânia), foi palco do pior acidente
nuclear ocorrido no mundo. A usina nuclear de Chernobyl,
localizada a 80 milhas no norte da cidade de Kiev,
era composta por quatro reatores e no momento em
que o reator 4 estava sendo testado os procedimentos
de segurança foram negligenciados. À
1h23 da madrugada, ocorreu uma explosão e
uma bola de fogo fundiu o aço e a tampa concreta
do reator.
O acidente de Chernobyl matou mais de 30 pessoas
imediatamente. Como resultado dos altos níveis
de radiação que atingiram um raio
de 20 milhas, 135 mil pessoas deixaram a cidade.
Depois do acidente, nada mais pode ser plantado
nas imediações da cidade, rios e ar
continuam contaminados e milhares de crianças
nascem todos os anos com deformações
físicas e mentais.
Fonte: Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Irene Lôbo