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JUSTIÇA
DO PARÁ PROCESSA GREENPEACE E COMUNITÁRIOS
QUE LUTAM PELA FLORESTA
Panorama
Ambiental
Porto de Moz (PA) – Brasil
Fevereiro de 2004
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Ao mesmo tempo,
governos reunidos na Malásia buscam acordo
para criar rede de áreas protegidas em prol
da biodiversidade do planeta
Governos de vários
países estão reunidos em Kuala Lumpur
(Malásia) para participar da 7ª Conferência
da Convenção das Nações
Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB). Um
dos principais temas da reunião é a
discussão sobre áreas protegidas, o
direito dos povos indígenas e comunidades tradicionais
e o papel da exploração e o comércio
ilegais de madeira na destruição da
biodiversidade. Enquanto isso, o Ministério
Público Estadual do Pará abriu um processo
contra 14 líderes comunitários e o Greenpeace
pelo bloqueio de um rio usado por madeireiros para
escoar madeira ilegal destinada à exportação.
O bloqueio do rio Jaurucu, principal afluente do rio
Xingu na região de Porto de Moz, ocorreu em
setembro de 2002 (1). Na época, cerca de 400
ribeirinhos fecharam o rio de 100 metros de largura
com mais de 50 barcos, para protestar pacificamente
contra a invasão de suas florestas por madeireiras
ilegais, e pedir a criação de uma reserva
extrativista (2) para preservar os recursos naturais
e garantir o direito das comunidades sobre a terra.
O promotor estadual de Justiça Arnaldo Célio
da Costa Azevedo acusa os ribeirinhos e a organização
ambientalista de impedir e dificultar a navegação
pelo rio.
"O promotor estadual de Justiça de Porto
de Moz está totalmente na contramão
da proteção ambiental da Amazônia
e dos interesses da população ribeirinha,
ao abrir um processo contra líderes comunitários
e o Greenpeace, que estão lutando pela criação
da reserva extrativista Verde para Sempre", disse
o coordenador da Campanha da Amazônia do Greenpeace,
Paulo Adário, que participa da reunião
da ONU em Kuala Lumpur. "Em vez de processar
quem está defendendo seus direitos e a Amazônia,
a Justiça do Pará tem de punir madeireiros
e grileiros, que ameaçam líderes comunitários,
roubam o patrimônio público e exploram
madeira de forma ilegal, como está relatado
em um documento da Comissão de Direitos Humanos
da ONU e foi comprovado pelo Ibama".
No final do ano passado, uma operação
do Ibama apreendeu milhares de metros cúbicos
de madeira ilegal na região de Porto de Moz,
além de máquinas e equipamentos usados
pelos madeireiros. Até mesmo o presidente da
Associação das Empresas Exportadoras
de Madeira do Pará, Elias Salame, foi multado
em R$ 3 milhões por ter mais de 20 mil metros
cúbicos de madeira sem documentos no pátio.
A exploração de madeira em larga escala
na região de Porto de Moz começou em
11000, com a redução dos estoques de
tradicionais centros de produção do
leste do Pará, após anos de exploração
intensa e predatória. Hoje, muitas áreas
de floresta já foram exaustivamente exploradas
e, em muitos casos, convertidas em pastos. A Amazônia
Brasileira perdeu 15% de sua cobertura florestal nos
últimos 30 anos. Cerca de 20% das áreas
desmatadas estão totalmente degradadas ou abandonadas.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o secretário
de Biodiversidade e Florestas do Ministério,
João Paulo Capobianco, anunciaram em Kuala
Lumpur um programa nacional para implementar áreas
protegidas no Brasil, de forma a reduzir a perda da
biodiversidade até 2010, conforme compromisso
assumido por líderes de todos os países
reunidos na Conferência Mundial sobre Desenvolvimento
Sustentável, realizada em Joanesburgo em setembro
de 2002. Mais de 30 jovens e crianças de vários
países que participam do projeto do Greenpeace
Jovens pelas Florestas estão em Kuala Lumpur.
Entre eles, dois brasileiros, João Paulo Vieira
Furtado, de 15 anos, e Claudia Pimentel Maciel, de
16, ambos de Porto de Moz (PA). Há dois dias,
eles se reuniram com a ministra Marina Silva para
pedir que o governo brasileiro aja rapidamente para
proteger a Amazônia. Hoje, eles se encontraram
novamente com a ministra e pediram urgência
na criação da reserva extrativista Verde
para Sempre (4).
O processo contra líderes comunitários
e contra o Greenpeace pelo fechamento do rio Jaurucu
está em fase de qualificação
dos réus, ou seja, reunindo depoimentos. Segundo
o depoimento de Cláudio Wilson Barbosa, líder
comunitário e ex-coordenador do Comitê
de Desenvolvimento Sustentável de Porto de
Moz, o Greenpeace participou da manifestação
como convidado e não como organizador do protesto.
"A decisão de organizar o bloqueio foi
coletiva, partiu das comunidades", afirmou. "Na
verdade, a presença do Greenpeace impediu que
uma tragédia muito maior acontecesse, já
que foram eles que desviaram a balsa carregada de
madeira durante a madrugada quando a embarcação
tentou furar o bloqueio, colocando em risco a vida
de vários ribeirinhos (3)".
(1) Em setembro de 2002, cerca de 400 comunitários
bloquearam o rio Jaurucu, principal rota para o contrabando
de toras de madeira ilegal, para protestar contra
a destruição da floresta e pedir a criação
da reserva extrativista Verde para Sempre. Durante
o protesto pacífico, balsas carregadas de toras
ilegais pertencentes ao Grupo Campos, de propriedade
da família do prefeito da cidade, Gérson
Campos, foram detidas e apreendidas. A empresa foi
multada pelo Ibama. Nos dias que se seguiram ao bloqueio,
comunitários, ativistas e jornalistas foram
ameaçados e sofreram ataques físicos
ao desembarcar em Porto de Moz.
(2) Porto de Moz, uma
pequena cidade localizada na margem direita do rio
Xingu, está situada em uma área de oito
milhões de hectares, rica em florestas de terra
firme, igapós e várzeas. Ali, também
vivem 15 mil brasileiros em mais de 60 comunidades
ribeirinhas. A região tornou-se campo de batalha
entre as comunidades ribeirinhas, cuja sobrevivência
depende dos recursos florestais, e empresas madeireiras,
envolvidas na grilagem de terras e ilegalidades na
exploração de madeira. Fazendeiros e
madeireiros invadem áreas de floresta, abrem
estradas ilegais, destroem as florestas e ameaçam
as comunidades tradicionais que habitam a região.
Temendo a perda de suas terras tradicionais e dispostos
a deter a atividade madeireira criminosa, líderes
comunitários criaram um movimento de resistência
em 1999. Desde então, as comunidades lutam
pela criação da reserva extrativista
Verde para Sempre como forma de barrar a destruição
e promover o uso responsável dos recursos florestais
da região. A área proposta para a criação
da reserva tem aproximadamente 1,3 milhão de
hectares. A proposta da criação da reserva
repousa na mesa do presidente do Ibama, Marcus Barros.
(3) No segundo dia
do protesto (20/09), uma balsa contendo 113 toras
de madeira ilegal foi retida pelo bloqueio do rio
determinado pelos moradores da área. A carga
era transportada por André Campos, irmão
do prefeito de Porto de Moz, Gérson Campos.
Depois de tensa negociação, o madeireiro
concordou com a exigência dos comunitários
e parou a balsa às margens do rio bloqueado.
De madrugada, ele soltou as amarras da balsa e avançou
em direção aos pequenos barcos que fechavam
o rio de lado a lado. Um inflável do Greenpeace
conseguiu reter a balsa por tempo suficiente para
que cinco barcos de ribeirinhos que participavam do
bloqueio saíssem da frente. Com facas de cozinha,
mulheres cortaram as cordas que prendiam seus barcos
ao cabo de aço que fechava o rio. Oitenta e
seis pessoas - a maioria crianças, mulheres
e idosos - que estavam nos barcos escaparam de ser
seriamente feridas ou mortas. Irritados com a ruptura
do acordo pelo madeireiro, os ribeirinhos ocuparam
a balsa e o barco que a empurrava rio abaixo.
(4) Saiba mais sobre
o encontro dos jovens de Porto de Moz, João
Paulo Vieira Furtado e Claudia Pimentel Maciel, com
a ministra Marina Silva durante a CDB.
Fonte: Greenpeace-Brasil (www.greenpeace.org.br)
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