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A PROBLEMÁTICA
SOCIOECONÔMICA E AMBIENTAL DA BACIA
DO RIO TAQUARI E PERSPECTIVAS
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Maio de 2004
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A Bacia do Alto
Taquari (BAT), com superfície de 28 mil Km²
está localizada na Bacia do Alto Paraguai
no Centro-Oeste do Brasil. O rio Taquari é
um dos mais importantes afluentes do rio Paraguai,
desempenhando papel de destaque na sócio-economia
da Nhecolândia e Paiaguás, subregiões
criatórias mais populosas de bovinos de corte
do Pantanal.
A rápida expansão da agropecuária
na BAT a partir de meados da década de 70,
desarticulada de zoneamento agropecuário,
acelerou os processos erosivos no planalto e, conseqüentemente,
o assoreamento do Taquari no Pantanal. Em virtude
disso, o padrão das inundações
na planície do baixo curso do Taquari foi
alterado e a pecuária bovina de corte, principal
atividade econômica da região, foi
drasticamente afetada pelo alagamento de uma superfície
aproximada de 11 mil Km².
Nessa área impactada ocorreu redução
de 50% da população bovina de 1970
para 1975. Além disso, as inundações
sucessivas desencadearam profundas alterações
no processo natural de sucessão vegetal.
A fauna regional também está sendo
afetada.
A atividade pecuária ocupava apenas 3,4%
da superfície da BAT em 1977, ampliando para
42,4% em 1991. As pastagens cultivadas da BAT estão
implantadas em áreas de elevada susceptibilidade
à erosão, em Areias Quartzosas, Pódzólico-Vermelho-Amarelo
e Associação Complexa, solos arenosos
e relevo acidentado. Essas áreas compreendem
aproximadamente 70% da superfície da BAT.
Além da elevada taxa de erodibilidade dos
solos, o manejo deficiente das pastagens e a baixa
utilização de práticas de conservação
de solo, estão incrementando as perdas de
solo e a produção de sedimento na
BAT. O aporte de sedimento para o Pantanal, em 1997,
foi estimado em 36 mil ton/dia, o equivalente a
mil carretas por dia.
No período de expansão da agropecuária
na BAT, a taxa de assoreamento na planície
foi 370% maior que no período anterior, evidenciado
pela mudança do padrão da taxa de
assoreamento, de linear entre 1925 e 1975, para
exponencial nos últimos 25 anos. Isso mostra
que a intensificação do assoreamento/inundação
do rio Taquari está fortemente correlacionada
com o crescimento desordenado da agropecuária
na Bacia do Alto Taquari.
A utilização de pesticidas na agropecuária
da BAT é uma das questões que preocupa
a sociedade pelo risco de contaminação
do Pantanal. A perda de biodiversidade e comprometimento
da estrutura dos ecossistemas constituem as principais
ameaças. Os peixes da bacia ainda são
abundantes e diversificados, mas há sinais
evidentes de redução dos estoques
pesqueiros em relação a determinadas
espécies nobres.
Os levantamentos da Embrapa Pantanal evidenciaram
elevada carga de pesticidas (herbicidas, inseticidas
e fungicidas), abrangendo muitos grupos químicos
e diversificados princípios ativos empregados
na agropecuária da BAT. A trifluralina é
o herbicida mais empregado na cultura de soja na
BAT. A literatura evidencia que esse herbicida é
tóxico para algas, mesmo quando ocorre incorporações
ocasionais, e para peixes quando há entrada
contínua do produto no sistema aquático.
Publicação da Embrapa Pantanal também
registrou que, embora não haja evidências
científicas, com base na literatura, há
risco de resíduos ou metabolitos de biocidas,
mesmo em concentrações subletais,
afetarem os ecossistemas aquáticos do rio
Taquari/MS.
Evidências recentes estão nos resultados
obtidos no Plano de Conservação da
Bacia do Alto Paraguai (PCBAP), que constataram
relação entre a qualidade de sedimento
de rios da Bacia do Alto Paraguai e os princípios
ativos cloropirifós, ciclodienos e triazinas.
Esses princípios ativos foram detectados
em níveis elevados no sedimento do rio Taquari
e Negro, em Mato Grosso do Sul, demonstrando que
os resíduos dos biocidas usados na agropecuária
estão efetivamente contaminando os sistemas
aquáticos da Bacia do Rio Taquari.
Muitas dessas informações foram geradas
pelo Projeto de pesquisa “Impactos Ambientais e
Sócio-econômicos na Bacia do rio Taquari”,
coordenado pela Embrapa Pantanal, em parceria com
outras instituições de pesquisa, visando
avaliar os principais impactos ambientais e sócio-econômicos,
gerar informações e tecnologias para
subsidiar diretrizes, políticas, programas,
planos e ações para minimizar os impactos
no planalto e planície.
No planejamento e desenvolvimento do referido projeto
adotou-se modelo conceitual com enfoque holístico,
com atuação de equipe multidisciplinar,
buscado-se as relações de causa (planalto)
x efeito (planície).
Atualmente, outros projetos encontram-se em andamento,
objetivando complementar e ampliar a base científica
para viabilizar o entendimento dos fluxos de energia,
principais interações e seus reflexos
ambientais e sócio-econômicos na bacia.
Nesse contexto pode-se citar o Projeto GEF-Pantanal/Alto
Paraguai (Ana/GEF/Pnuma/OEA) que, em parceria com
os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul,
vem apoiando muitas ações de pesquisa
e desenvolvimento.
Encontra-se também em andamento o projeto
”Sistema de Suporte à Decisão para
o Manejo do Rio Taquari no Pantanal”, liderado pela
Alterra Green World Research, (instituição
holandesa), em parceria com Embrapa Pantanal e outras
instituições nacionais e internacionais.
O projeto objetiva dar suporte técnico para
o desenvolvimento de modelos hidrológicos
de vazão e de sedimentação
para a tomada de decisão no manejo integrado
do rio Taquari e sua área de inundação,
em consonância com a preservação
da biodiversidade do Pantanal.
Bibliografia
Consultada
Marques, D.; Cybis,
L. F. Qualidade das águas e dos sedimentos.
In: Brasil. Ministério do Meio Ambiente,
dos Recursos Hídricos e da Amazônia
Legal. Plano de Conservação da Bacia
do Alto Paraguai (Pantanal) – PCBAP: Diagnóstico
Dos Meios Físicos e Bióticos. Hidrossedimntologia
Do Alto Paragua. Brasília, v. 2, t. 2-b,
p. 387-462 il. 1997.
Mato Grosso Do Sul.
Macrozoneamento de Mato Grosso do Sul quanto ao
uso de agrotóxicos. Mato Grosso do Sul-Sema/Minter.
Campo Grande. 1989.
Oliveira, M. A. G.;
Dores, E. F. G. de C. Níveis de praguicidas
organoclorados no leite materno de uma população
de Cuiabá, Mato-Grosso. Pesticidas. Revista
de Ecotoxicologia e Meio Ambiente. Curitiba. V.
8, p. 77-90. Jan/dez. 1998.
Vieira, L. M.; Galdino,
S.; Padovani, C. R. Utilização de
pesticidas na agropecuária dos municípios
da Bacia do Alto Taquari de 1988 a 1996 e risco
de contaminação do Pantanal, MS, Brasil.
Corumbá: Embrapa Pantanal, 2001. 53p. (Embrapa
Pantanal. Circular Técnica, 27).
Fonte: Radiobras (www.radiobras.gov.br)
(*) Luiz Marques Vieira, (lvieira@cpap.embrapa.br)
é Eng. Agron., MS (Zootecnia), Doutor (Ecologia),
atuando na área de Qualidade Ambiental e
pesquisador da Embrapa Pantanal. Sérgio Galdino
(galdino@cpap.embrapa.br) é Eng. Agron.,
MS, na área de Recursos Hídricos e
pesquisador da Embrapa Pantanal.