|
POVOS INDÍGENAS
DE RR PEDEM HOMOLOGAÇÃO IMEDIATA
DA TI RAPOSA SERRA DO SOL E DENUNCIAM OMISSÃO
DO IBAMA
Panorama
Ambiental
Kuala Lumpur - Malásia
Fevereiro de 2004
|
|
Reunindo cerca de
1.200 pessoas, a 33ª Assembléia Geral
dos Povos Indígenas de Roraima, realizada
entre 7 e 10/2, na aldeia Maturuca, na TI Raposa
Serra do Sol, foi marcada pela cobrança da
homologação da área, aguardada
desde o início do governo Lula, e pelas denúncias
da omissão do Ibama em relação
aos prejuízos ambientais no interior das
TIs da região, provocados por arrozeiros
que utilizam agrotóxicos sem controle, aterram
lagoas e desmatam matas ciliares.
Sob o lema Terra Livre: Vida e Esperança
e debatendo meio ambiente, projetos de desenvolvimento
sustentável, saúde, educação,
parcerias e direitos territoriais e humanos, cerca
de 1.200 indígenas estiveram reunidos entre
7 e 10/2 no “malocão” da aldeia Maturuca,
na TI Raposa Serra do Sol.
Ao mesmo tempo em que comemoraram com cantos e danças
a homologação das TIs Wai-Wai, Jacamim,
Muriru, Moskow e Boqueirão, ocorrida em 2003,
denunciaram a excessiva e injustificada demora na
homologação da TI Raposa Serra do
Sol, a maior pendência do governo Lula em
relação aos direitos territoriais
indígenas.
Diversos convidados participaram da assembléia,
entre os quais representantes do Ministério
Público Federal, do Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama), da Fundação Nacional do Índio
(Funai), da Polícia Federal, da Coordenação
das Organizações Indígenas
da Amazônia Brasileira (Coiab), da Comissão
Pró-Yanomami (CCPY), do Conselho Indigenista
Missionário (Cimi), da Uhiri-Saúde
Yanomami, do Instituto Socioambiental (ISA), da
The Nature Conservancy (TNC), do Greenpeace, da
Rainforest-US e assessores da senadora Fátima
Cleide (PT/RO). Contou ainda com inédita
presença de um juiz federal
da região, Grigório Carlos Santos,
da 2ª Vara da Justiça Federal em Boa
Vista.
Homologação
já!
“Homologação já!” foi a reivindicação
que mais se ouviu. A tensão fabricada por
políticos locais e arrozeiros que se opõem
à homologação contínua
da TI Raposa Serra do Sol é, segundo lideranças
indígenas, cotidianamente alimentada pela
demora do Presidente da República em assinar
o decreto homologatório da área. Evidência
disso, foi o bloqueio da Rodovia Estadual RR-202,
que leva à aldeia, por parte de indígenas
contrários à homologação
contínua que são fomentados por invasores
interessados em manter suas atividades ilegais e
poluidoras em terras da União sob a posse
dos índios. De acordo com Martinho Andrade,
administrador regional da Funai em Roraima, não
passam de sete os arrozeiros na região da
TI Raposa Serra do Sol, detentores da posse de cerca
de 50 mil hectares plantados.
Tendo já ultrapassado todos os trâmites
processuais necessários, inclusive com julgamento
do Superior Tribunal de Justiça favorável
aos direitos territoriais dos povos indígenas
Macuxi, Taurepang, Wapixana e Patamona, o governo
Lula arrasta injustificadamente essa pendência
desde sua posse. Há em Roraima o receio de
que, mais uma vez, os direitos indígenas
sejam colocados na balança das negociações.
Desta vez, devido às eleições
municipais que se aproximam.
Indenização:
Benfeitorias ou Malfeitorias?
Um dos temas mais
importantes debatidos além da questão
da homologação foi a sustentabilidade,
a proteção e fiscalização
e o desenvolvimento nas TIs em Roraima. Este assunto
foi tratado em um painel, do qual participaram integrantes
do ISA, do Ibama, da Funai e do CIR.
Ao lado dos problemas ambientais mais comuns da
região, como queimadas e lixo oriundo dos
municípios locais, o tema central foi a degradação
causada pelos arrozeiros, que plantam em matas ciliares
– localizadas nas margens dos rios -aterram lagoas
importantes para a reprodução de peixes
e despejam de avião agrotóxicos que
contaminam os rios.
Segundo Nilva Baraúna,
gerente-executiva do Ibama em Roraima, os arrozeiros
detêm licenças da Fundação
Estadual do Meio Ambiente, órgão estadual
de meio ambiente, motivo pelo qual o Ibama não
teria ainda embargado e autuado os responsáveis.
André Lima, do ISA, em painel sobre sustentabilidade
em Terras Indígenas
Entretanto, o advogado André Lima, do Instituto
Socioambiental, assim como a procuradora Débora
Duprat, da 6ª Câmara do Ministério
Público Federal, questionaram a validade
dessas licenças, uma vez que Terra Indígena
é de domínio da União, os rios
onde os arrozeiros despejam agrotóxicos são
federais, as áreas ocupadas são de
preservação permanente, o que, segundo
o Código Florestal, justificaria a atuação
imediata do Ibama de anular as licenças,
embargar os plantios e multar os responsáveis.
Segundo Martinho Andrade, uma operação
conjunta da Funai, Polícia Federal e Ibama
para autuação dos arrozeiros, programada
para o final de 2002, foi abortada por desentendimentos
injustificados entre os órgãos federais.
Nunca mais foi replanejada.
Jacir José de Souza, do CIR, discursa contra
a omissão do Ibama
Após ouvir a representante do Ibama dizer
que estava na assembléia para “ouvir as denúncias”,
Jacy José de Souza, coordenador do CIR, foi
veemente no sentido de esclarecer que não
estavam ali para denunciar aquilo que o órgão
está ciente há anos, mas para colher
respostas.
Como resposta, a gerência-executiva do Ibama
sugeriu que fosse formada uma comissão integrada
pelos representantes do ISA, Ibama/RR, Funai, MPF,
CIR, Cimi e Coiab presentes à assembléia,
que solicitarão uma audiência com a
ministra de Meio Ambiente, Marina Silva, e com o
presidente do Ibama, Marcos Barros, para reivindicar
providências imediatas contra os crimes ambientais.
Como bem colocaram diversas lideranças indígenas,
é indignante e inadmissível que criminosos
ambientais, que depredam patrimônio público
durante anos, ainda exijam indenização
do poder público para deixarem de cometer
crimes contra o meio ambiente, sob a alegação
de que realizaram “benfeitorias” nas terras ocupadas
irregularmente. No encerramento da assembléia,
o CIR aprovou a elaboração de uma
carta a ser enviada para o presidente Lula cobrando,
mais uma vez, agilidade na homologação
da TI Raposa Serra do Sol.
Fonte: ISA-Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Fernando Baptista)