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PROTOCOLO
DE KYOTO ENTRA EM VIGOR
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Fevereiro de 2005
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16/02/2005 O maior
tratado ambiental do planeta começa a valer
a partir desta quarta-feira, 16 de fevereiro, e
é o primeiro passo para que o investimento
em tecnologias limpas seja priorizado pelos países
industrializados e para a redução
na emissão de gases que provocam o efeito
estufa.
Entra hoje em vigor o mais esperado tratado internacional
sobre o meio ambiente: o Protocolo de Kyoto. O objetivo
inicial do acordo é o de que os países
industrializados signatários reduzam, até
2012, a emissão de gases de efeito estufa
em pelo menos 5,2% em relação aos
níveis aferidos em 11000. A redução
seria o primeiro passo para a diminuição
do efeito estufa na atmosfera e para o combate ao
aquecimento global. Os países em desenvolvimento,
como o Brasil, terão suas metas discutidas
a partir de hoje e implementadas após 2013.
O Protocolo, assinado por 141 países, enfrentou
forte resistência à sua ratificação
desde que foi criado em 1997, em uma das reuniões
da Convenção sobre Mudança
Climática, realizada em Kyoto, no Japão.
Seu maior opositor, os Estados Unidos, assinou,
mas não ratificou. Trata-se justamente do
responsável pela emissão de 25% dos
gases de efeito estufa lançados na atmosfera.
A validação do Protocolo dependia
da ratificação do documento por pelo
menos 55 nações, incluindo os países
industrializados que respondiam por 55% das emissões
de carbono em 11000. Isso só ocorreu no ano
passado quando a Rússia, segunda colocada
no ranking dos que mais poluem, pressionada pela
União Européia, ratificou o tratado.
Ainda assim, de acordo com especialistas em mudanças
climáticas, as metas estabelecidas estão
aquém das necessárias para um impacto
real sobre a instabilidade climática.
A entrada em vigor do Protocolo, contudo, abre uma
nova etapa para o desenvolvimento de tecnologias
limpas e uma agenda definitiva para que o aquecimento
global e demais mudanças climáticas
entrem de vez na pauta das negociações
internacionais. "Sua importância é
essencialmente política", avalia Marcio
Santilli, do Instituto Socioambiental. "Encerra
uma etapa marcada pela ausência de regras
e inicia uma nova fase, com metas e desafios claros".
A União Européia lidera o movimento
que deve, nos próximos anos, sobretaxar a
compra de produtos feitos a partir da queima de
combustíveis fósseis, como petróleo
e carvão. A tendência é que
esse movimento leve os países signatários
do Protocolo a substituir gradualmente suas matrizes
energéticas por outras baseadas em tecnologias
não-poluentes. Estima-se que os custos para
que as metas estabelecidas pelo tratado sejam atingidas
sejam da ordem de 150 bilhões de dólares
por ano.
Marcio Santilli lembra que o acordo tem seus calcanhares-de-aquiles
na ausência dos Estados Unidos, no baixo alcance
das metas firmadas e também na não
participação dos países em
desenvolvimento, muitos deles classificados entre
os maiores emissores atuais, caso da China, Índia
e Brasil. "Nenhuma tendência de aquecimento
global será revertida, mas o acordo funciona
como um exercício preliminar de controle
de poluentes importantíssimo", afirma.
Leia o Protocolo de Kyoto na íntegra.
Brasil contribui
com desmatamentos e queimadas
O Brasil ratificou
o Protocolo em junho de 2002 e é o responsável
pela inclusão no documento do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL), iniciativa que permite
que os países industrializados possam comprar
reduções certificadas de emissões
de gases de efeito estufa de nações
em desenvolvimento e financiar projetos que permitam
estes países crescer de forma sustentável.
Esse mecanismo permite que um país, ao evitar
a emissão de gases poluentes num lugar, possa
liberá-la em outro. Já estão
sendo executados mais de 20 projetos desse tipo
no Brasil e muitas empresas acreditam que nos próximos
anos seus lucros sejam multiplicados com base no
MDL.
O Brasil tem uma situação singular
em relação aos demais grandes poluidores
do planeta. Enquanto a maioria dos países
emite gases de efeito estufa a partir da queima
de combustíveis fósseis, o Brasil
colabora para o aquecimento global principalmente
com o desmatamento de suas florestas e por meio
de queimadas. Estes processos respondem por 70%
das emissões do País, de acordo com
o inventário de gases poluentes produzido
há dez anos. É o último levantamento
acerca do tema.
Nas negociações internacionais para
a construção do acordo, o Brasil se
destacou ao cobrar compromissos e metas dos países
desenvolvidos. A atitude assertiva, porém,
muda quando a discussão se volta para a questão
do desflorestamento. “Mas não será
possível jogar esse passivo para debaixo
do tapete para sempre”, diz Marcio Santilli. “Se
não equacionar de forma satisfatória
a questão do desmatamento, o Brasil será
visto como um dos grandes vilões da história”.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa