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KUARUP UNE HOMENAGENS A APOENA E PROTESTOS CONTRA DESMATAMENTO

Panorama Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Agosto de 2005

Na última quinta-feira (25), os índios Kuikuro do Alto Xingu celebraram o Kuarup, grande ritual funerário dos povos xinguanos. A cerimônia marca um rito de passagem em que os mortos são representados por toras de Kuarup, uma madeira nobre que durante a festa fica plantada no centro da aldeia. Cada família enfeita o seu “morto” e o chora um dia e uma noite. Na crença indígena, o ritual marca o momento em que os espíritos se libertam de seus vínculos com o mundo terreno.

Funai
Na festa deste ano foram homenageados três índios e um branco, o sertanista Apoena Meireles, assassinado em outubro do ano passado em um assalto. O cacique Nahu, morto após uma parada cardíaca com quase 100 anos, sua mulher, Sesuaka, que morreu de tristeza logo depois que o companheiro se foi, e a índia Auamajá, que faleceu de velhice, também teve seu espírito evocado durante a festa.

Francisco Meirelles, um dos filhos de Apoena esteve presente ao Kuarup, com Ana Valéria Cassola, segunda mulher do sertanista, e Susi, filha caçula do casal. Para Francisco, a festa foi uma grande homenagem ao pai, mas ele ainda lamenta que o assassinato de Apoena tenha ficado impune -o menor que assassinou o sertanista, escapou da prisão.

A cerimônia se inicia com os índios cortando e carregando sob os ombros as toras de madeira, que são enfeitadas com faixas e cocar. O Kuarup começou no fim da tarde de quinta-feira, quando os cantores das tribos entoaram cânticos de homenagem aos mortos. De madrugada, os anfitriões Kuikuro ofereceram peixe e beiju aos convidados. Neste ano estiveram presentes representantes das etnias Yawalapiti, Kalapalo, Kuikuro, Kamayurá, Matipu, Mehinaku e Nahukuá.

Quando o dia amanheceu na sexta-feira (26), o choro pela morte começou a se transformar em alegria, e logo houve uma dança para comemorar o fim do luto. Naquele momento, todas as atenções estavam voltadas para um grupo de 12 meninas que foram confinadas na época em que tiveram sua primeira menstruação. Esse ritual marca a passagem entre a infância e a vida adulta -ao final, as meninas já estão prontas para casar.

A luta do Huka-Huka marca o fim do funeral. No meio da aldeia, os guerreiros lutam representando sua aldeia. Eles se enfrentam imitando o rugido das onças. Ganha quem derruba o adversário. Após as lutas, as moças que estavam em reclusão na aldeia foram apresentadas aos visitantes. Uma delas chegou a se casar, no início da tarde.

Protesto

Os índios do Parque do Xingu aproveitaram as festividades do Kuarup para denunciar que a região começa a sofrer com a ameaça do desmatamento das madeireiras e das plantações de soja. A poluição das nascentes dos afluentes do Rio Xingu também é outro problema que preocupa os cerca de 4.800 índios que vivem na região. Segundo o cacique da aldeia sede do Kuarup, Afukaká Kuikuro, os líderes do Xingu não estão de acordo com a retirada de madeira do parque e pretendem fazer uma nova reunião depois da homenagem aos mortos.

O presidente da Funai, Mércio Gomes Pereira, também presente ao Kuarup, explicou que o órgão fechou uma serraria e que a grande dificuldade é o fato de a Fundação ainda não possuir poder de polícia. Uma medida provisória, no entanto, já está sendo preparada para que os funcionários da Funai possam autuar empresas irregulares e prender os responsáveis por crimes ambientais.

Apoena

José Apoena Soares de Meirelles conviveu com índios desde os quatro anos de idade, acompanhando o pai, Francisco Meirelles, no contato com os índios isolados da floresta. Desde essa época, desenvolveu a vocação que o consagrou como um dos maiores sertanistas do país. Desde os 20 anos, Apoena era sertanista de destaque da Funai. Para ele “o índio é um ser dotado das mesmas capacidades de desenvolvimento dos não índios”.

Apoena Meirelles foi assassinado na noite do dia 09 de outubro de 2004, aos 55 anos, depois de ser vítima de um assalto em uma agência do Banco do Brasil de Porto Velho, Rondônia. Em sua última missão, o sertanista coordenava a força-tarefa criada para impedir a entrada de garimpeiros na terra dos Cinta-Larga e na área de mineração de diamantes da Reserva Roosevelt.

Fonte: FUNAI – Fundação nacional do Índio (www.funai.gov.br)
Assessoria de imprensa
Fotos: Arquivo Funai

 
 
 
 

 

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