|
PROJETO ABELHAS E POLINIZAÇÃO
DE PLANTAS NA VÁRZEA BENEFICIA INDÍGENAS
Panorama
Ambiental
Manaus (AM) – Brasil
Julho de 2005
|
|
(26/07/05) - Um
projeto desenvolvido pelo Grupo de Pesquisas em
Abelhas (GPA) do Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia (INPA) ensina tecnologias de criação
de abelhas para aproximadamente 30 comunidades do
interior do Estado. Os moradores são orientados
sobre como promover a criação de abelhas
em caixinhas racionais (colméias artificiais),
identificação das espécies
características de cada localidade, qual
o pasto apícola consumido (flores visitadas
pelas abelhas para retirada do néctar, pólen
e resina) e recebem informações sobre
implantação de criadores etc. O projeto,
denominado "Abelhas e Polinização
de Plantas da Várzea", foi iniciado
há dois anos, com investimento total de cerca
de R$ 384 mil e o objetivo principal é analisar
as condições para se promover a melipolinicultura
no Amazonas e gerar uma fonte alternativa de renda
para as comunidades.
Durante as pesquisas
de campo, que vêm acontecendo mensalmente,
são visitadas diversas comunidades indígenas,
pequenos agriculores, produtores rurais etc. Entre
elas, a Murutinga, localizada no município
de Autazes, pertencente à etnia Mura, a Marajai,
localizada no município de Alvarães,
próximo de Tefé, pertencente à
etnia Mayoruna, além da comunidade Vila Nova
do Andirá, que abrange os municípios
de Maués, Barreirinha, Parintins e Itaituba
(PA), pertencentes a etnia Saterê-Mawé.
Outra comunidade visitada foi a do Panelão,
localizada no Carero Castanho, que fica no assentamento
do Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra).
Segundo a pesquisadora
Gislene Carvalho, foram realizadas várias
oficinas nas comunidades. Um dos objetivos era conscientizar
as pessoas sobre a importância da preservação
da mata nativa pelos próprios moradores da
região visitada. Para isso, é necessário
apontar alternativas de fonte de renda para os mesmos.
"Eles aprenderam quais eram os pastos apícolas
ideais para as abelhas, eram orientados sobre como
promover a multiplicação das colméias
artificais. Ao mesmo tempo, fazíamos o controle
dos ninhos naturais presentes na floresta próxima
às comunidades para garantir que não
seriam retirados da arvores". E isso é
importante porque as abelhas são as principais
polinizadoras da floresta, são elas que contribuem
para a manutenção do bioma",
frisou, acrescentando que os criadores funcionam
como multiplicadores para o restante da comunidade.
"A atividade de meliponicultura contribui diretamente
para o aumento desses polinizadores nativos - as
abelhas indigenas sem ferrão - promovendo
assim a perpetuação das espécies
de árvores polinizadas por elas", completa.
Para Carvalho, o
trabalho realizado em parceria com as pessoas da
comunidade foi bastante promissor, porque houve
uma troca de informações. "Aprendemos
com eles os nomes comuns das abelhas e ensinávamos
o potencial econômico gerado por elas",
afirmou. A pesquisadora explicou que foram identificadas
oito espécies de abelhas específicas
para essas regiões com potencial para criação
racional, outras quatro espécies ainda estão
sendo pesquisadas quanto ao seu potencial. As espécies
testadas para a criação racional são
de ocorrência natural nas áreas visitadas,
sendo conhecidas como jupará (Melipona compressipes),
uruçu-boca-de-renda (Melipona seminigra),
jandaira, (Melipona rufiventris), jupará
(Melipona interrupta grandis), canudo (Scaptotrigona
nigrohyrta), uruçu (Melipona eburnea) e jandaira
amarela (Melipona crinita).
"Essas abelhas
são acostumadas com o ambiente em que vivem,
ou seja, a temperatura, o clima, o pasto etc. Quando
retiradas do seu habitat natural, elas tendem a
morrer e não há como reverter isso.
Vale ressaltar que os caboclos não podem
vender essas abelhas para agricultores de outras
regiões, porque elas não irão
resistir a outro clima. E isso é extremamente
importante se quisermos ter sucesso na criação",
afirmou.
Produção
- Dependendo do pasto apícola visitado, uma
colméia consegue produzir durante um ano
de 1 kg a 3 kg de mel (in natura). Para haver o
aumento dessa produção, é necessário
que haja seleção e melhoramento genético
das abelhas e a conseqüente orientação
dos produtores. "Isso poderá acontecer
em outra fase do projeto. Nós já estamos
pensando nisso", destacou a pesquisadora Gislene
Carvalho, do Grupo de Pesquisas em Abelhas (GPA/Inpa).
Ela explica que as
colméias que produzem pouco mel têm
que ter a abelha rainha retirada e morta. Ali seria
colocada uma nova rainha vinda de uma colméia,
que tem uma produção de mel elevada.
Segundo Carvalho, antes de tomar essa decisão,
há um problema para ser resolvido. A abelha
rainha que será colocada na colméia
receptora poderá ser morta pelas abelhas
operárias. "Isso acontece porque ela
libera feromônios diferentes da que foi retirada.
A questão é solucionada quando colocamos
a rainha com mais quatro operárias em um
bobe (do tipo que se usa em cabelo) contendo xarope
açucarado para alimentação
da rainha. Esse bobe fica envolto com cera de abelha.
Após se adaptarem à nova rainha, elas
começam a romper a proteção",
afirmou.
Gislene Carvalho
explicou que com todas essas técnicas que
foram repassadas já é possível
produzir mel em larga escala. E o próximo
passo é orientá-los sobre comercialização
e distribuição do produto. "O
objetivo é trazer um especialista sobre o
assunto. Queremos estimular a criação
de cooperativas para escoar a produção
e assim ganhar mais no preço", ressaltou.
Ela disse que hoje, um quilo de mel de abelha sem
ferrão, que são espécies comuns
na região, custa cerca de R$ 30,00. Durante
o ano, são possíveis duas ou três
colheitas, no máximo, o que limita o abastecimento
do mercado sendo necessária produção
conjunta por cooperativas e associações.
Início - O
projeto teve iniciou em 2002, quando foram aprovadas
duas propostas, uma pelo Instituto Brasileiro de
Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis
(Ibama), cerca de R$ 384 mil, por meio do projeto
Pró-Várzea, e outra pela Superintendência
da Zona Franca de Manaus (Suframa), R$ 345 mil.
Os recursos foram investidos em pesquisas de campo,
construção de um novo prédio
para o setor e na elaboração da cartilha
"Criação de Abelhas Sem Ferrão",
para ser distribuída nas comunidades onde
a pesquisa foi realizada.
Fonte: Ibama (www.ibama.gov.br)
Ascom/Provárzea