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POVOS INDÍGENAS
DE RORAIMA PEDEM AO GOVERNO QUE RESPEITE
SEUS DIREITOS
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Maio de 2004
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O
Conselho Indígena de Roraima (CIR) e outras
organizações indígenas de Roraima
enviaram carta ao Presidente Lula na qual repudiam
a forma como os direitos dos povos e comunidades
indígenas estão sendo tratados pelos
Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo.
Cansados de esperar que o governo federal tome uma
decisão em relação à
homologação contínua da TI
Raposa Serra do Sol, e diante da decisão
da desembargadora federal Selene Maria de Almeida
excluindo 150 quilômetros de faixa de fronteira
da TI, os povos indígenas de Roraima enviaram
carta a Lula, ontem (18/5). Nela, afirmam que responsabilizarão
o Governo Federal e especialmente o Presidente do
Brasil por qualquer atentado contra a vida e os
direitos das comunidades e lideranças indígenas
da TI Raposa Serra do Sol que venha a ocorrer a
partir daquela data. Reproduzimos abaixo a íntegra
da carta:
Carta ao
Presidente Lula
“Somos filhos desta
terra, aqui nascemos, aqui morreremos”
[Aldeia Kaxirimã,
agosto/2003]
Senhor Presidente,
Nós, povos
e comunidades da Terra Indígena Raposa Serra
do Sol, que integram o Conselho Indígena
de Roraima (CIR), a Associação dos
Povos Indígenas de Roraima (APIRR), a Organização
dos Professores Indígenas de Roraima (OPIR)
e a Organização das Mulheres Indígenas
de Roraima (OMIR), perante a grave situação
que envolve nossos direitos territoriais, vimos
manifestar nosso repúdio às ações
que são contrárias a nossa existência
enquanto povos e comunidades.
Somos legítimas e autênticas organizações
dos povos indígenas do estado de Roraima.
Sem vínculos políticos ou religiosos,
defendemos nossos direitos e interesses ao reivindicarmos
a imediata homologação da TI Raposa
Serra do Sol, nos termos da Portaria 820/1998. Nestes
últimos anos trouxemos ao conhecimento público
a gravidade da demora em assinar o decreto homologatório
da nossa terra. No entanto, não tivemos respostas
concretas, pelo contrário, os interesses
particulares foram se sobrepondo aos direitos coletivos
dos nossos povos.
Por isso, responsabilizamos o Governo Federal, em
especial o presidente Luis Inácio Lula da
Silva por qualquer violência contra índios
ou não-índios, que venha ocorrer na
TI Raposa Serra do Sol, conseqüência
da disputa por terra e dos conflitos patrocinados
pela classe política local, fazendeiros,
grileiros de terras da União e índios
por eles “cooptados”.
É sabido por todos que o processo de reconhecimento
legal da TI Raposa Serra do Sol arrasta-se desde
1917 (Lei Estadual do Amazonas Nº 941/1917)
e, apesar de avanços e recuos, teve sua demarcação
consolidada com a assinatura e publicação
da Portaria 820/1998. Puramente para questões
administrativas ou burocráticas, o presidente
da República deve assinar decreto de homologação
da Portaria, simples ato que já leva quase
seis anos sem resposta concreta.
Mesmo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
não tendo assinado a homologação,
o processo da TI Raposa Serra do Sol avançou
no seu governo, principalmente com a edição
da portaria, assinada pelo ex-Ministro da Justiça,
Renan Calheiros. Porém, no governo do presidente
Lula, o que avançou foram as pressões
de setores contrários à homologação
da referida terra.
Por isso, as organizações indígenas,
acima citadas, vêm a público manifestar
repúdio à forma como os direitos indígenas
estão sendo tratados pelas autoridades brasileiras,
sejam dos Poderes Executivo, Judiciário e
Legislativo que não estão agindo de
forma eficaz para que esses direitos sejam efetivados,
mas, ao contrário, criam condições
para que retrocedam, principalmente, os direitos
territoriais, sendo a não homologação
da TI Raposa Serra do Sol, em Roraima, o caso emblemático.
Os Três Poderes deveriam ser instrumentos
legais para garantir a efetividade desses direitos,
mas o que se verifica é exatamente a sua
negação.
Nesse caminho, destacamos as palavras do professor
e jurista Dalmo Dallari que diz: “o índio
brasileiro tem direitos. Direitos definidos na Constituição.
Eu insisto neste ponto, na existência de direitos,
porque tenho ouvido e lido palavras a respeito da
conveniência de respeitar esses direitos.
No momento em que eu abandono a Constituição,
acabou o Direito, acabou a Justiça, acabou
a paz social. Não há inconstitucionalidades
convenientes”.
As demarcações das terras indígenas,
em especial a homologação da TI Raposa
Serra do Sol, ficou vulnerável à pressão
de grupos econômicos e políticos que
se utilizam da violência, de parlamentares
para fazer lobby no Congresso Nacional, da chantagem
e da barganha políticas ao presidente Lula,
e de Ações Judiciais com a intenção
de fazer retroceder a homologação
desta terra indígena.
Durante 14 meses do Governo Federal não teve
nenhuma Liminar da Justiça que de alguma
forma suspendesse os efeitos da Portaria 820/1998,
porém, o presidente Lula apenas assistiu,
ouviu ou nomeou grupos de técnicos para estudar
a homologação de Raposa Serra do Sol.
Com isso deu tempo aos latifundiários e grileiros
de terras da União de organizarem atos violentos,
como os acontecidos em janeiro deste ano no estado
de Roraima, que incluiu o seqüestro de três
pessoas, o bloqueio de rodovias e a invasão
de prédios públicos. Nesse sentido,
o presidente até agora se omitiu da responsabilidade
que lhe compete.
Na única audiência que teve com líderes
indígenas em 16 meses de governo, o presidente
Lula da Silva pediu paciência e disse mais
uma vez que a solução está
próxima e que vai agradar aos índios,
ao estado de Roraima e ao Brasil. Porém,
a paciência dos povos indígenas está
se esgotando, assim como também pode chegar
ao fim a esperança de que o presidente Lula
tenha a coragem de enfrentar as oligarquias antiindígenas
de Roraima e fazer prevalecer a Justiça aos
povos indígenas.
As organizações indígenas de
Roraima, a partir desta data, responsabilizam o
Governo Federal, especialmente o presidente do Brasil,
Luis Inácio Lula da Silva, por qualquer atentado
contra a vida e os direitos das comunidades e lideranças
indígenas da TI Raposa Serra do Sol.
Saudações,
Jacir José
de Souza
Conselho Indígena de Roraima
Firmino Alfredo da Silva
Associação dos Povos Indígenas
de Roraima
Ivete Cruz
Organização das Mulheres Indígenas
de Roraima
Sobral André
Organização dos Professores Indígenas
de Roraima
Boa Vista, 18 de
maio de 2004.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa