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NÚMEROS DIVULGADOS
PELO GOVERNO APONTAM DIMINUIÇÃO
EXPRESSIVA DOS ÍNDICES DE DESMATAMENTO
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Agosto de 2005
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Dados não
constituem uma taxa de desmatamento, mas fornecem
indícios confiáveis de uma forte tendência
de queda dos desmates em toda região amazônica.
Para o governo, fato tem relação direta
com as medidas de ordenamento fundiário e
de fiscalização realizadas a partir
do lançamento do Plano de Ação
para Prevenção e Combate ao Desmatamento
na Amazônia. Ministério do Meio Ambiente
(MMA) diz que vai criar mais 15,5 milhões
de hectares em Unidades de Conservação
federais.
Uma tendência
de diminuição expressiva nos índices
de desmatamento na Amazônia é o que
apontam números divulgados pelo governo federal
na última sexta-feira, dia 26 de agosto,
em Brasília. Os dados apresentados pela ministra-chefe
da Casa Civil, Dilma Rousseff, e pela ministra do
Meio Ambiente, Marina Silva, foram coletados pelos
satélites do Sistema de Detecção
em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe), e não podem ser
analisados como uma taxa sobre área total
desmatada, mas fornecem indícios confiáveis
para apontar uma inclinação acentuada,
no caso, de queda dos desmates em toda região
amazônica.
Os números
anunciados agora não permitem nem mesmo fazer
comparações precisas entre períodos
de tempo. As imagens do Deter, que foi desenvolvido
para fornecer informações em tempo
praticamente real para subsidiar ações
rápidas de fiscalização em
campo, são de regiões diferentes e
menos detalhadas que aquelas captadas pelo Prodes,
programa responsável pelas taxas oficiais
que o governo apresenta todo ano, mas com atraso
de vários meses. O Deter não capta
os pequenos desmatamentos, menores que 6,5 hectares.
Além disso, a quantidade de nuvens presentes
em cada área observada também gera
distorções que, na composição
dos índices, têm de ser levadas em
conta. Assim, o Deter apresenta sempre números
subestimados em relação ao Prodes.
Para não ser
pego de surpresa, o governo preferiu divulgar índices
sem qualquer tipo de margem de erro ou desvio (usados
para tentar compensar as diferenças entre
os dois sistemas), como fez, em dezembro do ano
passado, quando trouxe a público os números
para o período de julho de 2003 a julho de
2004. Na ocasião, o Deter registrou uma estimativa
entre 23,1 mil e 24,4 mil quilômetros quadrados
de floresta destruídos, resultados obtidos
com a aplicação de 15% e 20%, respectivamente,
de margem de erro para cima. Como se sabe, a taxa
oficial fixada pelo Prodes, em maio deste ano, para
o mesmo período de julho de 2003 a julho
de 2004, ficou em 26 mil quilômetros quadrados,
o segundo maior índice da história
e um tremendo desgaste para a administração
Lula.
Segundo as informações
do Deter divulgadas na sexta-feira, nos últimos
11 meses, do final de agosto de 2004 ao final de
julho de 2005, apenas 9,1 mil quilômetros
quadrados de florestas teriam sido derrubados na
Amazônia. Entre 2003 e 2004, o número
registrado pelo Deter foi de 18,7 mil quilômetros
quadrados.
Mato Grosso
Pouco depois da entrevista
coletiva em que foram divulgados os dados, o Instituto
do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)
apresentou números obtidos com uma metodologia
desenvolvida a partir das informações
oferecidas pelo Deter para calcular taxas de desmatamento
em termos de área. Segundo a organização,
a derrubada de florestas na Amazônia teria
ficado na casa dos 15.909 quilômetros quadrados,
36% a menos que a taxa oficial para o período
entre 2003 e 2004. De acordo com o Imazon, o Mato
Grosso deve continuar sendo o campeão dos
desmates e teria apresentado o menor índice
de redução na derrubada de árvores
(- 33%) entre todas as unidades da Federação
na Amazônia. O Estado teria ampliado sua participação
de 48% sobre o total de desmatamentos, no período
anterior, para 60%, registrados agora. Conforme
as informações do MMA, dos 30 municípios
com as maiores áreas desmatadas, os únicos
seis que apresentaram acréscimos em seus
índices estão no Mato Grosso: Peixoto
de Azevedo (+284%), Matupá (+ 80%), Feliz
Natal (+ 27%), União do Sul (+22%), Paranatinga
(8%) e Juara (+3%).
Ainda segundo números
do Imazon, o desmatamento detectado em toda a Amazônia,
entre junho e julho deste ano, teria sido multlplicado
por mais de cinco vezes, passando de 697 quilômetros
quadrados para 4 mil quilômetros quadrados.
O Mato Grosso teria quadriplicado sua taxa entre
os dois meses. “Este é um dado que nós
não temos; o do sistema [Deter] apresenta
um ligeiro aumento em julho, uma queda muito abrupta
em junho”, respondeu o secretário de Biodiversidade
e Florestas do MMA, João Paulo Capobianco,
quando questionado sobre a informação.
Para Capobianco, o índice mato-grossense
de julho está em um patamar “aceitável”
e teria sido motivado pelo adiamento de algumas
operações de fiscalização.
As informações
apresentadas no Palácio do Planalto dão
conta de que os Estados do Pará e do Tocantins
apresentaram a maior tendência estimada de
queda nos índices: -81%. Os percentuais restantes
são os seguintes: -65% (Acre), -52% (Amazonas),
-46% (Maranhão) e –38% (Rondônia).
O governo não apresentou números para
Roraima e Amapá.
Ordenamento
fundiário e fiscalização
Para o governo, a
possível queda geral dos índices em
toda Amazônia tem relação direta
com as medidas de ordenamento fundiário e
de fiscalização previstas no Plano
de Ação para Prevenção
e Combate ao Desmatamento na Amazônia, lançado
em março de 2004. A iniciativa teria ampliado
a presença do Estado na região e coibido
a ação de grileiros e de madeireiras
ilegais. A criação de Unidades de
Conservação (UCs) federais em zonas
de conflito fundiário e de expansão
da fronteira agrícola teria sido bastante
importante na queda dos níveis do desmatamento,
sobretudo no Pará. As operações
Curupira I e II, no Mato Grosso, que chegaram a
prender dezenas de pessoas e desbarataram uma quadrilha
de exploração ilegal de madeira, também
teriam contribuído para a tendência.
Segundo as informações
do Deter, haveria uma queda de cerca de 90% nos
desmatamentos na Estação Ecológica
da Terra do Meio e na região da rodovia BR-163
(Cuiabá-Santarém) sob "limitação
administrativa provisória", ambas localizadas
no Pará. As duas áreas foram criadas
pelo último pacote ambiental lançado
pelo governo, em fevereiro, em resposta ao assassinato
da freira Doroty Stang (confira).
“Nós pretendemos
que haja um ciclo duradouro de redução
nas taxas de desmatamento”, afirmou a ministra Dilma
Roussef. Ela voltou a repetir o discurso de que
o governo não tem atuado de forma isolada
ou pontual, mas adotado medidas “estruturantes”
que pretendem alavancar o desenvolvimento sustentável
da Amazônia. Dilma garantiu que todos os 13
ministérios envolvidos no plano de combate
ao desmatamento estão compromissados com
seus objetivos. Em uma reunião com representantes
da sociedade civil ocorrida antes da entrevista,
a chefe da Casa Civil disse que, para o plano dar
certo, é fundamental que o Grupo de Trabalho
Interministerial (GTI) criado para executá-lo
trabalhe em sintonia com o Grupo de Trabalho (GT)
de Florestas do Fórum Brasileiro de ONGs
e Movimentos Sociais pelo Meio Ambiente e o Desenvolvimento
(FBOMS).
No dia 15 de agosto,
o GT enviou à Dilma uma carta com críticas
em relação às ações
do governo previstas pelo plano. Para o GT, as iniciativas
da administração federal para o setor
continuam sendo "esporádicas e demonstrativas".
Entre outros pontos, a carta lista também
a falta de recursos orçamentários
e a desarticulação administrativa
entre os ministérios envolvidos como causas
para o baixo índice de execução
das ações. As 22 entidades que compõem
o grupo, entre elas o ISA, aguardavam, desde o dia
7 de julho, por uma resposta da ministra a um pedido
de audiência (saiba mais). Dilma garantiu
que vai encontrar-se com representantes do GT de
Florestas nos próximos dias.
Alguns dias depois
do envio da carta, circulou na Internet a denúncia
de que os R$ 28 milhões destinados, este
ano, às ações de fiscalização
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) teriam se esgotado.
Outros R$ 8 milhões permaneceriam contingenciados
pelo Ministério do Planejamento e, portanto,
não poderiam ser gastos.
Durante a reunião
com a ministra Dilma, o advogado André Lima,
do ISA, lembrou que a análise feita pelo
MMA sobre os efeitos das ações do
Plano de Combate aos Desmatamentos precisa considerar
também a conjuntura econômica desfavorável
à agricultura, principalmente a forte valorização
do Real, taxas de juros elevadas, alta no preço
do petróleo e dos insumos agrícolas
e queda expressiva no preço de commodities
importantes, como carne e soja. “Temos de comemorar
a tendência de queda expressiva sim, mas com
cautela, pois num cenário mais favorável
ao agronégócio as medidas de comando
e controle enfrentarão as limitações
de praxe”, afirmou.
Lima avalia que o
estudo Sistema de Licenciamento Ambiental em Propriedades
Rurais do Estado do Mato Grosso: análise
de lições na sua implementação,
elaborado pelo ISA a pedido do MMA, demonstrou os
desafios a serem superados para dar maior consistência
e eficácia ao trabalho dos órgãos
ambientais. O sistema mato-grossense de controle
ambiental é considerado o mais sofisticado
do País. “Esperamos que o decreto com novas
medidas, que o governo disse que vai assinar nos
próximos dias, incorpore nossas sugestões,
dentre elas a obrigatoriedade do embargo do uso
das áreas desmatadas ilegalmente, para evitar
a consumação do dano e reduzir a expectativa
de lucro com a infração, assim como
a exigência do depósito prévio
de 50% do valor da multa como condição
para recurso administrativo, evitando assim recursos
meramente protelatórios.”
Mais 15,5
milhões de hectares em UCs
O secretário
de Biodiversidade e Florestas do MMA, João
Paulo Capobianco, afirmou que o governo pretende
criar mais 15,5 milhões de hectares em UCs
federais, entre este e o próximo ano. Segundo
dados do MMA, caso a meta seja confirmada, o presidente
Lula chegaria ao final de seu mandato com o saldo
de 23,9 milhões de hectares em UCs federais
criadas. Também foi anunciado a criação
da figura do Distrito Florestal Sustentável,
que deverá contar com instrumentos jurídicos
e programas especiais na área de manejo florestal,
política fundiária, agrária
e industrial, entre outros. O primeiro distrito
deverá ser criado na área de influência
da BR-163, terá cerca de 16 milhões
de hectares e, segundo o MMA, poderá gerar
até 100 mil empregos.
Capobianco também
anunciou a publicação do Decreto Federal
nº 5.523 de 25/8/2005, que aumentou de R$ 1,5
mil para R$ 5 mil por hectare a multa por desmatamento
ilegal de área de Reserva Legal, independentemente
de sua averbação no cartório
de registro de imóveis. Nos próximos
dias, deverá ser assinado um outro decreto,
que obrigará os governos estaduais da Amazônia
a criar sistemas de licenciamento ambiental em propriedades
rurais semelhantes àquele já existente
no Mato Grosso. Além disso, determina que
os órgãos do Sistema Nacional de Meio
Ambiente publiquem em seus sítios na Internet
informações sobre licenças
ambientais, multas e sanções administrativas.
As duas medidas já haviam sido sugeridas
pelo estudo realizado pelo ISA no Mato Grosso.
O governo não
descartou a hipótese de adotar uma moratória
para novos desmatamentos em áreas acima de
3 hectares em municípios previamente selecionados
de toda a Amazônia. “Estamos analisando objetivamente
esta proposta. Ela está colocada no âmbito
do governo federal. Estamos avaliando a necessidade
de fazê-la agora”, informou João Paulo
Capobianco. Ele explicou que a medida pode não
ser colocada em prática caso seja confirmada
a tendência de queda nos índices de
desmatamento.
O secretário
avaliou que as negociações entre o
governo do Mato Grosso e a administração
federal sobre um pacote de medidas contra o desmatamento
estão avançando. “É um negócio
que não é fácil porque era
um Estado que tinha uma forma de atuar muito independente
de uma gestão mais integrada. A Operação
Curupira foi muito importante para mostrar para
o governo do Estado que nós precisamos trabalhar
juntos. Estamos construindo uma agenda conjunta”.
Capobianco disse que é possível que
já na próxima reunião do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (Conama), no dia 2 de
setembro, em Cuiabá (MT), seja assinado um
termo de cooperação detalhado com
o governo estadual. Além da criação
de Unidades de Conservação, uma medida
que pode ser anunciada é a implantação
de um sistema de certificação ambiental
para os produtores rurais do Estado.
BR-163 x
BR-319
“A BR-163 é
a prioridade do governo”, garantiu a ministra Marina
Silva, quando questionada a respeito da iniciativa
do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento,
de investir, este ano, R$ 100 milhões no
reasfaltamento da rodovia BR-319, que liga Porto
Velho (RO) a Manaus (AM). O Plano BR-163 Sustentável
do governo federal é indicado no Plano de
Combate ao Desmatamento como prioritário
no planejamento de ações socioambientais
para diminuir o impacto de grande obras de infra-estrutura
na Amazônia. A reforma da estrada que atravessa
o Amazonas e Rondônia têm sido apontada
justamente como uma indicação de que
o governo federal não consegue definir prioridades
no planejamento dessas obras, o que neutralizaria
várias das medidas de controle ambiental
propostas por Brasília.
Marina lembrou que
a discussão sobre a BR-163 já envolveu
18 ministérios, inclusive o de Transportes,
prefeituras, governos estaduais e milhares de pessoas.
A ministra classificou de “paradigmático”
o caso da estrada que atravessa o Pará e
o Mato Grosso, referindo-se a todas as ações
de controle ambiental que estão sendo adotadas
a partir de debates e consultas públicas,
e disse que concorda com a decisão da Justiça
Federal do Amazonas que paralisou as obras na BR-319
por causa da inexistência de um Estudo de
Impacto Ambiental (EIA).
Fonte: Instituto Socioambiental
(www.isa.org.br)
Assessoria de imprensa (Oswaldo Braga de Souza)