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SECRETÁRIO
DIZ QUE PRESSÕES NÃO ABREVIAM
LICENCIAMENTO DO RODOANEL
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Janeiro de 2005
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04/01/2005
O físico José Goldemberg, secretário
estadual do Meio Ambiente de São Paulo, é
o titular da pasta responsável pelo licenciamento
ambiental da alça sul do Rodoanel, obra que
o governo do estado pretende iniciar ainda em 2005.
Após participar do seminário de fim
de ano do Instituto Socioambiental, no qual falou
sobre mudanças climáticas, Goldemberg
- uma das maiores autoridades brasileiras em questões
energéticas e nucleares - concedeu entrevista
à reportagem do ISA sobre a atual etapa do
licenciamento da rodovia. O secretário conta
como lida com as pressões para acelerar o
processo e anuncia a realização de
novas Audiências Públicas.
ISA - Qual é
o balanço que o senhor faz em relação
ao processo de licenciamento do trecho sul do Rodoanel?
José Goldemberg - É importante dizer
que o Rodoanel é um empreendimento extremamente
complexo e por isso seu licenciamento tem um rito
que envolve uma grande participação
da sociedade e dos órgãos técnicos
da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA). Até
o momento, fizemos três Audiências Públicas
em cada um dos municípios envolvidos, com
a participação de cerca de duas mil
pessoas, nas quais centenas de manifestações
foram feitas. Essas observações serão
absorvidas e digeridas pelos responsáveis
pelo licenciamento e é por essa razão
que dei um prazo adicional para novos comentários.
A SMA vai complementar os Termos de Referência
feitos para o empreendedor, o Dersa (Desenvolvimento
Rodoviário S.A.), com eventuais observações
interessantes surgidas na consulta popular, bem
como apresentar novos quesitos ao empreendedor.
A pressa do Dersa
em levar a obra à cabo e os cuidados tomados
pela SMA geram um impasse dentro do governo estadual?
Do ponto de vista da SMA, o rito de licenciamento
será cumprido. Este rito exige prazos e eu
não me sinto pressionado. Mas o Dersa, como
todo empreendedor que vai à nossa secretaria,
quer a obra para amanhã. Isso não
existe. Nós estamos fazendo um estudo acurado,
recebendo contribuições de diversos
setores, e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e Recursos Naturais Renováveis)
também tem observações a fazer.
Como será
a participação do Ibama, até
agora excluído do processo de licenciamento?
Há uma negociação em curso
com os procuradores da República e os promotores
estaduais pela qual o Ibama entrará no processo
de licenciamento que esta sendo conduzido. E inclusive
novas Audiências Públicas deverão
ocorrer para que o órgão federal trate
das questões de seu especial interesse. O
Ibama quer avaliar o impacto da obra sobre o cinturão
da biosfera da Região Metropolitana de São
Paulo, um problema com uma população
indígena que habita área na região
incluída no traçado do anel, e a questão
do adensamento populacional provocado pela rodovia.
Sobre este tema,
os novos Termos de Referência deverão
reavaliar os cálculos que minimizam o efeito
de ocupação sobre os mananciais, assim
como incluir dados sobre os impactos causados pela
alça oeste do anel viário?
Estes temas devem ser abordados com muito cuidado
e acabarão complementando o Termo de Referência.
O adensamento populacional provocado pela obra é
uma questão técnica que está
sendo estudada e é, sem dúvida, muito
controversa. Inclusive o Seade (Fundação
Sistema Estadual de Análise de Dados, centro
de pesquisa vinculado à Secretaria de Economia
e Planejamento do estado de São Paulo) foi
envolvido neste trabalho pois todas as questões
deverão ser respondidas de forma satisfatória.
A resposta dada pelo Dersa leva em conta certos
fatores, mas as Audiências Públicas
levantaram novas questões que deverão
ser abordadas. Sobre a alça oeste, quero
dizer que quando a obra foi licenciada nós
impusemos ao empreendedor 107 medidas corretivas,
das quais 104 foram cumpridas. De modo que a pressão
da secretaria é eficiente, pode crer.
O Rodoanel é
uma das principais obras do governador Geraldo Alckmin,
possível candidato à Presidência
da República em 2006. Também é
um dos símbolos pretendidos para provar a
eficácia das Parcerias Público-Privadas.
Como estes fatores políticos interferem no
licenciamento da obra?
Todo mundo sabe que a apresentação
de um Estudo e Relatório de Impacto Ambiental
(Eia-Rima) tem um tempo de maturação
de alguns meses e eu tenho acelerado muito a expedição
de licenças para obras. Antigamente um Eia/Rima
levava 400 dias para ser concluído, atualmente
leva 4 ou 5 meses. Portanto não há
exatamente um atraso no processo. O licenciamento
está em um ritmo normal e dentro do previsto.
Deste modo, não há motivos para grandes
aflições ou pressões.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Bruno Weis)