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ESCÂNDALO COM MILHO
TRANSGÊNICO DISTRIBUÍDO “POR
ENGANO” NOS EUA EXPÕE FRAGILIDADE
DOS ÓRGÃOS REGULADORES
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Março de 2005
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31-03-2005 - Syngenta
mistura as sementes transgênicas, comercializa
por quatro anos milho Bt10 sem autorização
ao invés do autorizado Bt11, e demonstra
incapacidade dos órgãos oficiais em
controlar e fiscalizar produtos geneticamente modificados
Descuido ou irresponsabilidade? Incompetência
ou Descaso? São as questões que devem
ser respondidas: a primeira pela Syngenta, empresa
que comercializou durante quatro anos uma variedade
de milho transgênico sem autorização
das autoridades competentes nos EUA; e a segunda
pelos órgãos reguladores e de fiscalização
da Biossegurança desse país.
A revista científica Nature publicou hoje
(1) que o milho Bt10 foi comercializado “acidentalmente”
durante quatro anos pela Syngenta. A variedade tem
diferenças significativas com o milho Bt11,
autorizado pelos órgãos competentes,
principalmente na presença de genes de resistência
a antibióticos. A possibilidade desse gene
ser transferido para microorganismos e espalhar
problemas de resistência a antibióticos
existe. Os microorganismos que naturalmente estão
presentes no intestino e no meio ambiente podem
incorporar o gene de resistência a antibióticos
do alimento transgênico e gerar uma doença
de difícil controle, tanto no ser humano
quanto nos animais.
“As autoridades de um país que é usado
como referência em biotecnologia não
conseguiram garantir segurança para o meio
ambiente e para o consumidor, isto serve de alerta
para o governo brasileiro que não conseguiu
sequer impedir o plantio e comercialização
ilegal da soja transgênica durante seis anos
(2)”, afirmou Ventura Barbeiro, engenheiro agrônomo
do Greenpeace.
“Esse escândalo deverá aumentar ainda
mais a falta de confiança dos consumidores
nos responsáveis pela autorização
e fiscalização dos organismos geneticamente
modificados” disse Barbeiro. “Essa é a segunda
vez que o milho norte-americano é envolvido
em um escândalo de contaminação
com transgênico não autorizado”, completou.
No ano de 2000 o milho transgênico StarLink
da empresa Aventis, liberado apenas para alimentação
animal, contaminou a produção de milho
dos Estados Unidos obrigando a retirada de vários
produtos da prateleiras dos supermercados e dificultando
as exportações.
Artigo da Nature
Centenas de toneladas
de sementes do milho transgênico inseticida
Bt10 foram cultivadas devido a um erro da empresa,
que acreditava estar comercializando sementes do
milho Bt11. O milho inseticida Bt11 recebeu autorização
para plantio e comercialização em
1996, nos Estados Unidos, mas a variedade Bt10 não
foi avaliada nem autorizada pelas autoridades norte-americanas.
No dia 24 de março, quando o escândalo
foi publicado na Nature (3), a empresa declarou
que as duas variedades de milho não apresentavam
diferenças significativas na sua estrutura
genética.
O milho transgênico Bt11 apresenta resistência
a insetos, devido à produção
de proteínas tóxicas de bactéria.
A planta recebeu genes do vírus do mosaico
da couve flor e das bactérias Bacillus thuringiensis,
Streptomyces viridochromogenes e Agrobacterium tumefaciens.
O milho Bt10, além desses genes, também
possui um gene que confere resistência ao
antibiótico ampicilina. A Autoridade de Segurança
Alimentar da União Européia publicou
em abril de 2004 regras restringindo plantas com
genes de resistência a antibióticos
apenas para áreas experimentais, vetando
o uso comercial desse tipo de organismo.
“Se a própria Syngenta, que é a proprietária
da tecnologia, comercializou ilegalmente durante
quatro anos uma planta transgênica sem perceber
o erro, grosseiro, imagine os graves acidentes que
poderemos sofrer com plantio de sementes em áreas
experimentais espalhadas pelo país e uma
fiscalização deficiente” disse Barbeiro,
“Por meio da polinização, genes experimentais
podem escapar de áreas de pesquisa e contaminar
a produção comercial”.
Notas
(1) Revista Nature,
Vol. 434, 31 de março de 2005, pág.
548.
(2) O plantio comercial
de soja transgênica aconteceu ilegalmente
entre os anos de 1997 e 2002, foi regulamentado
pela medida provisória 131 no ano de 2003.
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(3) Revista Nature,
Vol. 433, 24 de março de 2005, pág.
423.
Fonte: Greenpeace-Brasil (www.greenpeace.org.br)
Assessoria de imprensa