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FUNAI ALERTA
PARA CONFLITO ENTRE ÍNDIOS E FAZENDEIROS
NO ARAGUAIA
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Julho de 2004
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31/07/2004 - Funcionários
da Fundação Nacional do Índio
(Funai) alertam para um conflito iminente entre
índios Xavantes de São Félix
do Araguaia e fazendeiros que ocupam a reserva indígena
Maraiwatsede, da qual foram expulsos há nove
meses por uma decisão da justiça de
Cuiabá (MT).
"A situação pode ser irreversível
a partir de hoje, quando a tribo vela, no meio da
estrada, o corpo do terceiro bebê morto por
pneumonia e desnutrição", advertiu
Edson Beiriz, administrador da Funai em Goiânia
e coordenador das ações da fundação
junto à comunidade xavante. Ele e um médico
da Fundação Nacional de Saúde
estão a caminho da área – localizada
a mil quilômetros de Goiânia.
"Esses 480 índios já chegaram
ao limite da paciência e entram na reserva
para enterrar suas crianças. A qualquer momento,
eles podem entrar e não voltar mais”, disse
Beiriz. O administrador teme que um enfrentamento
entre os xavantes e os posseiros possa ganhar proporções
inesperadas. “Se a justiça não fizer
alguma coisa rápido, poderemos ter uma surpresa
desagradável, porque nós não
sabemos se as pessoas que estão lá
dentro estão armadas”, comentou o funcionário
da Funai.
O território disputado entre índios
e fazendeiros foi reconhecido, por decreto do então
presidente Fernando Henrique Cardoso, como reserva
de usufruto exclusivo dos índios. Além
disso, a terra Maraiwatsede é registrada
como patrimônio da União, mas foi invadida
no ano passado por fazendeiros. A justiça
mato-grossense foi favorável aos brancos
e, desde então, os índios esperam,
às margens da BR-158, pelo voto, no Supremo
Tribunal Federal, da liminar que os expulsou das
terras.
“Essa demora faz os índios perderem a confiança
na Justiça e a paciência para esperar.
Eles já estavam se preparando para tomarem
alguma atitude quando a primeira criança
morreu, estimulando ainda mais a reação
ao problema”, relatou Beiriz.
Na beira da estrada de terra, os xavantes não
podem caçar, pescar ou plantar. Moram em
barracos de lona e dependem das cestas básicas
doadas pela Funai para viverem. Sem imunidade por
serem bebês índios, alguns não
sobrevivem: as três crianças morreram
de desnutrição e pneumonia – possivelmente
causada pela grande poluição de carros
e caminhões que transitam pela rodovia. Outros
dois bebês estão internados em estado
grave em hospitais de cidades próximas.
As três mortes desta semana resultaram em
interdição da estada. Os índios
fecham a BR-158 para velarem os bebês no centro
da pista. Após os sepultamentos, ela volta
a ser liberada para o trânsito. A Funai estima
que o enterro do terceiro bebê ocorra no final
da tarde deste sábado.
Fonte: Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Milena Galdino