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O GOVERNO LULA E A DEMOCRACIA
DA BOMBA NUCLEAR
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Maio de 2005
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02-05-2005 - Na semana
do 19º aniversário do acidente de Chernobil,
em que morreram 30.000 pessoas e outras três
milhões foram contaminadas, segundo recente
reconhecimento oficial do governo da Ucrânia,
o Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais
para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS),
vem a público manifestar sua preocupação
com o atual processo de decisão sobre a construção
de Angra 3.
Ao intervir e deslegitimar um processo decisório
sobre o projeto da usina nuclear de Angra 3, que
vinha há anos sendo desenrolado no Conselho
Nacional de Política Energética (CNPE),
o Ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu,
deflagrou a falácia da democracia do governo
Lula no trato das questões chave da política
nacional, como é o caso da energia.
Em se tratando do projeto de construção
de Angra 3, quase não havia mais o que acontecer,
a não ser o seu veto pelo CNPE, na reunião
do dia 13 de abril. As razões principais
para esse veto seriam a sua inviabilidade econômica
e os seus problemas ambientais, argumentos defendidos
pelos ministérios das Minas e Energia e do
Meio Ambiente. Contudo, alegando “razões
de estado” ou “razões estratégicas”,
o ministro José Dirceu trouxe para si a obrigatoriedade
de produzir um parecer favorável à
Angra 3, para somar-se ao parecer do Ministério
da Ciência e Tecnologia, votando também
pela construção.
Ao alegar razões “estratégicas”, José
Dirceu exclui de um debate que deve ser público,
tanto os especialistas - técnicos nas questões
nucleares, de energia e de meio ambiente - , quanto
a população em geral. Alguns estados
brasileiros possuem legislação específica
seja na proibição de instalação
de usinas nucleares, seja na exigência de
consulta plebiscitária para a questão.
Pesquisa de opinião realizada pelo Instituto
de Estudos da Religião (Iser), em junho de
2004, em sete capitais do país, já
revelou a posição contrária
de mais de 80% da população brasileira
quanto à construção de usinas
nucleares no Brasil.
Três principais motivos mostram que o Brasil
estaria caminhando na contramão da história
se aprovar a construção de Angra 3:
1 - Usinas nucleares são caras. Segundo a
própria indústria nuclear, já
foram investidos US$ 1,2 bilhão em Angra
3 e serão necessários mais US$ 1,7
bilhão para o término da obra, além
do custo de geração de energia ser
altíssimo, maior que os da hidroeletricidade
e os de fontes renováveis como a biomassa
e a eólica. 2 - Usinas nucleares são
inseguras e ultrapassadas. O acidente de Chernobil
evidenciou que a energia nuclear tem riscos incalculáveis
e inaceitáveis. Atualmente, diversos países,
como Alemanha, Espanha e Suécia, estão
repensando suas políticas energéticas
e apostando em fontes renováveis de energia.
Reatores nucleares têm sido gradativamente
desativados e não há hoje, no mundo
inteiro, praticamente nenhuma nova usina sendo planejada
ou construída. 3 - Usinas nucleares são
sujas. O lixo nuclear precisa ficar sob vigilância
por milhares de anos. Não são conhecidas
técnicas s
guras de armazenamento do lixo nuclear gerado.
O próprio CNPE, que teve suas atribuições
fortalecidas no Novo Modelo do Setor Elétrico,
é atropelado pela truculência anti-democrática
do “Ministro Chefe”. Apesar de ser um espaço
restrito e de haver negado, justamente no Governo
Lula, a nomeação de um cidadão
brasileiro especialista em energia com direito a
voto prevista em seu regimento, o CNPE ainda é
um espaço transversal de diálogo entre
distintas pastas na definição da política
energética. Mas a democratização
do CNPE, ou um simples passo na garantia da participação
de representante da sociedade que, juntamente com
os representantes das universidades e dos estados
e municípios, pudesse influenciar nas posições
deste coletivo de ministros contra a execução
da usina de Angra 3, não foi sequer defendida
pelos Ministros integrantes deste conselho, passivos
diante do intervencionismo da Casa Civil.
Mas os uso das práticas (in)dignas da ditadura
militar não param por aí. Ao acionar
o exército para repreender antecipadamente
as ações públicas e pacíficas
do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB),
neste 14 de março – Dia Mundial de Luta Contra
Barragens - em Tucuruí, e ao testemunhar
passivamente a prisão preventiva de membros
da coordenação do Movimento e o confisco
de meios de transporte na região de Campos
Novos (SC), o governo explicita enfim seus métodos
autoritários na destruição
das possibilidades de um debate público em
torno das questões energéticas.
A sociedade civil, principalmente desde o apagão
2001, tem aberto os olhos e se apropriado do conhecimento
sobre as enormes potencialidades das medidas de
eficiência energética e do uso de novas
fontes renováveis de energia - como a biomassa,
solar e eólica -, no alcance dos interesses
da população e da universalização
dos serviços de energia. Ao contrário
dos governantes, a sociedade evoluiu e não
se permite mais adotar a mesma postura imposta nos
tempos da ditadura, a qual seria de se calar frente
ao autoritarismo nuclear surpreendentemente adotado
pela Casa Civil, e supostamente justificado na defesa
de interesses “estratégicos”. De quem?.
Fonte: Greenpeace-Brasil (www.greenpeace.org.br)
Assessoria de imprensa