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ABRIL INDÍGENA REIVINDICA
RECONHECIMENTO DE 14 TIs
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Abril de 2005
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26/04/2005 Participantes
do acampamento indígena Terra Livre apresentam
hoje (26/4) reivindicação ao governo
federal para o reconhecimento de 14 Terras Indígenas.
À tarde, as mais de 700 lideranças
reunidas discutem projetos e emendas em tramitação
no Legislativo. A mobilização concentra,
até a próxima sexta-feira, mais de
89 povos de todo o País em plena Esplanada
dos Ministérios, em Brasília.
Nesta terça-feira, dia 26, participantes
do acampamento indígena Terra Livre vão
se encontrar com o advogado-geral da União,
Álvaro Augusto Ribeiro, com o presidente
da Fundação Nacional do Índio
(Funai), Mércio Gomes, com a coordenadora
da 6ª Câmara do Ministério público
Federal, Dra. Deborah Duprat, e com o presidente
do Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra), Holf Hackbart.
Na audiência, a principal reivindicação
será pela imediata publicação
de portarias declaratórias de 14 Terras Indígenas.
A tarefa cabe ao Ministério da Justiça
e é o principal ato no processo de reconhecimento
de uma Terra Indígena. Só após
a publicação da portaria declaratória
é que uma área pode ser homologada
pelo presidente da República. Será
também apresentada, durante a audiência,
uma lista de terras que precisam ser identificadas,
demarcadas e homologadas, além de territórios
nos quais há conflitos fundiários
que precisam ser solucionados.
Durante a tarde, os indígenas de 89 povos
de todo o País voltam a se reunir no acampamento
que está montado na Esplanada dos Ministérios
para debater os Projetos de Lei (PLs) e as Propostas
de Emenda Constitucional (PECs) que tratam de assuntos
ligados a eles. Grande parte dos mais de 100 projetos
que hoje tramitam no Congresso têm como objetivo
criar empecilhos para o reconhecimento de Terras
Indígenas.
Projetos
e emendas anti-indígenas
Entre os projetos
de lei, destaca-se o PL 188/2004, que altera todo
o processo de demarcação das terras
e cria obstáculos para seu reconhecimento
ao prever a convocação do Conselho
de Defesa Nacional caso a área esteja localizada
em faixa de fronteira, estipular que sejam "anulados
todos os procedimentos de demarcação
em curso" na data de publicação
da Lei e impedir que terras retomadas entrem em
processo de demarcação por dois anos,
ou pelo dobro deste prazo, em caso de reincidência.
Já a PEC 38/1999 pretende limitar em 50%
a área total de cada Estado brasileiro passível
de ser transformada em Unidade de Conservação
ou Terra Indígena. Ambos os projetos visam
submeter os procedimentos administrativos de demarcação
de terras ao julgamento político do Congresso
Nacional.
Atualmente, quando uma terra é declarada
como indígena, os índios passam a
ter direito a usufruí-la e os ocupantes não-índios
de boa fé recebem indenizações
pelas benfeitorias. A PEC 03/2004, por exemplo,
propõe que as Terras Indígenas que
tenham ocupantes há mais de 10 anos sejam
desapropriadas, como ocorre com as terras destinadas
à reforma agrária. Assim, a União
terá que pagar pela terra que, segundo a
Constituição Federal, é de
sua propriedade, já que "são
bens da União as terras tradicionalmente
ocupadas pelos índios" (Artigo 20, IX,
CF).
As propostas do debate realizado pelos indígenas
sobre os PLs e PECs serão apresentadas à
presidência da Câmara e do Senado Federal,
à presidência das comissões
de Constituição e Justiça (CCJ),
de Relações Exteriores e de Direitos
Humanos da Câmara dos Deputados. Foram convidados
também os líderes do Governo na Câmara
e no Senado para a audiência que ocorrerá
no auditório do STF na quarta-feira, dia
27, às 9 horas.
Terra, educação
e saúde
Na segunda-feira,
dia 25, por volta das 15 horas, foram iniciados
os debates da Mobilização Indígena
Terra Livre, com discussões sobre os processos
de regularização das terras indígenas,
a situação da saúde e da educação
indígenas e a política indigenista
brasileira de forma geral. A discussão foi
iniciada com a palestra apresentada por Marcio Santilli,
do Instituto Socioambiental (ISA). Depois, os indígenas
fizeram debates em grupos menores, divididos por
regiões. Ao final do dia, os grupos apresentaram
as discussões para a plenária geral
para que sejam sistematizadas propostas.
O acampamento
Mais de 700 representantes
de 89 povos indígenas de quase todos os estados
brasileiros participaram da abertura das atividades
do grande acampamento indígena montado na
madrugada da segunda-feira, dia 25, na Esplanada
dos Ministérios, em frente ao Congresso Nacional,
em Brasília. São cerca de 25 malocas
construídas com bambu e folhas de coqueiro,
organizadas em formato circular com uma grande tenda
ao centro, onde irão acontecer as seções
plenárias, de 25 a 29 de abril.
A Mobilização Nacional Terra Livre
é o ato principal de uma série de
atividades que vêm acontecendo em todo o País
durante o Abril Indígena - conjunto de manifestações
organizado pelo Fórum de Defesa dos Direitos
Indígenas (FDDI) e que agrupa uma série
de protestos e discussões sobre a política
indigenista do governo Lula. Com a mobilização,
os indígenas querem unir forças e
debater as principais necessidades de suas comunidades
para apresentar propostas concretas ao Governo e
ao Poder Legislativo.
De acordo com o secretário-executivo do FDDI,
Gersen Baniwa, a idéia de realizar uma mobilização
nacional surgiu por causa do crescente agravamento
da situação dos povos indígenas.
"Decidimos que era preciso se criar um fato
político que marcasse a insatisfação
dos povos indígenas com a atual política
indigenista do Governo Lula", afirma. O Fórum
optou por não apresentar centenas de reivindicações
ao Governo, mas centralizar as discussões
em quatro grandes eixos temáticos:
Políticas
Públicas para os povos indígenas:
acelerar o processo de regularização
das terras indígenas, principalmente as mais
complexas; Situação da saúde
e educação indígenas;
Não aos Projetos
de Lei (PL’s) e às Propostas de Emenda à
Constituição (PEC’s), que ameaçam
os direitos indígenas no Congresso Nacional
e assegurar o respeito à Legislação
Infra-Constitucional (Estatuto dos Povos Indígenas);
Criação
de um Conselho Nacional de Política Indigenista
como um órgão para normatizar uma
nova política indigenista;
Etnodesenvolvimento:
gestão territorial, sustentabilidade das
terras indígenas e garantias em Lei de mecanismos
previstos na Convenção da Diversidade
Biológica, de repartição justa
e eqüitativa de benefícios e anuência
prévia e informada, para o acesso aos conhecimentos
dos povos indígenas e das populações
tradicionais.
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com a programação, notícias
e informações exclusivas no site do
ISA.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa