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ÍNDIOS
XAVANTES DÃO PRAZO PARA RETOMAR RESERVA
OCUPADA POR POSSEIROS
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Agosto de 2004
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02/08/2004 - Os
índios xavante, acampados na BR-158, em Mato
Grosso, deram um prazo até o retorno de duas
crianças – vivas ou mortas – que estão
hospitalizadas em estado grave há uma semana
vítimas de pneumonia e desnutrição,
para entrar na reserva Marãwatsedé,
ocupada por posseiros. Na semana passada morreram
três crianças, uma de um ano e meio
e duas de um ano.
Segundo Edson Beiriz, administrador da Fundação
Nacional do Índio (Funai), em Goiânia,
e coordenador das ações da fundação
junto à comunidade Xavante, os índios
consideram que a doença e morte das crianças
são conseqüência da situação
em que eles vivem há nove meses, quando passaram
a morar em acampamentos na beira da estrada, enquanto
a terra está ocupada por posseiros.
“A cultura deles está totalmente comprometida.
Eles não estão se alimentando com
o que é próprio da sua cultura, da
caça e da pesca. Estão vivendo de
doação de cestas básicas",
informou. O administrador da Funai disse que as
crianças estão expostas a toda sorte
de perigo na estrada, recebendo desde fumaça
de caminhão até hábitos que
fogem àquilo a que estão habituadas.
O ameaça de invasão da reserva se
intensificou no sábado (31/7), quando as
três crianças mortas foram enterradas
na BR, interditada pelos xavante. “Conseguimos negociar
que os índios aguardem até a volta
das crianças. Será o limite para que
eles retornem à terra que pertence a eles”,
disse o administrador.
O conflito entre índios e fazendeiros envolve
uma área de 165 mil hectares. Entre os anos
63 e 66 os índios xavante da área
Marãwatsedé foram deportados em aviões
da FAB para o cerrado
da Bacia do Rio das Mortes. Passaram por diversas
outras aldeias, mas não conseguiram se adaptar
a nenhuma delas. Na operação morreram
90 índios.
Os xavante manifestaram a necessidade de retornar
à área onde nasceram, e um decreto
do então presidente Fernando Henrique Cardoso
reconheceu a área como reserva de usufruto
exclusivo dos índios. Em outubro do ano passado,
eles resolveram retornar às origens, mas
foram impedidos por uma ponte caída e estrada
bloqueada por fazendeiros.
Segundo Beiriz, políticos e fazendeiros da
região estimularam a invasão da área
para impedir o retorno dos indígenas. “São
grandes latifundiários que estão destruindo
a mata, derrubando arvores para plantar soja”. Ocupam
a área cerca de 400 posseiros. Destes, cerca
de 250 são clientes da política de
reforma agrária que esperam pelo direito
de ocupação de uma outra área.
“Com estes aí, os índios já
disseram que convivem até que o governo defina
a área em que devem morar”. O restante, entretanto,
são fazendeiros que se recusam a deixar a
terra.
O juiz da 5ª Vara do Tribunal Regional Federal
da 1ª Região, Francisco de Deus, deu
liminar desaconselhando o retorno dos xavante, para
a segurança deles. Agora o caso está
com o juiz José Pires, que não dá
o seu parecer. “Esta é uma situação
que eu nunca vi em toda a minha história.
Eles estão passando por cima de um decreto
presidencial, estão desobedecendo a uma decisão
superior e a própria constituição”,
diz o administrador da Funai.
O drama dos xavante recebe apoio de diversas instituições,
como o Conselho Indigenista Missionário (CIMI)
e a prelazia de São Félix do Araguaia.
Tanto o bispo de São Félix, dom Pedro
Casaldáliga, como Edson Beiriz, estão
ameaçados de morte. O ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, já ofereceu
apoio e segurança a Dom Casaldáliga,
mas ele recusou. “Até o presidente Lula já
manifestou apoio aos xavante, mas nada pode ser
feito antes que a 5ª Vara do Tribunal Regional
Federal, dê o parecer final”, diz Beiriz.
Fonte: Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Edla Lula