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SOJADIESEL
E ALCOOLQUÍMICA
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Julho de 2004
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24/07/2004 - Analistas
do setor energético convergem na premissa da
finitude das reservas de gás, petróleo
e carvão, discordando apenas ao estimar o prazo
final. Porém, na hipótese mais otimista,
essas reservas estariam comercialmente esgotadas ao
alvorecer do século XXII. Na procura por um
sucedâneo, as oportunidades que se abrem para
o Brasil são espetaculares, pois o petróleo
é utilizado tanto para produção
de energia, como serve de insumo para a quase totalidade
da indústria química. Monômeros,
polímeros, plásticos, medicamentos,
agrotóxicos, perfumes e um amplo leque de produtos
consumidos pela sociedade moderna dependem do petróleo
para sua fabricação.
Demandas
O maior consumo potencial
se concentra na produção de energia
elétrica; no aquecimento de casas e outras
edificações, em países com invernos
rigorosos; e nos combustíveis líquidos,
usados principalmente para o transporte. Em termos
de combustíveis líquidos, o Brasil reúne
as condições para liderar a oferta mundial
de álcool, a partir da cana-de-açúcar
e de outras plantas amiláceas; e de biodiesel,
baseado em oleaginosas como soja, girassol, colza,
amendoim, dendê ou babaçu. O mercado
de biomassa florestal é adequado para uso na
geração de calor, para o aquecimento
de residências e de outras edificações.
Também pode ser útil para a geração
de energia elétrica, por meio de plantas de
conversão.
Álcool
A biomassa pode suprir
esta lacuna, com alternativas adequadas a todos os
usos. Para substituir combustíveis líquidos,
o programa brasileiro do álcool (Pró-Álcool)
demonstrou a viabilidade de seu uso como combustível,
tanto isoladamente, quanto em mistura com gasolina.
A tecnologia de produção de cana-de-açúcar
e de fabricação de álcool evoluiu,
acentuadamente, nos últimos anos, tornando
o produto francamente competitivo no mercado internacional,
tanto sob a óptica financeira quanto tecnológica.
A co-geração de álcool e energia
elétrica (a partir do bagaço de cana)
e a tecnologia de extração de álcool
da palhada e do bagaço de cana, forneceram
um lastro extra de competitividade para o produto
brasileiro.
Engenharia
mecânica
Também a tecnologia
dos motores evoluiu consideravelmente, permitindo
o lançamento de veículos equipados com
sensores eletrônicos que identificam a proporção
da mistura álcool e gasolina. Os sensores efetuam
automaticamente os ajustes para otimizar o desempenho
do motor, sob qualquer condição, desde
a operação com álcool puro até
a gasolina pura. Esta tecnologia deve dar o impulso
definitivo à substituição da
gasolina por álcool, pois elimina a incerteza
em relação à garantia de abastecimento.
O álcool também é um sucedâneo
de aditivos incorporados aos combustíveis,
como o MTBE, utilizados para melhorar a octanagem.
Biodiesel
As oleaginosas (dendê,
mamona, soja, girassol) podem fornecer matéria
prima para a obtenção de biodiesel,
através de processos simples de conversão
industrial. A Embrapa já dispõe de tecnologia
para efetuar a transformação, utilizando
um processo diferenciado da transesterificação
usada nos EUA, sendo mais simples, barato e com melhor
balanço energético. O biodiesel substitui,
adequadamente, o petrodiesel, em termos de desempenho
e balanço energético, possuindo a vantagem
adicional de não emitir gases sulfurosos, um
potente poluidor da atmosfera. E, tanto o álcool,
quanto os óleos vegetais, podem ser sucedâneos
do petróleo no fornecimento de substâncias
orgânicas para uso na indústria química.
Matéria-prima
A indústria
química necessita das cadeias de carbono de
substâncias orgânicas, para promover a
sua transformação industrial. A matéria-prima
atual depende de petróleo. Com a previsão
do declínio de sua oferta, as grandes empresas
químicas mundiais, responsáveis pela
fabricação de monômeros, polímeros,
elastômeros e outras substâncias que dão
origem a plásticos, tintas, explosivos, agrotóxicos,
medicamentos, estão investindo em alternativas.
Os seus departamentos de pesquisa perscrutam, principalmente,
a biomassa, pelo seu baixo custo e pela possibilidade
de oferta continuada em grande escala. Adicionalmente,
com técnicas de biotecnologia, será
possível “desenhar” uma planta em laboratório,
para que a matéria prima produzida esteja tão
próxima do produto final quanto possível.
Caso essa seja a estratégia adotada, o Brasil
será duplamente beneficiado: além de
fornecer matéria prima, o agricultor estará
agregando valor ao produto dentro da porteira da fazenda.
(*)
Décio Luiz Gazzoni é engenheiro Agrônomo,
pesquisador da Embrapa Soja. Homepage www.gazzoni.pop.com.br.
Fonte: Radiobras (www.radiobras.gov.br)
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