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ATLAS DO IBAMA RECONHECE
EXTINÇÃO DE FLORESTAS NACIONAIS
NO RIO NEGRO
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Maio de 2005
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13/05/2005 O reconhecimento
está em publicação recém-lançada
pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis, que deverá
reconhecer também a extinção
das Florestas Nacionais sobrepostas à TI
Yanomami.
Quase 14 anos depois, o Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) admitiu a revogação de onze
Florestas Nacionais (Flonas) que incidiam na Terra
Indígena (TI) Alto Rio Negro, localizada
no noroeste do Amazonas. O reconhecimento veio com
a publicação do Atlas de Conservação
da Natureza Brasileira, lançado na última
terça-feira, dia 10 de maio, em Brasília.
O livro foi elaborado pela editora Metalivros com
apoio técnico e científico do Ibama
e traz um panorama geral das 243 Unidades de Conservação
(UCs) federais sob responsabilidade da autarquia.
“Recentemente, o Ibama abriu mão de lutar
por onze Florestas Nacionais, assumindo sua extinção.
Estão todas localizadas na região
Noroeste do Estado do Amazonas: Cubaté, Cuiari,
Içana, Içana-Aiari, Pari-Cachoeira
I, Pari-Cachoeira II, Piraiauara, Taracuá
I, Taracuá II, Urucu e Xié,” informa
a publicação, à página
18. O texto observa que, por causa disso, houve
uma queda de quatro milhões de hectares no
cálculo da área total de UCs federais
do País de 2003 para 2004. É preciso
deixar claro, no entanto, que não há
diminuição no território das
áreas protegidas brasileiras uma vez que
as Terras Indígenas também são
assim consideradas.
O reconhecimento do Ibama é importante porque
os onze casos estão entre aqueles considerados
mais paradigmáticos na questão das
sobreposições. Oficializadas entre
novembro de 1989 e março de 11000, as Flonas
constituem violação ao direito territorial
originário dos povos indígenas, bem
como ameaçam seu direito de usufruto exclusivo
dos recursos naturais, conforme determina a Constituição
– esta categoria de UC pode ser explorada economicamente
mediante concessão do governo a empresas
privadas. Em 1991, o então presidente Fernando
Collor revogou os decretos de criação
das áreas, mas o Ibama não reconhecia
a medida.
Flonas sobrepostas
à TI Alto Rio Negro
“O Ibama admite,
assim, que essas Flonas não foram criadas
com objetivos ambientais, mas apenas geopolíticos
e com base em um modelo de ocupação
defendido pelos governos militares”, avalia Fany
Ricardo, coordenadora do Programa de Monitoramento
de Áreas Protegidas do ISA. Ela lembra que
as Flonas foram criadas no fim do governo Sarney
para estimular ocupações não-indígenas
na zona de fronteira com a Colômbia.
“Concluímos que são muitos fortes
os indícios de que o processo de criação
das Flonas foi viciado”, admite Antônio Carlos
Hummel, diretor de Florestas do Ibama. Apesar disso,
ele faz a ressalva de que o reconhecimento da revogação
das UCs ainda não pode ser considerado “formal”
porque a Procuradoria do órgão continua
analisando os documentos relativos ao caso e não
deu um parecer final. “Trata-se de um reconhecimento
técnico e administrativo. Não queríamos
continuar alimentando a expectativa sobre Flonas
que nunca existiram na prática.”
"Sempre ficava pairando o questionamento de
como as comunidades indígenas iriam se desenvolver
sem agredir o meio ambiente. Para nós, isso
nunca foi um problema porque sempre defendemos o
manejo correto de nossas áreas", comenta
Domingos Barreto Tukano, presidente da Federação
das Organizações Indígenas
do Rio Negro (FOIRN). Ele informa que os povos indígenas
da região pretendem agora avançar
na implementação de projetos de desenvolvimento
sustentável que mantenham a floresta de pé.
Extinção
de Flonas na Terra Yanomami
Hummel adianta que
as Flonas de Roraima e do Amazonas, que incidem
sobre a Terra Indígena Yanomami, estão
sendo analisadas pela Procuradoria do Ibama no mesmo
processo. Questionado se o encaminhamento do problema
das duas áreas seria semelhante àquele
dado às Flonas do Rio Negro, ele afirmou
que isso é praticamente certo. “Eu assino
embaixo.”
A sobreposição entre TIs e UCs é
um problema grave que vem gerando conflitos políticos
entre indigenistas e ambientalistas e impasses administrativos
dentro do governo. Organizações preservacionistas
e o Ibama acusam os índios de depredar os
ecossistemas onde vivem. Por outro lado, povos indígenas
e as entidades que defendem seus direitos afirmam
que os órgãos ambientais freqüentemente
causam obstáculos e fazem ingerências
indevidas na gestão das TIs. Cálculos
do ISA indicam que, descontadas as onze Flonas do
Alto Rio Negro, ainda restam no País 44 casos
de sobreposições.
“Falta diálogo entre as instituições
e atores envolvidos. Estamos dispostos a iniciar
este diálogo,” garante o diretor de Florestas
do Ibama. Ele acredita que, pelo menos no caso das
Flonas, a solução pode ser encontrada
com a discussão dos planos de manejo das
áreas envolvendo a Fundação
Nacional do Índio (Funai), o Ibama e as comunidades
interessadas. “Podemos encontrar soluções
compartilhadas. O que não pode haver é
um impasse por tempo indefinido.”
Inspiração
veio da doutrina de Segurança Nacional
As onze Flonas do
Alto Rio Negro foram criadas em meio ao processo
de demarcação de TIs no Alto Rio Negro,
no final do governo do presidente José Sarney,
quando a chamada doutrina da Segurança Nacional
ainda tinha forte influência sobre a política
indigenista brasileira. Na época, o Conselho
de Segurança Nacional (CSN), órgão
controlado pelos militares, assumiu o comando da
demarcação dos territórios
indígenas. O CSN argumentava que a ocupação
indígena na fronteira fragilizava o sistema
de segurança nacional por criar “vazios demográficos”.
Com base nessa visão, foi proposta a demarcação
de um conjunto de pequenas áreas indígenas
desconectadas e permeadas por Flonas no Alto Rio
Negro. A intenção era estimular ocupações
não-indígenas e, assim, supostamente
desenvolver a região e garantir a segurança
da zona de fronteira conforme a visão pregada
no Projeto Calha Norte (PCN). Enquanto isso, as
comunidades indígenas locais lutavam pela
demarcação de uma TI em área
contínua que representasse a ocupação
tradicional indígena nos termos da Constituição
de 1988.
A princípio, prevaleceu a posição
dos militares. A situação mudou, no
entanto, com a mobilização dos povos
indígenas – no fim de 1987, nasceu a Foirn
– e o fim do governo Sarney. Em 1995, o Ministério
da Justiça publicou a portaria declaratória
da TI do Alto Rio Negro, que foi homologada, finalmente,
em 15 de abril de 1998, com cerca de 8 milhões
de hectares.
Fonte: Terras Indígenas
e Unidades de Conservação da Natureza
– O Desafio das Sobreposições
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Oswaldo Braga de Souza