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ÍNDIOS APROVEITAM
KUARUP PARA PEDIR PRESERVAÇÃO
DAS NASCENTES DO XINGU
Panorama
Ambiental
Alto Xingu (MT) – Brasil
Agosto de 2005
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O Kuarup, homenagem
tradicional aos mortos ilustres do Xingu, foi também
palco este ano de articulações políticas
em prol da preservação ambiental.
A cerimônia que se encerrou ontem (26) aconteceu
este ano na aldeia kuikuro de Ipatse. Um dos líderes
kalapalo, Kurikaré, aproveitou a presença
no evento do coordenador de Políticas Indígenas
de Mato Grosso, José Seixas da Silva, para
pedir que o governo do estado desautorize a construção
das barragens Paranatinga I e II, no rio Culuene,
cerca de 100 km ao sul do parque.
Segundo o antropólogo
Carlos Fausto, do Museu Nacional da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, os Kalapalo dizem ser
possível demonstrar por vestígios
arqueológicos que a área era ocupada
por seus ancestrais e relacionam esse território
às origens históricas do próprio
Kuarup. Kurikaré considera a área
"sagrada". O governo do estado alega que
o projeto é particular e que não pode
se envolver na questão. As obras estão
atualmente paradas por ordem da Justiça Federal.
Fausto lembra que
o problema de as nascentes não estarem dentro
dos limites do parque remonta à sua demarcação,
no início da década de 60. Ele conta
que o projeto original, defendido pelos irmãos
Villas Boas, por Darcy Ribeiro e pelo marechal Cândido
Rondon junto a Getúlio Vargas, previa uma
área quatro vezes maior para o parque. Por
causa da redução, várias áreas
que podem ser cientificamente comprovadas como indígenas
e que ficam na região das nascentes, explica,
ficaram de fora dos limite do parque. "Metade
das terras kalapalo está fora, por exemplo",
diz ele.
Segundo a antropóloga
e sanitarista Cibele Verani, pesquisadora da Fundação
Oswaldo Cruz e uma das convidadas para o Kuarup,
a devastação na região já
se constitui num "enorme problema de saúde"
no parque." Vinte anos atrás, nós
tínhamos água limpa para beber em
qualquer uma dessas aldeias. Hoje, a maioria das
pessoas já não pode beber água
de alguns rios. E, de lá pra cá, nós
temos visto a poluição descer, inclusive
fazendo escassear a pesca", conta ela.
O Parque Indígena
do Xingu conta atualmente com cerca de 2,6 milhões
de hectares e tem hoje quase 5 mil habitantes. Junto
com a área Kayapó, com que faz divisa
ao norte, constitui-se, segundo a Fundação
Nacional do Ìndio, na maior área contínua
de preservação da sociobiodiversidade
brasileira, num total de quase 15 milhões
de hectares.
O problema é
que, ao sul, ficam fora do parque as nascentes dos
rios formadores do Xingu, o principal da região,
e considerado o maior "rio indígena"
do Brasil, pela grande quantidade dessas comunidades
às suas margens. Em volta das nascentes de
rios como Culuene, Tanguro, Arraias, Ronuro, Batovi
e Curisevo, têm se alastrado nos últimos
anos as lavouras extensivas de soja e algodão.
Em algumas fazendas,
como é visível de avião, as
plantações não respeitam as
matas ciliares, e as marcas de erosão se
multiplicam. O resultado já perceptível
pelos índios é o assoreamento. "Hoje,
dá pra atravessar a pé o rio. Antigamente,
era fundo", conta Fadiuvi, líder dos
índios kalapalo. Ele conta também
que as comunidades se incomodam com a presença
crescente do turismo de pesca nos rios da região.
O lixo deixado nas praias pelos turistas desce para
dentro do parque na época das chuvas, e aparece
na barriga dos peixes e tartarugas que servem de
alimentação para os xinguanos – tradicionalmente,
todos os povos do Alto Xingu evitam a carne de caça.
O que os índios
temem, mas ainda não dispõem de estudos
para comprovar, é a possível contaminação
das águas por agrotóxicos. Segundo
Carlos Fausto, o perigo é real, principalmente
por causa desse hábito xinguano de comer
peixe. "Nós sabemos que os efeitos da
acumulação de alguns componentes,
como os metais pesados, na carne do peixe, só
são sentidos a longo prazo", alerta
ele.
Fonte: Radiobras – Agência
Brasil (www.radiobras.gov.br)
Spensy Pimentel