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PROFESSOR
DA USP DEFENDE A PRESENÇA DO ESTADO
PARA DIMINUIR CONFLITOS DE TERRAS NO PARÁ
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Fevereiro de 2005
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17/02/2005 – O Pará
concentra o maior número de conflitos pela
posse de terra no país. Segundo estado brasileiro
em superfície territorial - com 124 milhões
de hectares, dos quais 31 milhões são
terras públicas –, ocorreram nessa região
mais da metade dos três mil assassinatos no
campo estimados no país, sempre envolvendo
fazendeiros e posseiros de um lado e do outro colonos
ou assentados. Diante desse quadro, a principal
medida para reduzir a violência no campo é
garantir a presença do Estado na região.
A avaliação é do geógrafo
Ariovaldo Umbelino de Oliveira, professor titular
da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Sociais da Universidade de São Paulo (USP),
especialista no tema e autor do livro A Geografia
das Lutas no Campo.
Ariovaldo explica que no município de Anapu
(PA) - local onde a missionária norte-americana
Dorothy Stang foi assassinada com seis tiros no
último sábado (12) - a maior parte
das propriedades foi ocupada indevidamente por grileiros.
Dos 1 milhão e 189 mil hectares do município,
existem 1 milhão e 29 mil hectares de terras
devolutas no município.
"Há no imaginário das pessoas
e, muitas vezes, da mídia brasileira, um
falso conceito de que terra devoluta é terra
de ninguém. Vem daí a impressão
de ser este um espaço disponível para
qualquer um chegar e dele se apropriar", diz
o professor. Ele esclarece, no entanto, que legalmente
"as terras devolutas são parte das terras
públicas que ainda não sofreram o
processo de ação discriminatória
para o registro no cartório de imóveis".
O professor afirma que a Constituição
de 1988 destinou as terras devolutas ao Plano Nacional
de Reforma Agrária. Cerca de um quarto do
território nacional, ou seja, 200 milhões
de hectares, são terras públicas.
Ao tratar da ocupação na Amazônia,
o professor cita o decreto-lei de 1971 que também
transferiu para a União uma faixa de 200
quilômetros ao longo das rodovias Transamazônica
e Cuiabá-Santarém. Segundo ele, mais
de 60 milhões de hectares da região
pertencem ao Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra).
Para o professor, além da grande concentração
fundiária, a ausência do Estado torna
a situação da Amazônia ainda
mais grave. "A violência no campo e,
particularmente no estado do Pará, só
cessará quando o Estado se fizer presente.
Em muitos municípios, a elite local, derivada
de pessoas que usaram dessas ações
ilegais para obter terra, é que ditam as
leis, quando elas próprias descumprem a legislação".
Nesse sentido, ele diz que foi "extremamente
acertada a decisão do governo Lula de ter
encaminhado para aquela região os contingentes
do Exército brasileiro". Na opinião
do professor, os grileiros só respeitam as
Forças Armadas e são autores de "um
processo insano porque roubam vidas de seres humanos
apenas para se tornarem na marra grandes proprietários
de terras".
Para evitar mais conflitos no campo, Ariovaldo destaca
ainda a necessidade de promover a regularização
fundiária na região, com a retomada
de controle do governo sobre as terras públicas.
Fonte: Agência Brasil -
Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Marli Moreira