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EMOÇÃO E VITÓRIA NO QUARTO PEIXE-BOI NASCIDO EM CATIVEIRO

Panorama Ambiental
Manaus (AM) - Brasil
Fevereiro de 2004

Ele é macho, pesa 12 quilos, mede 86,5 cm de comprimento e passa muito bem. Por enquanto, ainda não tem nome, mas o nascimento em cativeiro do quarto filhote de peixe-boi amazônico (Trichechus inunguis) no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), às 17h10 de terça-feira, foi uma verdadeira vitória no controle e reprodução da espécie ameaçada de extinção. O projeto é pioneiro e o único do mundo com registros de nascimentos deste mamífero em cativeiro.
Boo, peixe-boi fêmea que tem 30 anos e é a mais velha das quatro em idade fértil no Laboratório de Mamíferos Aquáticos do instituto, começou a entrar em trabalho de parto às 05:00h de terça-feira e às 11:00h ocorreu o rompimento da placenta. A partir daí, os pesquisadores do ficaram de vigília para acompanhar de perto cada mudança em seu comportamento. "Estou muito ansioso, a sensação é como se eu estivesse esperando o nascimento do meu próprio filho", disse o veterinário Anselmo D'Affonsêca. A cauda do filhote começou a sair às 16:20h e finalmente, às 17:10h ele nasceu, num clima de muita emoção e vitória.
A primeira mamada do filhote aconteceu em menos de três horas depois do seu nascimento, o que na opinião de Anselmo D'Affonsêca é muito importante porque através do colostro a mãe transmite anti-corpos para o bebê. "A seqüência da primeira mamada foi toda acompanhada. O filhote fez um encaixe perfeito nas mamas, que ficam abaixo da nadadeira peitoral. E um fator importante é que a Boo é uma super mãe. Ela demonstra um cuidado muito grande com seus filhotes".

Hoje, os pesquisadores fizeram a pesagem e medição do filhote e coletaram o leite da mãe para verificar sua composição. Além de um dado científico importante, essa informação servirá de base para elaborar uma dieta artificial para os peixes-bois que chegam até o Laboratório por meio de apreensões.
O último nascimento de peixe-boi em cativeiro ocorreu há dois anos, quando a peixe-boi fêmea Tukano pariu Tuã. A gravidez tem duração de 12 meses.

Uma conquista e tanto

O quarto nascimento de filhote de peixe-boi em cativeiro é uma conquista e tanto na opinião do pesquisador Fernando Rosas, que está no projeto desde 1981. "Acompanhamos todo o processo, da concepção ao nascimento, por isso estamos muito emocionados. É um passo gigantesco para evitar que essa espécie seja extinta", assinalou o pesquisador Fernando Rosas.
O próximo passo é reintegrar os animais ao meio natural. Uma tarefa que exigirá um abrangente trabalho de conscientização e mesmo assim, não há garantias de que obtenha sucesso. Uma proposta que está sendo estudada pelos pesquisadores é a de soltar os mamíferos em locais que funcionam como semi-cativeiros; fazendas particulares com grandes lagos e farta alimentação para os herbívoros.
"Todo esse cuidado e preocupação se justifica porque essa espécie já foi explorada comercialmente a tal ponto, que hoje está ameaçada de extinção". Por conta do seu couro - bastante utilizado como correias de máquinas - e sua gordura - usada como combustível e até iluminação pública - ela foi bastante explorada até o declínio em 1955, quando a indústria passou a usar o couro sintético.

Tudo começou com um pesquisador canadense

Não se pode falar do projeto peixe-boi sem lembrar de Robin Best, um canadense que veio para Manaus em 1977 e desenvolveu pesquisas sobre esses mamíferos. Foi ele quem implantou os tanques para no Laboratório de Mamíferos Aquáticos. Infelizmente não pôde ver os resultados da semente que plantou. Aos 37 anos, morreu na Inglaterra vítima de leucemia. "Mas tenho certeza de que onde ele estiver, está muito feliz com o nascimento desse filhote", acentuou Fernando Rosas, que na época era estagiário do INPA e trabalhou diretamente com Best.

Fonte: INPA - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (www.inpa.gov.br)

 
 
 
 

 

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