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COMPORTAS DA UHE BARRA
GRANDE
PODEM SER FECHADAS NOS PRÓXIMOS DIAS
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Abril de 2005
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08/04/2005 Considerada
o maior escândalo ambiental dos últimos
anos, a usina pode receber licença de operação
do Ibama e colocar debaixo d´agua vários
hectares de florestas primárias de araucárias.
As comportas da Usina Hidrelétrica de Barra
Grande, localizada entre os municípios de
Anita Garibaldi (SC) e Pinhal da Serra (RS), podem
ser fechadas nos próximos dias. Nesta sexta-feira,
dia 8 de abril, os representantes da Energética
Barra Grande S.A. (Baesa), empresa responsável
pela obra, estarão reunidos, em Brasília,
com a presidência do Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) e devem pedir a Licença de Operação
(LO) para o empreendimento. Caso a autorização
seja concedida, o reservatório da barragem
começará a encher e vários
hectares de floresta primária (ainda intocada)
com araucárias, espécie ameaçada
de extinção e protegida por lei, podem
ficar debaixo d´água.
O “caso Barra Grande” é o maior escândalo
ambiental dos últimos anos. A construção
da usina foi autorizada como base num Estudo de
Impacto Ambiental (EIA-Rima) fraudulento, que omitiu
a existência de mais de 4 mil hectares de
Mata Atlântica íntegra ou em avançado
processo de recuperação, bioma que
praticamente não existe mais no País.
A firma responsável e o próprio governo
admitem a fraude. Há pouco mais de uma semana,
foi anunciada a aplicação de uma multa
ambiental de R$ 10 mil à Engevix, responsável
técnica pela elaboração do
EIA-Rima. Vale lembrar que a Baesa é um consórcio
formado por algumas das maiores corporações
do Brasil: a Alcoa, a CPFL Energia, a Votorantim
e a Camargo Corrêa, entre outras – muitas
delas respeitadas não só por seu patrimônio
ou volume de investimentos, mas também por
projetos e iniciativas na área da responsabilidade
social.
Mesmo sabendo da fraude e da possibilidade de destruição
definitiva de áreas extremamente importantes
para a conservação, o Ibama e a Advocacia
Geral da União (AGU) assinaram com a Baesa
um Termo de Compromisso para, mediante algumas “medidas
compensatórias”, autorizar o início
do desmatamento. Aí teve início a
batalha judicial envolvendo o caso.
Em outubro de 2004, a Justiça Federal de
Santa Catarina concedeu uma liminar em Ação
Civil Pública movida pela Rede de ONGs da
Mata Atlântica (RMA) e pela Federação
das Entidades Ecologistas Catarinenses (FEEC), com
apoio de advogados do ISA e da organização
Ações para Preservação
dos Recursos Naturais e Desenvolvimento Econômico
Racional (Aprender), o que suspendeu o início
do corte das árvores. (Leia mais sobre essa
decisão).
Posteriormente, o Tribunal Regional Federal (TRF)
da 4ª Região voltou atrás e suspendeu
a liminar, abrindo caminho para que a Baesa desse
início ao desmatamento, que vem ocorrendo,
desde janeiro, dia e noite, enquanto a sociedade
aguarda uma decisão de mérito da Justiça
Federal de Santa Catarina, a última esperança
de que o Judiciário evite a concretização
desse crime ambiental.
A Baesa alega que o desmate foi concluído,
mas a coordenadora-geral da RMA e presidente da
Associação de Preservação
do Meio Ambiente do Vale do Rio Itajaí (Apremavi),
de Santa Catarina, Miriam Prochnow, afirma que existem
relatos confirmando que principalmente as florestas
primárias ainda estão de pé
e que a empresa não iria mais desmatá-las.
Miriam alerta para o fato de que, caso a informação
seja confirmada, além da perda da floresta,
haverá impactos para a qualidade da água
do lago com o apodrecimento da matéria orgânica
que ficar submersa.
Mas o desmate é apenas uma de muitas obrigações
que podem não estar sendo cumpridas pela
Baesa.
Pelo Termo de Compromisso assinado, a empresa ficou
obrigada a criar um banco de sementes de araucárias
e de outras árvores raras que seriam derrubadas,
para que pudessem ser eventualmente aproveitadas
no futuro. Comprometeu-se também, antes de
fechar as comportas, a comprar uma área de
tamanho equivalente a que será desmatada
e inundada, para destinar à conservação.
Todas são condições estabelecidas
no acordo para que a Licença de Operação
possa ser emitida.
“Nada foi feito em relação às
áreas que deveriam ser disponibilizadas para
conservação e nem em relação
ao banco de germoplasma”, afirma Míriam.
Ela lembra ainda que o Planejamento para o Aproveitamento
Hidrelétrico e Ambiental da Bacia do Rio
Pelotas, estudo que deveria prever outros impactos
provocados por mais obras na região, também
não foi elaborado pela Baesa.
Ontem, dia 7 de abril, a agência de notícias
Canal Energia publicou uma nota que afirma que o
diretor-presidente da Baesa, Carlos Miranda, “espera
receber a LO nos próximos dias”. Segue o
texto: “O último obstáculo para a
obtenção da licença era a supressão
de vegetação, que foi concluída
no último sábado, dia 2.” Segundo
Miranda, “o enchimento de até 95% capacidade
de armazenamento deve durar 11 meses, embora os
testes de produção estejam previstos
para começar em agosto. Com isso, a geração
comercial começaria em 1° de novembro,
com a entrada em operação da primeira
unidade. As outras duas máquinas entrarão
em funcionamento em 1° de fevereiro e 1°
de maio de 2006.” (Leia mais).
Enquanto a Baesa corre contra o tempo, o Judiciário
se delonga em análises contraditórias.
Espera-se que faça valer a lei antes que
tudo seja derrubado, porque, depois, a natureza
é morta.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa