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NOVO PROGRAMA
NACIONAL DE FLORESTAS (PNF) GERA EXPECTATIVAS
POSITIVAS
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Fevereiro de 2004
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Embora tenha sido
criado em abril de 2000, nada foi realizado no governo
FHC. Na última quinta-feira (5/2), Lula anunciou
que serão destinados R$ 1,8 bilhão
para o programa até 2007. A declaração
foi feita durante sua participação
na solenidade realizada no Palácio do Planalto
para empossar a comissão coordenadora do
PNF, que conta com 10 representantes da sociedade
civil, o que dará maior legitimidade social
ao programa. Pela primeira vez, o presidente fez
um discurso sensível às questões
ambientais.
Desde sua criação, o PNF tem sofrido
fortes críticas da sociedade civil devido
à sua falta de transparência, pouca
abertura para participação e prioridade
dada às demandas do setor empresarial.
Concretamente, o programa, até hoje, não
deslanchou. Colocar em ação a Comissão
Coordenadora do Programa Nacional de Florestas (Conaflor),
ainda que de caráter consultivo, é
um passo importante para dar maior legitimidade
social e eficácia ao programa. A comissão
é formada por 37 membros. Envolve 10 ministérios,
cinco órgãos estaduais de meio ambiente,
três de instituições de ensino
e de pesquisa, produtores florestais e sociedade
civil - entre as quais uma organização
indígena, a Coordenação das
Organizações Indígenas da Amazônia
Brasileira (Coiab), um representante de comunidade
extrativista e indicações do Fórum
Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio
Ambiente e Desenvolvimento (FBOMS) de nomes representativos
dos principais biomas brasileiros.
A Conaflor, que reuniu-se pela primeira vez nos
dias 4 e 5/2 inicia seus trabalhos tratando dos
seguintes temas: revisão do plano de metas
para o período de 2004 a 2007, permitindo
a discussão das prioridades por todos os
segmentos; discussão do processo de elaboração
de um projeto de lei para regular a concessão
de florestas públicas, que está sendo
promovido pela Secretaria de Biodiversidade e Florestas
do MMA, por meio de um grupo de trabalho, e deverá
ter uma agenda de discussão mais ampla, atendendo
à demanda dos representantes das ONGs e movimentos
sociais, preocupados com as dificuldades com o quadro
fundiário na Amazônia e com a exploração
e comercialização ilegal; e definição
das átividades prioritárias a serem
desenvolvidas com recursos de um empréstimo
a ser cedido pelo Banco Mundial para o programa.
O PNF é um programa audacioso, que deverá
ser o principal instrumento da política florestal
brasileira. A nova versão tem duas principais
metas: expandir a base florestal plantada, com recuperação
de áreas degradadas; e ampliar a área
floresta manejada sustentavelmente.
O governo pretende promover o plantio de 2 milhões
de hectares de florestas e agregar 15 milhões
de hectares de florestas públicas e privadas
ao manejo sustentável até 2007, prometendo
investir para isso R$ 1,8 bilhão - R$ 15
milhões para a recuperação
de 20 mil hectares de matas ciliares; e R$ 12 milhões
em projetos de recuperação de mata
nativa, corredores ecológicos e programas
de reflorestamento, principalmente nas margens do
Rio São Francisco -, além de R$ 150
milhões em capacitação, assistência
técnica, pesquisa
e desenvolvimento tecnológico.
Transparência,
participação e efetividade
Durante a solenidade,
o Grupo de Trabalho (GT) de Florestas do Fórum
Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS), representado
por Adriana Ramos, do Programa de Política
e Direito Socioambiental (PPDS) do Instituto Socioambiental
(ISA), afirmou ser necessário privilegiar
um modelo de desenvolvimento que utilize a floresta
em detrimento dos que visam meramente substitui-la,
lembrando que os resultados econômicos positivos
das atividades agropecuárias não contabilizam
os danos ambientais. "Ao fazer isso, é
preciso priorizar e defender o espaço da
produção familiar e do extrativismo,
que fixam as pessoas no campo. A comissão
criada hoje pode ajudar o senhor [presidente] a
fazer isso com a devida transparência, participação
e efetividade", afirmou.
Adriana destacou ainda que uma economia com base
em práticas de manejo sustentável
pode, apenas na Amazônia, gerar 500 mil empregos
formais - direitos e indireitos - no período
do Plano Plurianual (PPA) 2004-2007, utilizando-se
para isso fundos já existentes na região.
Os empresários do setor de florestas plantadas
foram representados por Amantino Ramos de Freitas,
presidente da Sociedade Brasileira de Silvicultura
(SBS), que destacou o papel desta atividade na economia
nacional. Em um encontro com o presidente Lula no
início do ano passado, empresários
do setor florestal reivindicaram a expansão
da área de florestas plantadas no país
e a transferência do Ministério do
Meio Ambiente para o Ministério da Agricultura
das políticas relacionadas à área.
Em tramitação na Comissão de
Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias,
um projeto de lei do deputado federal Ricardo Izar
(PTB/SP) propõe a ampliação
da área de floresta plantada de 5 milhões
para 11 milhões de hectares e a criação
do Fundo Nacional de Apoio às Florestas Plantadas.
Lula mais
sensível às questões ambientais?
A participação
do presidente Lula no lançamento do PNF sinaliza
a possibilidade de que a questão seja realmente
tratada com maior prioridade pelo governo. Em seu
discurso, disse que "conciliar desenvolvimento,
justiça social e progresso com o meio ambiente
é um imperativo estrutural e não uma
escolha técnica". Foi a primeira vez
que o presidente fez um pronunciamento reconhecendo
a importância da questão ambiental.
Em diversas outras ocasiões, Lula criticou
ambientalistas, acusando-os de impedir o desenvolvimento.
Na semana passada, porém, chegou a dizer
que "a natureza não deve ser encarada
como um museu de relíquias intocáveis,
mas, definitivamente, ela não pode mais ser
atropelada por processos econômicos baseados
na espoliação humana e ambiental".
Alguma transversalidade
em ação
Em seu discurso,
a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, aproveitou
a oportunidade para fazer um balanço das
ações do governo na área florestal,
particularmente as realizadas em parceria com outros
ministérios, como o do Desenvolvimento Agrário
e da Integração Nacional, e com o
Banco da Amazônia (Basa).
Segundo Marina, "já para o exercício
de 2004 o Banco da Amazônia alocou R$ 140
milhões, quase triplicando os recursos destinados
em 2002, para financiar manejo florestal sustentável
e atividades extrativistas na região".
A ministra do Meio Ambiente ressaltou também
a criação do novo modelo de assentamento
florestal para a Amazônia, desenvolvido em
parceria com o Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra).
Gestão
de Florestas Públicas: Lições
e Experiências para o Brasil
Entre 12 e 14/2,
será realizado no Hotel Regente, em Belém
(PA), o Seminário Internacional de Gestão
de Florestas Públicas: Lições
e Experiências para o Brasil, que tem entre
seus principais objetivos subsidiar a elaboração
do Projeto de Lei sobre Gestão de Florestas
Públicas. O PNF é responsável
pela promoção do evento, que está
sendo organizado pelo Instituto do Homem e do Meio
Ambiente na Amazônia (Imazon), Centro Internacional
de Florestas (Cifor) e Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa). Programação
e outras informações estão
disponíveis no site do Ministério
do Meio Ambiente.
Fonte: ISA-Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Fernando Vianna/Inês
Zanchetta)