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SECRETÁRIO NEGA
FALTA DE DIÁLOGO E DIZ QUE FLORESTA
SÓ SE CONSERVA SE FOR RENTÁVEL
“DE PÉ”
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Maio de 2005
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24/05/2005 - O secretário
de Biodiversidade e Florestas do Ministério
do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco,
afirma que o governo vem adotando as medidas necessárias
para combater o desmatamento na Amazônia e
escuta os especialistas nas discussões ambientais,
ao contrário do que o geógrafo Aziz
Ab’Saber declarou. Em entrevista, à Agência
Brasil, Capobianco reiterou a ênfase no Projeto
de Lei de Gestão de Florestas Públicas
para conter a devastação no norte
do país. "Só conseguiremos preservar
a floresta se, em termos de emprego e geração
de renda, ela for mais interessante de pé
do que derrubada".
Agência Brasil:
Com relação aos novos dados de desmatamento
na região amazônica, o professor Aziz
Ab’Saber afirma que o Ministério do Meio
Ambiente "está totalmente enfraquecido"
e não consegue efetuar as medidas necessárias.
O senhor concorda?
João Paulo Capobianco: Os dados se referem
a um período em que o novo sistema de monitoramento
(o Deter) ainda não estava operacional. Esse
sistema, construído graças a um esforço
muito grande do governo – não só do
MMA –, acompanha em tempo real o desmatamento e
começou a funcionar no início deste
ano. Até então, você verificava
um ano depois. Com base nesse sistema já
realizamos, em 2005, um conjunto de operações
de inteligência que resultou na apreensão
de 75 mil metros cúbicos de madeira. Isso
em quatro meses, sendo que em 2002 (último
ano do governo Fernando Henrique Cardoso) inteiro
haviam sido apreendidos 40 mil metros cúbicos.
Nunca se fiscalizou tanto como agora.
ABr: Vocês
já têm os dados referentes a desmatamento
nos quatro primeiros meses de 2005? É possível
fazer uma previsão de desmatamento para o
ano?
Capobianco: Ainda estamos sistematizando esses dados.
O que podemos dizer é que a capacidade de
desmatar foi intensificada. Mato Grosso (estado
que respondeu por 48,1% do desmatamento total na
Amazônia de agosto de 2003 a agosto de 2004),
por exemplo, iniciou o desmatamento em janeiro,
época da chuva. Normalmente, isso acontecia
a partir de abril.
ABr: O professor
Aziz Ab’Saber também criticou o projeto de
Lei de Gestão de Florestas Públicas,
uma das principais apostas do ministério
contra o desmatamento. Segundo ele, o projeto resultou
de pressão de ONGs interessadas e deixa de
promover um redirecionamento do uso dessas áreas
– que, na opinião dele, deveriam priorizar
a proteção da biodiversidade. Além
disso, ele disse, poderia se complicar a retomada
dessas áreas no futuro, pela presença
de entidades e empresas estrangeiras.
Capobianco: É preciso dizer que o governo
atual possui o recorde histórico de criação
de reservas na Amazônia. Foram 8,3 milhões
de quilômetros quadrados, dos quais 60 % são
áreas de proteção integral.
E o uso sustentável, previsto nos outros
40 % das áreas, também promove a proteção
à biodiversidade. É uma visão
estreita essa (de que as duas coisas não
são compatíveis). A iniciativa do
projeto não tem nada a ver com pressão
de ONGs. Elas não fazem manejo e não
terão, portanto, nenhum benefício
nesse sentido. Nosso entendimento é o de
que o desmatamento não será combatido
com controle. A Amazônia não será
preservada só com polícia, mas também
com medidas de macroeconomia. Nosso objetivo para
as florestas públicas é mantê-las
públicas e como florestas. Com relação
a qualquer vínculo internacional, o que cabe
esclarecer é que o manejo só será
permitido a cooperativas nacionais e empresas regularmente
constituídas no Brasil.
ABr: O professor
também se queixa de que os especialistas
não estariam sendo ouvidos nesse e em outros
projetos.
Capobianco: Foram ouvidos vários especialistas,
em dezenas de ocasiões. A proposta passou
por reuniões, seminários. Foi aprovada
pela Comissão Nacional de Florestas – na
qual governo, academia, empresários, estados,
municípios, ONGs e a própria Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC,
da qual Ab’Saber é presidente de honra) estão
representados. Depois de encaminhada ao Congresso
como projeto de lei, passou por audiências
públicas. A ministra Marina Silva e sua equipe
técnica receberam o professor Aziz em longa
audiência.O que há é divergência
de visão, de encaminhamento. Não falta
de diálogo.
Fonte: Agência Brasil -
Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Pedro Biondi