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REAÇÕES À
HOMOLGAÇÃO DA TI RAPOSA SERRA
DO SOL, EM RORAIMA
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Abril de 2005
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Os fazendeiros que ocuparam ilegalmente
a área, com apoio de uma parte dos índios,
promovem bloqueio de estradas e transformam policiais
em reféns.
25/04/2005 A homologação
da Terra Indígena Raposa-Serra do Sol, assinada
pelo presidente Lula há dez dias e esperada
há pelo menos 30 anos, vem provocando reações
por parte de fazendeiros que ocuparam ilegalmente
a área, mesmo sabendo que o governo federal
não retirará nenhum ocupante de boa
fé sem indenização e sem um
novo local para seu reassentamento, conforme afirmou
o ministro da Justiça Márcio Thomaz
Bastos. Ainda assim, na sexta-feira 22 de abril,
quatro policiais federais foram seqüestrados
e, desde então, estão sendo mantidos
como reféns na aldeia Flexal, habitada por
índios macuxi que se opõem à
homologação em área contínua
e localizada a cerca de 26 quilômetros do
município de Uiramutã, dentro da Terra
Indígena (TI). Eles afirmam que somente libertarão
os policiais se o presidente Lula ou o ministro
da Justiça, Márcio Thomaz Bastos,
forem à TI. Enquanto isso, a Polícia
Federal tem enviado reforços de agentes à
região para tentar dar fim ao seqüestro.
No último domingo, manifestantes fecharam
a rodovia estadual (RR-202), que passa por dentro
da aldeia Cantão e que dá acesso ao
município de Uiramutã. O tráfego
na BR-174, principal rodovia de ligação
entre o Brasil e a Venezuela, também foi
interrompido, provocando um longo congestionamento.
O maior foco de tensão, entretanto, está
no município de Pacaraima, de onde saíram
os autores do bloqueio da estrada federal e cujo
prefeito é Paulo César Quartiero,
um dos oito agricultores que ocupam ilegalmente
a TI. Quartiero tem sido apontado como um dos incentivadores
das manifestações contra a implementação
dos limites da Raposa-Serra do Sol. O agricultor
também é acusado de estar envolvido
nos incidentes de novembro do ano passado, quando
aldeias foram invadidas e destruídas na região.
Na época o Conselho Indígena de Roraima
(CIR)denunciou esses lamentáveis acontecimentos
em carta aberta .
Ao lado de políticos e fazendeiros contrários
à homologação da Raposa-Serra
do Sol, está a Sociedade de Defesa dos Índios
Unidos do Norte de Roraima (Sodiur), uma dissidência
do CIR. Seus representantes reclamam que a homologação
contínua da TI significará o isolamento
e o empobrecimento das comunidades indígenas.
A Sodiur apóia a decisão do governador
Ottomar Pinto (PTB) que, na semana passada, entrou
com ação na Justiça Federal
contra a homologação e ameaça
cortar os serviços públicos de saúde,
educação, transporte e geração
de energia da TI como retaliação à
decisão federal.
É bom lembrar que depois que o presidente
Lula assinou o decreto, o ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, afirmou que nenhum
ocupante de boa fé seria retirado da área
sem indenização e sem um local para
seu reassentamento e anunciou algumas medidas compensatórias
tais como: destinar 150 mil hectares de terras da
União para implantação de pólos
agropecuários; o Incra vai identificar, cadastrar
e assentar famílias não-indígenas
que estão na TI e regularizar 10 mil propriedades
familiares que assim terão acesso a créditos
do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf);
concluir a avaliação que já
está em curso das benefeitorias na TI Raposa-Serra
do Sol.
Ameaças e
violência
Na capital do estado,
Boa Vista, três protestos foram realizados
contra a homologação até agora.
O maior deles, na quarta-feira passada, dia 20,
contou com cerca de 5 mil participantes, de acordo
com estimativa da Polícia Militar. Nos dias
que se seguiram à assinatura do decreto homologatório,
organizações e entidades que apóiam
os povos indígenas de Roraima passaram a
receber telefonemas anônimos com ameaças
e ofensas. "Falam que se a gente não
mudar de lado vamos pagar caro", conta Luis
Carlos Gomes, da ONG Grupo de Trabalho Amazônico
(GTA). Gomes conta que o centro da cidade vem sendo
ocupado por caminhões de arrozeiros com faixas
e auto-falantes, com mensagens agressivas contra
o presidente Lula.
O incidente mais grave ocorreu na madrugada da terça-feira
19 de abril - Dia do Índio -, quando uma
bomba caseira, do tipo coquetel-molotov, foi lançada
contra a residência do professor Fabio Almeida
de Carvalho, coordenador do núcleo de formação
superior indígena da Universidade Federal
de Roraima (UFRR). O professor, que também
recebeu ameaças por telefone, teve seu carro
danificado mas não foi ferido.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa