|
PASSIVOS AMBIENTAIS CONDICIONAM
FUTURO DO RODOANEL, QUE TERÁ LICENCIAMENTO
REVISTO
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Fevereiro de 2005
|
|
25/02/2005 Acordo
determina que Ibama participe do licenciamento ambiental
da alça sul e obriga Dersa a resolver passivos
ambientais do trecho oeste antes de ampliar o anel
viário. A poluição sonora na
região também motivou sentença
que determina a construção de muros
anti-ruídos ao longo da rodovia.
O futuro do Rodoanel, anel viário planejado
para circundar a Região Metropolitana de
São Paulo (RMSP), depende da resolução
de problemas em seu passado. Nos próximos
dias deverá ser homologado um acordo judicial
entre o governo do estado de São Paulo e
o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) que determina
a participação do órgão
federal no licenciamento ambiental da alça
sul da rodovia e implica na revisão de todo
o processo. O acordo também obriga a empresa
Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa),
responsável pela obra, a sanar todos os passivos
ambientais da alça oeste da rodovia, inaugurada
em 2002. A eliminação dos passivos
é condição obrigatória
para que a alça sul do anel viário
comece a ser construída.
O acordo judicial deverá ser homologado nos
próximos dias pela desembargadora federal
Consuelo Yoshida, do Tribunal Regional Federal da
3º Região. O documento tem valor de
sentença e extingue a Ação
Civil Pública, movida pelo Ministério
Público Federal, que exigia um duplo licenciamento
– um pela Secretaria do Meio Ambiente de São
Paulo (SMA) e outro pelo Ibama - e ameaçava
anular todas as etapas realizadas no processo até
agora. No documento, ficou acertado que um único
licenciamento será conduzido em conjunto
pela SMA e pelo Ibama. “É a primeira vez,
na história do licenciamento ambiental no
Brasil, que dois órgãos participarão
ativamente de um mesmo processo”, afirma a procuradora
federal Ana Cristina Bandeira Lins.
Novas Audiências
O principal papel
do Ibama no licenciamento ambiental da alça
sul do anel viário será o de dimensionar
os efeitos e impactos da construção
e operação da rodovia sobre a Reserva
da Biosfera do Cinturão Verde da cidade de
São Paulo, sobre a Mata Atlântica da
região e sobre as Terras Indígenas
Barragem e Krukutu, do povo Guarani, localizadas
no extremo sul da capital paulista. A participação
do Ibama também valerá para os licenciamentos
ambientais dos demais trechos da rodovia (alças
norte e leste).
O acordo prevê também a emissão,
por parte do Ibama, de parecer técnico vinculativo
à secretaria antes da concessão das
licenças de instalação e operação
do trecho sul. Para isso, os técnicos federais
deverão avaliar o Termo de Referência
(TR) produzido pela SMA. Essa avaliação
deverá afetar o Estudo de Impacto Ambiental
(EIA) do trecho sul realizado pela Dersa. Os novos
estudos deverão aprofundar questões
polêmicas que ensejaram, no ano passado, diversas
manifestações da sociedade civil.
Uma delas é o cálculo matemático
apresentado pela Secretaria Estadual de Transportes,
que minimiza a importância da alça
sul da rodovia como indutor de ocupação
urbana na região de mananciais das represas
Billings e Guarapiranga.
A produção do novo TR deverá
contar com a participação de técnicos
do governo estadual e de organizações
da sociedade civil e também será precedido
por uma Audiência Pública na capital.
Posteriormente, outras duas audiências serão
promovidas, em São Paulo e São Bernardo,
para a discussão e complementação
do novo EIA.
Ruído transforma
vida em “inferno”
A pressão
para que a Dersa cumpra com seus compromissos –
imposta pelo acordo judicial - aumentou no último
dia 19 de fevereiro, quando a 1ª Vara Cível
de Barueri, cidade da RMSP, publicou sentença
que ordena a empresa a construir muros anti-ruídos
em trechos da alça oeste do Rodoanel. A poluição
sonora provocada pelo tráfego é um
dos principais passivos ambientais identificados
pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA)
e vem sendo motivo de manifestações
furiosas dos moradores l]que vivem nas proximidades
da rodovia durante as Audiências Públicas
de 2004.
Os moradores da região vizinha à estrada
estão descrentes de que o problema seja resolvido
em razão da sentença do Juiz de Barueri
ou pelo acordo. “Só acredito vendo”, afirma
uma moradora do condomínio residencial Tamboré
1, de classe média alta. A moradora, mãe
de duas crianças de 7 e 8 anos, diz que prefere
não se identificar pois teria sido ameaçada
durante uma das Audiências Públicas
realizadas no ano passado. “Depois do meu protesto,
um homem se aproximou e me disse que eu poderia
sofrer um seqüestro-relâmpago e nunca
mais voltar. Tenho muito medo”.
A moradora conta que sua casa fica a menos de 100
metros da estrada e que, entre seus vizinhos, há
casos de distâncias inferiores a dez metros.
“Há três anos que não durmo
e muitas crianças estão sofrendo com
baixo rendimento escolar em razão da falta
de sono”, reclama a vizinha do Rodoanel. “Até
coloquei meus filhos em um internato para ficarem
o menor tempo possível em casa. Nossa vida
virou um inferno”. Os moradores dizem que, antes
do anel viário, os níveis de ruído
no condomínio estavam próximos de
46 decibéis de dia e 45 decibéis de
noite. Estes índices subiram para 75 e 63,
respectivamente, depois inauguração
do empreendimento. A normativa técnica, baseada
na resolução 1/90 do Conselho Nacional
do Meio Ambiente (Conama), estabelece uma faixa
de 50 a 45 para as áreas estritamente residenciais.
Atraso ou descaso?
A sentença
da Vara Cível de Barueri dá um prazo
de seis meses para a Dersa erguer a barreira acústica,
sob pena de multa diária de R$ 10 mil. A
Dersa admite a obrigação de mitigar
a poluição sonora, mas afirma que
recorrerá da sentença. Segundo a assessoria
de imprensa da empresa, os moradores querem que
seja construída uma “muralha da China”. A
assessoria explica que o EIA do trecho oeste previa
como barreira anti-ruído apenas a colocação
de árvores, que já teriam sido plantadas,
mas que não resolveram o problema. Diante
disso, a Dersa estaria esperando uma resolução
da SMA para definir as medidas cabíveis em
relação à ruídos móveis.
A Dersa diz que esta regulamentação
é que determinará o valor a ser gasto
para se fazer os muros.
Em documento de agosto de 2004, porém, a
Coordenadoria de Licenciamento Ambiental da SMA
já afirmava que o plano de monitoramento
do ruído lindeiro (produzido pelo tráfego
na rodovia) do trecho oeste estava atrasado em mais
de um ano. O objetivo do plano seria o de identificar
os trechos mais afetados pelo ruído provocado
pelo tráfego e apresentar soluções.
O relatório também dizia que um novo
cronograma fora apresentado pela Dersa prevendo
a implementação das barreiras anti-ruídos
a partir de setembro de 2005 e finalizada até
o final de 2006.
A advogada dos moradores vizinhos da rodovia, Ana
Paula Araújo, afirma que a Dersa muda de
argumentos de acordo com seus interesses. “Antes
falavam que os muros anti-ruídos dependiam
do monitoramento. Agora vêm com essa nova
tese que distingue os tipos de barulho”, aponta.
A advogada afirma que a resolução
do Conama que trata de poluição sonora
não estabelece distinção entre
as fontes de ruído, sejam elas móveis
ou fixas.
Segundo a Dersa, 97% dos passivos ambientais do
trecho oeste foram sanados. Restariam a canalização
de um córrego, a construção
de três passarelas para pedestres, a proteção
de parques e nascentes, a construção
de caixas de contenção para cargas
perigosas, a terraplanagem e limpeza das áreas
de apoio para a construção da obra,
a construção de quadras poliesportivas
e de áreas de transbordo para caminhões.
A Dersa promete finalizar estas pendências
até o final do primeiro semestre de 2005.
Três anos após a inauguração
da rodovia.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Bruno Weis