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PROPOSTA
DE ENERGIA RENOVÁVEL INCLUI DIÁLOGO
ENTRE GOVERNO E SOCIEDADE CIVIL
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) - Brasil
Maio de 2004
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José
Jorge e Pedro Calado
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A
Secretaria do Meio Ambiente do Estado – SMA,
realizou nesta segunda-feira, (24/05), em
seu auditório o seminário “Diálogo
entre Indústria Governos e Sociedade
Civil para Ampliação do Uso
de Energia Renovável”, que contou com
a participação de representantes
do poder público, do setor privado,
de entidades ambientalistas, do poder legislativo
e do corpo diplomático.
O evento foi promovido pelo FBOMS – Fórum
Brasileiro de ONG’s e Movimentos Sociais para
Desenvolvimento Sustentável e Meio
Ambiente & Coalizão Rios Vivos,
em parceria com a Fundação Heinrich
(HBS), organizado pelas ONG’s Greenpace, Vitae
Civilis e Coalizão Rios Vivos, com
o objetivo de ressaltar a importância
da Conferência Internacional pelas Energias
Renováveis, a se realizar no próximo
dia 4 |
de junho em Bonn,
na Alemanha. Na abertura estiveram presentes o Secretário
Estadual do Meio Ambiente, professor José
Goldemberg, o Secretário Executivo do Ministério
do Meio Ambiente, Cláudio Langone, representando
a ministra Marina Silva; o Secretário Executivo
do Ministério de Minas e Energia, Maurício
Tolmasquin, o embaixador Uwe Kaestner, representante
da Embaixada da Alemanha no Brasil e o Secretário
Executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças
Climáticas, Fabio Feldmann, a quem coube
dar início ao seminário.
Segundo Feldmann, a conferência tem como proposta
preparar o terreno para a expansão global
das energias renováveis, montando uma estratégia
ampla para um futuro energético altamente
eficiente e sustentável. Entre estas estratégias
está a identificação dos chamados
"obstáculos-chave" para o uso ampliado
das energias renováveis, buscando soluções
práticas para a superação das
barreiras existentes. Para o Secretário Executivo
do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas,
a parceria entre sociedade civil e governo garante
ao Brasil uma posição de vanguarda,
ao fazer uma aliança com os grandes setores
da sociedade civil (ONG’s) e se tornar interlocutor
delas. "Na verdade, o governo teve coragem
de assumir uma posição de alto risco
como aconteceu na África do Sul (Johannesburgo),
com a derrota da proposta de aumentar para 10% o
uso das energias renováveis. O mais importante
é que, com esse gesto iniciou uma prática
contemporânea de participação
entre governo sociedade”, salientou Feldmann.
Ele se referia a posição defendida
pelo professor José Goldemberg, que teve
participação destacada na Cúpula
Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável,
a Rio + 10, realizada no semestre de 2002, pela
ONU – Organização das Nações
Unidas na cidade de Johannesburgo, na África
do Sul. Foi de Goldemberg a proposta de aumento
do uso de energias renováveis de 2% para
10% até 2010, tornando-se o principal protagonista
de um embate que reuniu, de um lado países
em desenvolvimento e a União Européia,
com alguns diferenciais como a inclusão de
hidrelétricas como fonte renovável,
e de outro os Estados Unidos, Japão, e os
países do Oriente Médio, produtores
de petróleo que viram ameaçada a sua
principal base econômica.
Apesar da proposta brasileira não ter sido
aprovada, Goldemberg salientou que a resolução
extraída ao final das reuniões reconhece
a importância e a urgência de se adotar
as energias renováveis em todo o planeta,
considerando legítimo que os blocos regionais
de países adotem metas e prazos para implementação
dessas medidas.
“A Conferência de 1992 marcou o desenvolvimento
renovável. Marcou também a participação
brasileira com os países da América
Latina e do Caribe que, por sua vez, adotaram a
nossa proposta. A expectativa agora na Conferência
Mundial sobre Energias Renováveis/Bonn 2004,
é a de que o Banco Mundial aumente para 4%
o índice de energia renovável”, salientou
o Secretário do Meio Ambiente do Estado de
São Paulo.
Posições
Marcelo Furtado,
coordenador de Políticas para América
Latina do Greenpace, acredita que Bonn é
o lugar para se discutir a matriz dos renováveis.
“A grande meta consiste em fortalecer e garantir
que o assunto energia renovável avance na
comunidade internacional para que seja suficientemente
fortalecido". Segundo ele, esta é a
estratégia para influenciar as políticas
públicas energéticas no mundo.
No conceito de Maurício Tolmasquin, secretário
executivo do Ministério de Minas e Energia,
o Brasil começa atender melhor a possibilidade
de utilização de seus recursos energéticos
renováveis para geração de
energia. No seu ponto de vista, o aproveitamento
do recurso solar, eólico, hídrico
e de biomassa, assim como a contribuição
dos créditos de carbono demonstram condicionantes
e oportunidades para alternativas energéticas.
“O potencial técnico inexplorado no setor
sucro-alcoleiro apenas para o bagaço da cana,
não incluindo ponta e palha, constitui importante
dado que reforça a estratégia desses
recursos e possibilita prover serviço de
energia elétrica para parcela da população
mais remota e desassistida".
As perspectivas da indústria de energias
renováveis foram abordadas por Carlos Faria,
diretor da ABRAVA – Associação Brasileira
de Ar-condicionado, Ventilação e Aquecimento,
com destaque para o aquecimento solar, apontada
por ele como uma solução confiável
e disponível em todo o País. Na sua
opinião a utilização da energia
solar para o aquecimento da água nos setores
residenciais, industriais e terciários garantiriam
a segurança e a diversificação
da matriz energética brasileira.
O palestrante citou o “Sol Brasil”, programa de
governo para estimular o uso da energia solar, mas
destacou a necessidade de realização
de pesquisa de mercado, além da definição
de metas a serem alcançadas e os planos de
ação para desenvolver o programa,
que poderia contribuir para reduzir os riscos de
racionamento, como o ocorrido em 2001. O diretor
da ABRAVA baseou seu argumento no fato de 67% da
população usar chuveiro elétrico,
equipamento conhecido por seu alto consumo energético.
Sezifredo Paz, coordenador executivo do IDEC – Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor, enfocou os direitos
do consumidor na produção e consumo
sustentável de energia, incluindo o acesso
aos produtos e serviços básicos, a
informação, a segurança e ao
ressarcimento, no caso do usuário não
ter suas necessidades atendidas. Para o representante
do IDEC uma produção sustentável
eqüivale a novas alternativas de energia renováveis
e limpas, assim como consumo sustentável
implica em evitar o desperdício. Segundo
ele, a universalização ao acesso à
energia deve estar aliada ao combate ao desperdício
e uma das principais armas para isso é a
informação.
As perspectivas para as energias renováveis,
como a eólica e a biomassa foram apresentadas
por Carlos Mathias Martins Jr, representando o setor
industrial e empresarial da Ecoinvest.
Mostrando os instrumentos financeiros disponíveis,
como o PROINFA – Programa de Incentivo às
Fontes Alternativas de Energia Renovável,
marcado pela garantia de financiamento pelo BNDES,
ou do Banco Mundial, com um fluxo estimado de até
US$ 10 milhões/ano para os mercados emergentes
interessados no crédito de carbono, Carlos
Mathias citou os exemplos da Usina de Catanduva,
que utiliza a biomassa e os programas implantados
no Brasil através dos créditos de
carbono, entre eles o Projeto Plantar.
Uwe Kaestner, embaixador da Alemanha no Brasil,
falou sobre as expectativas de seu país com
a Cúpula Mundial de Energia Renovável,
ressaltando a importância desta Conferência
para a discussão das questões envolvendo
a energia renovável. Sua expectativa é
que seja dado o devido enfoque às crises
ambientais e climáticas, como forma de se
evitar catástrofes que já vêm
ocorrendo no mundo, como cidades inundadas por enchentes
gigantescas, destruídas por furacões
ou dizimadas por tornados, através de uma
política ecológico-energética
sustentável.
Segundo ele, o governo alemão espera que
a Conferência de Bonn possa impulsionar a
JREC – Johannesburgo Coalition for Renewable Energy
– a coalizão de mais de 80 países,
formada em Johannesburgo e na Rio +10, que expressaram
compromissos com as energias renováveis.
Uwe Kaestner finalizou a sua apresentação
desejando que os países encontrem um caminho
para que no futuro todos utilizem as energias renováveis.
Ao falar das posições que o Brasil
levará a Bonn, o representante do Itamarati,
Everton Vargas, lembrou que o País tem uma
experiência a mostrar para os outros países,
como o etanol, modelo que hoje é utilizado
no Japão e China. Cristina Montenegro, representante
do Brasil no PNUMA – Programa das Nações
Unidas para Meio Ambiente, por sua vez, encerrou
o seminário abordando a inserção
do tema de energia renovável na Agenda Ambiental
Latino-Americana e Caribenha. Ela apontou planos
e pesquisas feitos no Caribe que mostram que a solução
para os problemas de meio ambiente passa pela utilização
de energias renováveis.
"O Brasil se tornou uma liderança na
ILAC e tem um papel importante nas negociações
de mudança e clima e do Protocolo de Kyoto.
Em outubro de 2003, o governo brasileiro e a CEPAL
– Comissão Econômica para América
Latina e Caribe – organizaram em Brasília,
com o apoio do governo alemão, uma conferência
preparatória das posições latino-americanas
para a Cúpula Mundial de Bonn. Naquela ocasião
foi aprovada a Plataforma de Brasília para
Energias Renováveis".
Perspectivas
As questões
apresentadas no seminário podem subsidiar
propostas a serem apresentadas na Conferência
de Bonn sobre energias renováveis, em junho
próximo O evento, convocado e organizado
pelo governo da Alemanha, buscará reunir
representantes de setores industriais, ONGs, pesquisadores,
governos nacionais e locais, além de organizações
multilaterais e da ONU, para apresentar medidas
e ações concretas para a expansão
da oferta e uso de novas fontes de energia renovável.
A iniciativa da Alemanha busca dar vazão
a esforços de alguns países e setores
sociais e empresariais, que em Johannesburgo e na
Rio + 10 se viram frustados com o boicote às
energias renováveis promovidos pelos países
e setores ligados á produção
de combustíveis fósseis.
Participação
das fontes de energia
Segundo dados de
1998, 80% da energia utilizada no mundo são
combustíveis não renováveis
e, destes, 35% é composto por óleo,
21% por gás 23% pelo carvão. Os 20%
restantes se dividem entre energia nuclear (6,5%),
utilizada principalmente nos países ricos;
energia gerada a partir de hidrelétricas,
que representa aproximadamente 2,2% e os 9,9% restantes
correspondem ao uso da biomassa tradicional, utilizada
na África e produzida por meio de tecnologias
muito primitivas.
As novas energias renováveis são a
biomassa produzida por meio de tecnologias modernas,
como o álcool e a energia eólica,
que hoje representam 2,2% do consumo mundial.
Fonte: SMA – Secretaria Estadual
do Meio Ambiente de São Paulo (www.ambiente.sp.gov.br)
Assessoria de imprensa (Wanda carrilho e Priscilla
Simoni)