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JORGE VIANNA: POLÍTICAS
PARA AMAZÔNIA TÊM QUE RESPEITAR
PECULIARIDADES DE CADA REGIÃO
Panorama
Ambiental
Curitiba (PR) – Brasil
Fevereiro de 2005
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19/02/2005 - Para
o governador do Acre, Jorge Viana, é fundamental
que um projeto de desenvolvimento sustentável
para a Amazônia leve em conta as peculiaridades
de cada região. Em entrevista à NBr,
canal do Poder Executivo, Viana disse que não
se pode ter medo de ousar e fazer, por exemplo,
o manejo sustentável da floresta, assim como
pensar cada estado como uma realidade diferente.
"O governo do presidente Lula está com
uma proposta muito concreta, que é o programa
de criar florestas públicas. A Amazônia
tem que ser mais bem apreciada pelo Brasil".
Leia a seguir os
principais trechos da entrevista:
ABr - A grilagem de terra e a falta de conclusão
da reforma agrária têm sido fatores
que contribuem para esses conflitos nessas terras.
Quais são as políticas adotadas ou
o que o senhor vai sugerir ao governo federal para
que mude essa situação do Pará?
Jorge Viana - Eu, como governador de um estado da
Amazônia, não posso me esquivar de
dar palpite no estado do Pará. Acho que é
legítimo e minha obrigação
pensar na Amazônia. A primeira coisa que nós
temos que entender é que a Amazônia
tem realidades completamente diferentes dentro do
mesmo estado e uma diferença muito grande
de um estado para o outro. A realidade que eu vi
no Pará muda dentro do próprio estado
de uma região do sul para aquela região
que se chama Terra do Meio, perto de Altamira. O
que nós precisamos, para ter uma solução
definitiva, é ter uma idéia de um
projeto de desenvolvimento sustentável para
a Amazônia que leve em conta essas diferenças,
que leve em conta que no Pará o módulo
agrário tem que ser diferente daquele do
Acre, que tem que ser bem diferente do sul do país.
Aqui 25 hectares são suficientes para uma
família trabalhar e produzir. Se nós
quisermos pôr uma família para trabalhar
lá no sul do Pará, o módulo
talvez tenha que ser de 500 hectares ou até
de mil hectares para o conjunto de uma comunidade
trabalhar. Para que não tenhamos aquela ocupação
burra de que faz o assentamento do Incra na Amazônia,
como aconteceu nos últimos 30 anos, no qual
as pessoas vão derrubando um pedaço
de floresta a cada ano, não se viabilizam
economicamente e a propriedade tem que ser vendida
depois de um certo tempo.
Eu acho que a experiência que nós vivemos
no Acre serve de referência para que outros
estados possam buscar a paz fortalecendo a pequena
produção, fortalecendo a população
tradicional e criando um diálogo com a atividade
industrial, porque nós não podemos
excluir o setor industrial. Hoje, o que acontece
com regiões como essa que eu visitei no Pará
é que não há ninguém
fazendo a mediação e há a ausência
de algumas instituições que precisam
estar mais presentes. O pessoal reclama muito do
governo do estado e cobra uma atenção
mais forte ainda por parte do governo federal. Essa
presença do governo federal é que
resultou na reação de bandidos, porque
foram bandidos que fizeram isso com a irmã
Dorothy [missionária norte-americana assassinada
no dia 12, em Anapu (PA)], pessoas que estão
interessadas na grilagem. Lá, eu pude ver
que talvez nem sejam fazendeiros que têm conflitos
com fazendeiros e nem madeireiros que têm
conflitos com madeireiros, mas pessoas que estão
praticando grilagem de terra à luz do dia
e que, por isso, mandaram matar a irmã.
Quando eu voltei do Pará, eu tive uma reunião
com o vice-presidente, José Alencar, com
o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), com a senadora
Ana Júlia (PT-PA), com os deputados federais
que atuam na CPI da Terra e nós demos um
alarme. Primeiro, proteger a vida de três
pessoas: do Chiquinho, que é o presidente
do sindicato, da pessoa que é testemunha
e de um outro ameaçado. Segundo, colocar
o Exército e a Polícia Federal mais
forte do que já se está pondo e, em
terceiro, levar adiante aquilo que são as
demandas, aquilo que era o pedido da irmã
e que também é o pedido da comunidade.
O presidente Lula me falou que, no começo
desse ano, recebeu uma carta da irmã Dorothy
cumprimentando-o e agradecendo-o pelo que o governo
federal está fazendo na região. Ele
ficou muito sentido com essa morte, mas eu tenho
certeza de que ele vai fazer um trabalho muito forte
para que esse assassinato não fique apenas
como mais uma morte que vai constar como resultado
de conflitos agrários.
ABr - Que tipo de
políticas públicas o senhor acha que
devem ser adotadas em relação ao problema?
O governo federal já trabalha com a questão
da reforma agrária, de combate à grilagem
de terras.
Viana - Há situações em que
é preciso agir com a polícia, num
primeiro momento. Mas a solução é
outra. Por exemplo, a Amazônia tem que ser
melhor apreciada pelo Brasil. O presidente Lula
conhece a Amazônia na palma da mão.
A Amazônia é a maior riqueza que nós
temos. Agora mesmo, o governo federal, através
do ministério do Meio Ambiente, apresenta
um projeto de florestas públicas, que não
é alugar florestas e nem arrendá-las.
É fazer com que a economia e assentamentos
levem em conta a floresta e não repetir os
erros do passado de fazer assentamentos, onde a
primeira coisa que acontece é as pessoas
que são assentadas retirarem a floresta.
Na hora em que se assina o protocolo de Quioto,
não podemos continuar queimando a nossa maior
riqueza na Amazônia, que é a floresta.
Agora, também temos que romper com dogmas.
Não termos medo de ousar, por exemplo, de
fazer o manejo sustentável da floresta, de
pensar cada estado como uma realidade diferente.
Eu sou otimista. Que essa morte agora, que esse
conjunto de mortes, sirva para pôr na ordem
de prioridade a Amazônia, que é uma
solução sustentável para nossos
problemas.
ABr - O senhor acha
que falta um pouco de organização
nas terras do Amazonas para que os industriais sejam
beneficiados, mas também para que não
haja devastação?
Viana - Primeiro, nós temos que reconhecer
que, nos últimos 30 anos, houve uma sucessão
de erros e equívocos por parte das políticas
públicas, principalmente do governo federal.
O governo do presidente Lula começa a inverter
isso. Temos raras exceções que foram
frutos de conflitos dos movimentos sociais. O governo
do presidente Lula e o próprio ministério
do Meio Ambiente está com uma proposta muito
concreta, que é o programa de criar florestas
públicas. Eu acredito que a maneira mais
eficiente de defender o meio ambiente, de acabar
com a grilagem de terra da Amazônia e de ter
uma atividade econômica sustentável
na Amazônia é encontrarmos uma maneira
de explorar a riqueza da floresta de forma sustentável,
como, aliás, estamos tentando fazer no Acre.
A ministra Marina Silva (Meio Ambiente) elaborou
um projeto inspirado no que nós estamos fazendo
no Acre, agregado com outros conhecimentos que estão
sendo feitos em outros países, para que possamos
iniciar um programa de concessões de manejo
florestal sustentável na Amazônia e,
com isso, combater o desmatamento e a grilagem de
terra e criar uma atividade econômica sustentável.
Eu ponho muita fé nesse projeto, que vai
chegar ao Congresso nos próximos dias.
Colaborou Juliana Andrade
Fonte: Agência Brasil - Radiobras
(www.radiobras.gov.br)
Érica Santana