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PRESIDENTE
DA FUNAI, ENFIM, COMPARECE À AUDIÊNCIA
SOBRE O CONFLITO NA TI ROOSEVELT (RO) NA
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) - Brasil
Maio de 2004
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Mércio Pereira
Gomes, que definiu o órgão indigenista
como um dos mais importantes do país, fez
um apelo aos deputados para que, em vez de vilipendiar
a Funai, encontrem caminhos para melhorá-la.
Defendeu a regulamentação da exploração
de minérios em Terras Indígenas, ou
por meio da criação de uma empresa
estatal, ou da ampliação do quadro
do órgão indigenista.
O presidente da Fundação Nacional
do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes,
enfim, compareceu na quarta-feira (12/5) à
terceira audiência pública na Câmara
dos Deputados sobre o conflito entre índios
e garimpeiros na Terra Indígena Roosevelt
(RO) no início de abril. Também eram
aguardadas as presenças de João Bravo
Cinta-larga, Nacoça Cinta-Larga e Pio Cinta-Larga,
que não compareceram.
Colocando a auto-sustentação dos índios
como principal desafio do governo brasileiro, não
só na atual gestão, mas nas próximas
décadas, Gomes definiu a Funai como um dos
órgãos mais importantes do país,
que tem cumprido o seu dever com muito mais “altivez
e força” do que a maioria dos órgãos
brasileiros. Segundo ele, há interesses de
que o órgão indigenista seja desacreditado
como “falido, sem capacidade de operação”.
Para Gomes, o Brasil não pode prescindir
de um órgão como a Funai. “São
410 mil índios, 220 povos diferentes, cada
com uma visão de mundo diferente, e 620 Terras
Indígenas (TIs), que irão compor 1,1
milhão de hectares quando todas forem concluídas.”
Garantiu que o governo Lula vai concluir o processo
de demarcação das TIs no país
e fez um apelo aos deputados: “reflitam sobre o
órgão indigenista brasileiro como
essencial e, em vez de vilipendiá-lo, encontrem
caminhos para melhorar suas condições”.
Afirmou que a Funai, que já teve 5,8 mil
funcionários, tem apenas 2,1 mil atualmente,
700 dos quais indígenas. Citou a intenção
de realizar um concurso para a contratação
de 500 funcionários e a necessidade de incorporar
ao órgão indigenista uma equipe multidisciplinar
para lidar com novas questões, como etnodesenvolvimento
e exploração de minérios, entre
os quais engenheiros florestais, biólogos
e geólogos. Isso para, entre outros, segundo
ele, ter como suportar as demandas para pesquisas
e lavras em TIs quando o parágrafo terceiro
do artigo 231 [exploração de minérios
e aproveitamento dos recursos hídricos em
TIs] da Constituição Federal for regulamentado.
“Nessas condições, a Funai não
tem.”
De acordo com Gomes, a regulamentação
de exploração de minérios em
TIs deve se dar ou por meio da ampliação
do órgão indigenista, ou pela criação
de uma empresa estatal.
Mércio destacou a necessidade da Câmara
dos Deputados criar uma comissão para regulamentar
a exploração de minérios e
o aproveitamento de recursos hídricos em
Terras Indígenas, citando as diversas usinas
hidrelétricas previstas na Amazônia.
“Sem isso, estaremos presos a todas as possibilidades
de conflitos.”
Relembrou que a mineração em TIs por
não-índios é proibida constitucionalmente,
como já tinha sido amplamente exposto pelo
jurista Dalmo Dallari em audiência anterior.
Sobre a morte dos garimpeiros na TI Roosevelt no
início de abril, afirmou: "Nós
não temos mais informações
do que um juiz possa ter, do que os cartórios
e as delegacias possam ter. Então, eu acho
que nós devemos aguardar o inquérito
que está sendo feito pela Polícia
Federal".
Como já recorrente, deputados citaram mais
uma vez a proposta de que o já processo de
demarcação de Terras Indígenas
comece a passar pelo crivo do Congresso Nacional.
O deputado Júnior Betão (PPS/AC) comentou
sobre a possibilidade de criação de
uma Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) para investigar a morte dos garimpeiros na
terra dos Cinta-Larga. Os dois pedidos de CPI, um
do PPS e outro do PL, têm mais de 171 assinaturas,
número mínimo para que seja estabelecida.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Cristiane Fontes)