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DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA
É O SEGUNDO MAIOR DA HISTÓRIA
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Maio de 2005
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19/05/2005 O índice
anunciado na quarta-feira, dia 18 de maio, é
o segundo maior registrado desde que o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) começou
a medí-lo. De acordo com a estimativas divulgadas,
a Amazônia perdeu 26 .130 km2 entre 2003 e
2004, derrubando a idéia de que a taxa estaria
estacionada. Mato Grosso continua sendo o campeão
nacional do desmate.
Apresentada anteontem, dia 18 de maio, em Brasília,
a estimativa de desmatamento de 26,1 mil km2 para
o período de agosto de 2003 a agosto de 2004,
só perde para os 29 mil km2 registrados no
período 1994-1995, durante o governo FHC.
Depois disso, a média anual do governo anterior
ficou nos 19,3 mil km2. Já a média
do governo atual, nesses dois anos de mandato, é
de cerca de 25 mil km2.
Caiu por terra, assim, a idéia defendida
pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) de
que as taxas de desmatamento teriam estacionado.
Ao contrário, o que se observa é uma
tendência de alta constante nos números
(confira a tabela abaixo). Isso revela que o Plano
de Ação para Prevenção
e Controle ao Desmatamento na Amazônia - lançado
em março de 2004, como uma solução
inovadora e abrangente, e que de acordo com o governo
já estaria surtindo efeito - ainda não
conseguiu sair do papel.
O governo divulgou ainda os números consolidados
de desflorestamento para o período de 2002-2003.
Os 23,7 mil km2 estimados inicialmente acabaram
fechando em 24,5 mil km2. Houve um acréscimo
de 6% nas taxas comparando o período 2002-2003
com o período 2003-2004. Para o período
de 2001-2002, já haviam sido contabilizados
23,2 mil quilômetros quadrados de florestas
derrubadas.
Segundo os dados apresentados anteontem, o Mato
Grosso foi responsável por 48,1% do total.
Depois de registrar 10,4 mil quilômetros quadrados
de desmatamento no período 2002-2003, desmatou
12,5 mil quilômetros quadrados – ou seja um
aumento de 20%. Vale lembrar que os números
divulgados só consideram o desmate de florestas,
deixando de fora áreas de Cerrado. É
curioso observar que justamente em Mato Grosso,
estado que possui um sofisticado sistema de controle
e monitoramento de desmatamentos, registra-se quase
50% do total dos desmatamentos na Amazônia.
Pará é
o segundo no ranking
Depois do Mato Grosso,
os Estados que mais destruíram florestas
em 2003-2004 são o Pará (6,7 mil km2)
e Rondônia (4,1 mil km2). Apesar de ocupar
a segunda posição no ranking do desmatamento,
o Pará apresentou uma redução
de 2% em suas taxas na comparação
com o período anterior. Os estados restantes
da Amazônia seguiram no mesmo caminho diminuição
em seus índices: Tocantins (-44%), Amazonas
(-39%), Maranhão (-26%) e Acre (-18%).
As informações foram divulgadas no
Palácio do Planalto, em entrevista coletiva
com a presença da ministra do Meio Ambiente,
Marina Silva, do ministro da Integração
Nacional, Ciro Gomes, do ministro da Ciência
e Tecnologia, e o presidente do Ibama, Marcus Barros.
Os dados foram produzidos pelo Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe) a partir de 103 imagens
de satélites, cobrindo 93% da área
conhecida como “Arco do Desmatamento”, onde se concentra
a maior parte dos desmatamentos. A margem de erro
é de 5%. O dado consolidado para o período
2003-2004 deverá vir a público até
o final do ano.
O governo tentou
minimizar e dar um caráter relativo aos números
divulgados ontem. A explosão do corte raso
de árvores no Mato Grosso foi atribuída
a contexto próprio e a um crescimento econômico
acima da média nacional provocado principalmente
pela expansão do agronegócio. “Mas
não podemos deixar de lado que houve diminuição
significativa dos índices em seis Estados”,
enfatizou João Paulo Capobianco, secretário
de Biodiversidade e Florestas do MMA. Para ele,
essa queda seria decorrência do Plano de Ação
para Prevenção e Controle ao Desmatamento.
Taxa inaceitável
O secretário
e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, participaram
ontem, dia 19 de maio, da sessão solene do
da 44ª reunião extraordinária
do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama),
realizada durante a Semana da Mata Atântica,
que está ocorrendo em Campos do Jordão
(SP). Marina Silva considerou “inaceitável”
a taxa e voltou a dizer que, para combatê-la,
o governo está investindo em ações
“estruturantes” cujos efeitos serão sentidos
em longo prazo. A ministra citou como exemplos o
Plano de Ação para Prevenção
e Controle ao Desmatamento, o Plano Amazônia
Sustentável (PAS) e o Plano BR-163 Sustentável.
“Pela primeira vez, o meio ambiente e o setor econômico
estão sentando para conversar e debater os
temas. Nunca houve uma articulação
assim entre os vários ministérios”,
defendeu a titular do Meio Ambiente. Apesar disso,
criticou a alguns setores do governo que “só
enxergam o Brasil do ponto de vista do crescimento
econômico”.
Entretanto, alguns dos dados divulgados deixam dúvidas
sobre a real situação no Pará.
De fato, o Estado vem diminuindo sua participação
no total de áreas desflorestadas nos últimos
anos, mas alguns dos principais pontos críticos
do desmatamento estão localizados em seu
território. Cinco municípios paraenses
– Altamira, Santarém, Itaituba, Novo Progresso
e Rondon do Pará – estão entre as
localidades responsáveis pelos maiores incrementos
de desmatamento em números absolutos. O município
de Novo Progresso ocupa a segunda posição
na lista das maiores áreas desmatadas em
2004 – 756 km2. Jacareacanga e Rondon do Pará
ocupam a primeira e a segunda posição
em relação à taxa de incrementos
em números relativos – respectivamente, 688%
e 279%.
“O MMA tem atuado, mas isso ainda não foi
suficiente para conter o processo. Outros ministérios
não contribuem como deveriam e a pretensão
do governo em realizar grandes obras de infra-estrutura
continua estimulando o desmatamento”, analisa Márcio
Santilli, do ISA. Ele confirma que o patamar alcançado
pelo ritmo do desmatamento pode ser associado sobretudo
à expansão das plantações
de soja. “Já existem vários trechos
de floresta convertidos diretamente para a sojicultura,
que, além disso, empurra a pecuária
para novas áreas.”
Governo consultou
sociedade civil
No final de 2004,
governo realizou uma série de consultas e
entrevistas com 30 organizações da
sociedade civil, entre elas o ISA, para avaliar
do Plano de Ação para Prevenção
e Controle ao Desmatamento. Foram apontados, entre
outros problemas, a desarticulação
política-administrativa entre os 13 ministérios
e vários órgãos envolvidos
com a iniciativa, entraves burocráticos,
falta de prazos, metas e ações emergenciais.
“Existe uma absoluta falta de diálogo e de
articulação do governo federal e dos
estados. Não existe uma política específica
para eles, que têm realidades bem diferentes,”
avalia o advogado André Lima, coordenador
de Biodiversidade do ISA. Ele lembra também
que é fundamental que o governo federal traga
a público a avaliação final
sobre o Plano de Controle ao Desmatamento para que
seja realizada uma análise mais detalhada
sobre o seu desempenho. “Esperamos por isso desde
dezembro do ano passado.”
Pouco depois da divulgação dos índices
pelo governo, o Greenpeace distribuiu uma nota com
a denúncia de que uma parte considerável
dos recursos destinados ao plano não foi
liberada pelo governo em 2004. Das 64 grandes operações
de fiscalização previstas para o ano,
apenas dez teriam sido realizadas. Ainda segundo
a organização ambientalista, o Ibama
disporia, em toda a Amazônia, de 43 engenheiros
florestais e cerca de 800 fiscais para uma área
de 5 milhões de quilômetros quadrados
– um fiscal para cada 6,5 mil quilômetros
quadrados e um engenheiro para cada 120 mil quilômetros
quadrados.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa