|
BIRD NUNCA ANALISOU O ATUAL
PROJETO DE INTEGRAÇÃO DE BACIAS,
QUE PASSOU POR MUDANÇAS ESSENCIAIS
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Fevereiro de 2005
|
|
O formato atual
do Projeto de Integração do Rio São
Francisco com as Bacias Hidrográficas do
Nordeste Setentrional (Projeto São Francisco)
nunca foi submetido ao Banco Mundial (BIRD) e, portanto,
não poderia ter sido rejeitado por aquele
banco internacional de fomento, ao contrário
do que afirmaram hoje reportagens publicadas no
Correio Braziliense e no Estado de Minas. Os dois
jornais publicaram ressalvas do BIRD, datadas de
março de 2001, ao projeto elaborado no governo
anterior, cuja concepção e manejo
operacional foram substancialmente mudados na atual
gestão. Também não é
verdade que o BIRD tenha vetado a obra, como afirma
o texto, porque isso afetaria a autonomia soberana
do país.
Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva assumiu, o projeto de integração
de bacias passou por mudanças essenciais,
resultado de um processo de amadurecimento e negociação
conduzido pelo vice-presidente da República,
José Alencar (e atual ministro da Defesa),
a pedido do Presidente da República. Na chefia
de um Grupo de Trabalho Interministerial, constituído
por decreto presidencial em junho de 2003 e composto
por 11 ministérios e diversos órgãos
federais, Alencar visitou toda a bacia hidrográfica
do São Francisco e o semi-árido setentrional.
Adequação
operacional
Durante vários
meses de 2003 e começo de 2004, José
Alencar e os ministros Ciro Gomes, da Integração
Nacional, e Marina Silva, do Meio Ambiente, lideraram
negociações com o Comitê da
Bacia Hidrográfica do São Francisco,
Ministério Público, Governos Estaduais,
Prefeituras, Organizações Não
Governamentais, usuários de água e
os diversos setores da sociedade. Também
foram feitas sessões especiais no Senado
e na Câmara dos Deputados, recolhendo subsídios
que permitiram a melhoria operacional da integração
de bacias.
As sugestões, comentários e colaborações
técnicas serviram para adequar o projeto
às condições hidrológicas
do São Francisco e às necessidades
mínimas das bacias receptoras. Foram avaliadas
as diferentes propostas existentes e a conclusão
foi a de que os eixos Norte e Leste, assim como
a revitalização do rio, são
ações prioritárias para o Governo.
O Ministério da Integração
Nacional foi encarregado de realizar os estudos
complementares e de refazer o manejo operacional
do projeto que tinha sido deixado pelo governo anterior.
O governo também patrocinou a elaboração
do Plano Decenal da Bacia do São Francisco,
a pedido do Comitê da Bacia, fazendo pela
primeira vez o balanço hídrico do
rio.
Respostas seguras
O Governo suspendeu,
a pedido do Comitê de Bacia, toda e qualquer
tramitação do projeto, para buscar
respostas seguras para essa questão, no ambiente
de um plano para a Bacia do São Francisco
que, na verdade, não existia. Falou-se, ao
longo de toda história, em transpor águas
do rio, mas não havia um plano para o São
Francisco que considerasse questões graves,
sensíveis, que vão desde a revitalização
até a questão do desequilíbrio
hídrico na beira do rio.
Embora o projeto de engenharia seja basicamente
o mesmo, a mudança de concepção
operacional deu características próprias
ao atual projeto. Veja as principais diferenças
entre um e outro:
· No projeto
do governo anterior, a vazão captada era
de 65 m3/s médios em bombeamento contínuo,
para múltiplos usos; no atual projeto, a
vazão captada continuamente (21 horas por
dia) caiu para quase a metade (26 m3/s), apenas
para consumo humano.
· Água
para múltiplos usos será captada até
atingir a média total de 63 m3/s somente
quando a barragem de Sobradinho estiver vertendo.
· O projeto
elaborado pelo governo anterior em 2000 não
previa a revitalização do Rio São
Francisco; o projeto atual, não só
prevê a revitalização do rio,
como o Governo tornou-a prioritária e as
ações já foram iniciadas, com
recursos garantidos no orçamento de 2004
(já executado), 2005 (em execução)
e no Plano Plurianual (2004-2007) no valor total
de R$ 1,2 bilhão.
· O atual
projeto de integração de bacias leva
em conta a necessidade de manejo integrado dos açudes
do Nordeste, visando obter a sinergia hídrica,
o que permite a redução das perdas
por evaporação e transbordamento,
além do uso produtivo das águas armazenadas
nos anos hidrologicamente favoráveis.
· O projeto
de 2000 não previa a reforma agrária
na margem dos 622 km de canais; o projeto atual
destina, por decreto do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, 310 mil hectares de terra dos dois
lados dos canais (2,5 km de cada lado) para projetos
de assentamento fundiário. Cinqüenta
mil hectares já foram identificados pelo
Incra como excelentes para a agricultura e serão
usados em programas voltados para a agricultura
irrigada. Os demais serão usados em outros
tipos de ocupação produtiva, dependendo
da geologia e da vocação econômica
adjacentes. O Ministério do Desenvolvimento
Agrário e o Incra já fizeram todos
os levantamentos fundiários necessários
para os reassentamentos e a titulação
das terras.
· O projeto
de 2000 não contava com uma rede de distribuição
de água para o consumo humano em centros
urbanos tão capilar como a que existe hoje.
Os Estados do Ceará e Rio Grande do Norte,
com o apoio do Governo Federal, investiram maciçamente
em redes de adutoras e canais para distribuir a
água. Os Estados da Paraíba e Pernambuco
também estão fazendo investimentos
em distribuição, embora em ritmo menor.
O investimento no Rio Grande do Norte foi tão
significativo que o Estado recebeu, em 2002, o prêmio
Príncipe das Astúrias, concedido pela
Espanha, por ter construído uma grande rede
de distribuição de água.
Outra crítica
improcedente contida nas reportagens dos dois jornais
refere-se ao uso das fontes de água já
existentes. Os levantamentos feitos pela Agência
Nacional de Águas (ANA) e pelo Ministério
da Integração Nacional mostram que
as atuais fontes de água no semi-árido
setentrional estão no seu limite de utilização,
não permitindo o desenvolvimento sustentável
da população. Na quase totalidade
do semi-árido setentrional, a disponibilidade
de água é inferior a 500 m3/hab/ano,
número que sequer chega à metade do
mínimo aceito internacionalmente, que é
de 1.000 m3/hab/ano. Os padrões recomendados
pela Organização das Nações
Unidas são até superiores a essa quantidade
de água.
O semi-árido está geologicamente assentado
num substrato cristalino (rochoso), que não
armazena água, a não ser em locais
restritos ou em falhas geológicas. Nem sempre,
porém, a qualidade dessa água é
adequada para o consumo humano ou mesmo para a irrigação.
Sinergia hídrica
É essa conformação
geológica que também dá a característica
de intermitência aos rios da região,
já que não se forma lençol
freático para alimentar os cursos de água.
Terminado o período de chuvas, os rios secam.
O semi-árido só tem rios intermitentes.
Todos os grandes açudes viáveis já
foram construídos. Não há mais
como investir em açudagem, que, sem manejo
integrado com uma fonte perene de água, só
tende a aumentar as perdas por evaporação
e transbordamento.
Apenas 25% da água represada pode ser de
fato usada, porque a evaporação consome
a metade e outros 25% se perdem no vertimento. Por
isso, os açudes do Nordeste ficam sempre
completamente cheios, à espera de uma seca,
e suas águas não podem ser usadas
para atividades produtivas, mesmo nos anos em que
há chuvas regulares. Com a integração
de bacias garantindo a água para os anos
de seca, a água dos açudes poderá
ser usada para produzir alimentos, gerando empregos
e renda, o que diminuirá a lâmina d’água
e, com isso, a perda pela evaporação.
Quando vier a chuva, o açude não estará
cheio e represará quase toda a água,
não desperdiçando por transbordamento.
A esse manejo integrado do São Francisco
com os açudes os técnicos chamam de
sinergia hídrica.
Situação
pode piorar
Todas essas questões
foram exaustivamente abordadas pelos Estudos de
Impacto Ambiental (EIA), elaborados por 40 cientistas
e técnicos, e resumidos, em linguagem acessível
a qualquer pessoa, no Relatório de Impacto
ao Meio Ambiente (RIMA), disponível ao público
desde agosto de 2004, inclusive pela Internet (http://www.mi.gov.br/saofrancisco).
O RIMA foi entregue também pelo Ministério
da Integração Nacional ao Ministério
Público (federal e estadual) e às
entidades envolvidas na questão.
O RIMA é absolutamente claro em relação
à disponibilidade de água no semi-árido
setentrional. "Sem ele (o projeto de integração
de bacias), não se vislumbra uma solução
para o abastecimento regular de água",
diz o documento elaborado pelos cientistas, que
prevêem o agravamento da situação
com o crescimento vegetativo da população
e as novas demandas geradas pela necessidade de
desenvolvimento.
Apontando o São Francisco como a fonte de
água mais próxima e de aproveitamento
mais barato, o RIMA afirma que se não for
feita a integração de bacias vão
surgir outros graves perturbações
na região, até 2025: aumento indesejado
do índice de urbanização, com
êxodo rural causado pela escassez de água;
migração de mais de um milhão
de habitantes das áreas rurais; aumento das
situações de emergência das
secas, que afetam em média 1,16 milhão
de habitantes a cada ano; e aumento da incidência
de doenças associadas à escassez de
água, entre outras.
Elevação
do PIB
A escassez de água
é o mais significativo obstáculo ao
desenvolvimento econômico e social dessa região
e a causa do empobrecimento do Nordeste, em relação
às demais regiões. Estudos estimam
que a integração de bacias, por si
só, tem condições de elevar
em 7% o Produto Interno Bruto dos Estados de Pernambuco,
Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.
Não existe nenhuma outra obra federal com
tão positivo impacto econômico.
O objetivo do Projeto São Francisco é
captar 26 m³/s das águas do Velho Chico,
ou 1% do rio despeja no mar, para abastecer as bacias
dos rios Jaguaribe (CE), Apodi (RN), Piranhas-Açu
(PB e RN), Paraíba (PB), Moxotó (PE)
e Brígida (PE). Essas águas serão
usadas para o abastecimento humano e dessedentação
animal e, somente nos anos hidrologicamente favoráveis,
para o desenvolvimento de atividades econômicas.
Para isso, o empreendimento prevê a construção
de dois canais - o Leste levará água
para Pernambuco e Paraíba, e o Norte, já
denominado de Celso Furtado pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, atenderá aos
estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande
do Norte. As captações serão
feitas em dois pontos: em Cabrobó e no lago
da barragem de Itaparica, ambos abaixo da barragem
de Sobradinho.
Fonte:Ministério da Integração
(www.integracao.gov.br)
Assessoria de imprensa