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ESPECIALISTAS
DEBATEM O DOMÍNIO DA ÁGUA
NO ENCONTRO NACIONAL DE COMITÊS
Panorama
Ambiental
Porto Alegre (RS) – Brasil
Junho de 2004
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Especialistas e
representantes de organismos de bacias debateram,
durante essa terça-feira, no VI Encontro
Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas,
que acontece em Gramado/RS, de 06 a 09 de junho,
o papel dos três entes federados brasileiros
(União, Estado e Municípios) sobre
o dever de tutelar as águas em nome da sociedade.
A Constituição brasileira estabeleceu
e “reconheceu”, segundo os conferencistas, que existem
águas de domínio da União e
dos Estados e que compete a esses entes a concessão
do direito de uso das águas, a sua regulação
e a cobrança pelo uso.
Para Stela Goldstein, geógrafa, que ocupou
os cargos de secretária adjunta de meio ambiente
do Estado de São Paulo e de secretária
do Verde e Meio Ambiente da capital paulista, “
a questão da dominialidade tem que ser entendida
no processo de mudança do Estado brasileiro,
que busca a responsabilidade compartilhada sobre
a água e o território, através
da participação da sociedade, porém
o sistema atual de gestão, com os comitês
de bacias hidrográficas e conselhos não
pode substituir o Estado. Existem assuntos que não
são da alçada dos comitês mas
que dependem da co-responsabilidade na gestão
das políticas públicas de meio ambiente
e água, como por exemplo habitação
e questões sociais. Portanto para que possamos
avançar no campo dos recursos hídricos
não basta discutir a dominialidade da água,
pois é possível avançar a margem
da questão do domínio”.
Os conferencistas e representantes de comitês
de bacias voltaram a apontar a necessidade do pacto
federativo entre União, Estados e Municípios,
de forma que as atribuições sejam
integradas. “A articulação entre o
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hidricos
e os sistemas estaduais é fundamental para
a gestão das águas, que tem os comitês
de bacias como articuladores que não substituem
os demais entes,” concluiu Stela.
Para Luiz Grassi, da ABES/RS – Associação
Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental,
a questão da dominialidade está sendo
superada na prática. O que parecia ser algo
praticamente impossível, em razão
de questões complexas relacionadas ao federalismo,
está sendo vencido, segundo Grassi, que destaca
o fato do Brasil ser o único país
da América que conta com um sistema que confere
poder efetivo aos municípios.
“A Lei 9433/97 que instituiu o Sistema Nacional
de Recursos Hídricos, trata de questões
da União que representam avanços administrativos
nos quais os Estados já tinham experiência.
Isso fez com que, num primeiro momento se pensasse
que as leis estaduais não estariam mais vigentes,
fato que foi superado”, afirma Grassi.
Grassi concluiu sua exposição com
a ressalva de que as questões relacionadas
com as águas subterrâneas são
mais as complexas no que se refere a dominialidade
e não têm sido enfocadas nos debates
no âmbito dos comitês de bacias.
Gilberto Canali, ex-presidente da ABRH – Associação
Brasileira de Recursos Hídricos, ressaltou
o fato da Constituição não
delegar aos municípios retirado a dominialidade
da água dos municípios.
“As palavras-chave nesse processo são credibilidade
e segurança jurídica, que é
extremamente difícil em razão da dicotomia
existente, no que tange a dominialidade das águas.
Precisamos partir para a solução dos
problemas ainda que tenhamos que verificar a necessidade
de uma emenda constitucional, pois devemos buscar
uma forma de ampliar o domínio dos estados
sobre as águas. Deveria ser criada no Brasil
a figura de rios compartilhados. Na União
Européia não se sacrifica nenhum ente
nacional e sua autonomia e o sistema de gestão
está sendo construído sem orçamento
da União Européia”, disse Canali.
A descentralização e a gestão
integrada da água estabelecidos na legislação
vigente dependem de vontade política e os
comitês de bacias têm o papel de exercer
pressão e fazer mobilizações
para que esse processo ocorra, ressaltaram os expositores.
Fonte: SEMA-RS (www.sema.rs.gov.br)
Assessoria de imprensa