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CBA INICIA NOVA INVESTIDA
PARA APROVAÇÃO DE TIJUCO ALTO
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Agosto de 2005
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Em reunião
do Comitê de Bacia Hidrográfica do
Ribeira de Iguape, realizada no sábado 27,
técnicos da Companhia Brasileira de Alumínio
apresentaram resumo do novo EIA/Rima do projeto
da usina hidrelétrica e tentaram demonstrar
que se trata de um empreendimento ambientalmente
viável. Lideranças do movimento contrário
à construção de barragens na
região, porém, compareceram em massa,
apontaram falhas nos estudos e reafirmaram que não
aceitarão a destruição do rio
Ribeira em benefício privado.
O primeiro round
em torno da polêmica construção
da usina hidrelétrica de Tijuco Alto, no
Vale do Ribeira, no sul do estado de São
Paulo, foi um jogo de cartas marcadas. De um lado,
os técnicos da Companhia Brasileira de Alumínio
(CBA), proponente do projeto, e da Cnec Engenharia,
empresa contratada para realizar o Estudo e Relatório
de Impacto Ambiental (EIA/Rima) e defender a idéia
de construção do empreendimento. Ao
lado deles, alguns políticos da região
- que sempre se posicionaram favoravelmente à
construção das barragens no Ribeira
de Iguape, mesmo sem saber muito bem quais seriam
suas conseqüências. Do outro lado, mais
de uma centena de quilombolas de todo o Vale do
Ribeira - que chegaram à cidade de Registro
(SP) em dois ônibus lotados - ambientalistas
e representantes de movimentos sociais da região
ouviam com atenção tudo o que estava
sendo exposto, sem no entanto perceber qual era
a grande novidade anunciada.
Afinal de contas,
a essência do projeto continua a mesma: construir
barragens no Ribeira que inundarão áreas
de pequenos produtores, de comunidades remanescentes
de quilombos, de Unidades de Conservação,
e que mudarão para sempre o rio. Tudo isso
para viabilizar a geração de energia
para a produção de alumínio
de uma empresa privada. Percebendo que o projeto
continua o mesmo, e que as mudanças alardeadas
pela CBA são meramente cosméticas,
o quilombola José Rodrigues da Silva, da
comunidade de Ivaporunduva, perguntou: “eu sou obrigado
a aceitar que construam uma barragem no nosso rio
para que um empresário possa aumentar os
seus lucros? Eu quero que o rio continue público,
para o uso de todos”.
O
quilombola José Rodrigues fala na reunião
do CBH do Ribeira: o rio não pode ser privatizado
Esse questionamento
não pôde ser respondido pela equipe
técnica presente na reunião, cujo
único intuito era o de convencer os presentes
que a construção da barragem não
iria trazer problemas, como se fosse possível
fazer um omelete sem quebrar ovos. Os técnicos
tentaram, em apenas uma hora de exposição
e com o auxílio de imagens computadorizadas,
convencer os presentes a reunião do comitê
de bacia de que estavam apresentando um “novo projeto”,
já sem problemas ambientais ou sociais, cuja
implantação seria totalmente viável.
Nesse sentido, anunciaram
que o projeto havia sido modificado e que, com sua
nova concepção de engenharia, já
não seria necessário secar um trecho
de aproximadamente cinco quilômetros do Ribeira,
entre o paredão de concreto da barragem e
as cidades de Ribeira e Adrianópolis. O “salvamento”
desse trecho de rio foi apontado pelos defensores
do projeto como seu atestado de viabilidade ambiental,
como a grande novidade que agora lhe permitiria
ser concluído. Mas se esqueceram de ressaltar
que os 71,5 quilômetros quadrados de área
alagada, que se estendem por mais de 50 quilômetros
rio acima, continuam a existir.
Contra a degradação
do Vale do Ribeira
A exposição
feita na reunião do dia 27/08 do CBH do Ribeira
de Iguape expõe publicamente a reinvestida
da CBA para aprovar o projeto de construção
da hidrelétrica, que já havia sido
rejeitado pelo Ibama em 2003. Tijuco Alto é
objeto de uma antiga disputa da empresa com os movimentos
sociais da região e com grupos ambientalistas
de São Paulo e Paraná, que não
querem que o Vale do Ribeira - que abriga o maior
remanescente de Mata Atlântica de todo o país
- seja degradado para gerar energia elétrica
à baixo custo para grupos empresariais de
outras regiões. A CBA inclusive organizou
recentemente algumas reuniões com pequenos
grupos de agricultores no Alto Vale do Ribeira,
mas somente agora a discussão de Tiuco Alto
foi aberta à sociedade em geral, mesmo sem
que o EIA tenha sido oficialmente entregue ao Ibama,
que avaliará a viabilidade ambiental do "novo
projeto" da usina.
A construção
da barragem de Tijuco Alto, além de impactos
diretos no próprio rio, irá inundar
quatro bairros rurais e terras de aproximadamente
576 famílias que sobrevivem da agricultura
familiar. Segundo dados apresentados na exposição
pública, essas são as melhores terras
para o plantio da região, por se situarem
às margens do rio numa região bastante
montanhosa. Para os especialistas da CNEC isso não
traria muito problema, já que a região
é pobre e a agricultura incipiente, opinião
que não é compartilhada por todos
os que terão suas terras afetadas. Leia aqui
reportagem sobre o passivo social de Tijuco Alto.
O próximo
passo do caso Tijuco Alto é a entrega pela
CBA do EIA/Rima ao Ibama, que o analisará
e abrirá prazo para a convocação
de audiências públicas, quando então
todos terão oportunidade de conhecer e avaliar
o projeto, não só de seu ponto de
vista técnico, mas principalmente social.
Afinal, ninguém até hoje conseguiu
explicar qual o benefício que a região
terá ao arcar com os impactos socioambientais
de uma barragem que visa produzir energia para a
CBA aumentar sua produção de alumínio.
Fonte: Instituto Socioambiental
(www.isa.org.br)
Assessoria de imprensa