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“NENHUM KATRINA FARÁ
BUSH PRESTAR ATENÇÃO AO MEIO
AMBIENTE”
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Setembro de 2005
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08/09/2005 - Em visita
ao ISA, o biólogo americano Thomas Lovejoy
falou sobre a ausência das questões
ambientais na agenda americana, definiu as principais
ameaças à floresta amazônica
e disse que os projetos de manejo sustentável
na região são um grande desafio.
O biólogo
Thomas Lovejoy, considerado um dos mais importantes
ambientalistas dos Estados Unidos, visitou a sede
do Instituto Socioambiental em São Paulo
na última terça-feira, 6 de setembro,
quando participou de uma reunião aberta a
todos os funcionários da casa.
Na ocasião,
Lovejoy falou de sua trajetória de cientista
e ativista e de sua relação com o
Brasil, em particular com a Amazônia. Também
comentou três temas que o preocupam e sobre
os quais ele tem se debruçado recentemente,
que são, em sua opinião, os maiores
riscos para o futuro da floresta amazônica:
a alteração do ciclo hidrológico
da floresta causada pelo desmatamento - o que provocaria
a diminuição das chuvas e a transformação
de áreas úmidas em secas -, os projetos
de infra-estrutura, como a abertura de estradas,
e por fim, o aquecimento global. "Nós
não sabemos quais seriam os efeitos destes
processos sobre a região amazônica,
mas eles certamente ocorrerão. O ciclo hidrológico,
as estradas e o efeito estufa podem resultar em
uma sinergia muito destrutiva", disse Lovejoy.
O biólogo
falou em especial sobre o projeto de abertura de
um eixo rodoviário para ligar as cidades
brasileiras da Amazônia ao Oceano Pacífico,
cortando a floresta em direção aos
portos do Peru. A cerimônia de lançamento
da Rodovia Interoceânica, por sinal, ocorre
nesta quinta-feira, 8 de setembro, em Puerto Maldonado,
no Peru, e contou com a presença do presidente
Lula. “Os impactos deste empreendimento serão
continentais”, prevê o pesquisador.
Manejo de florestas
é o grande desafio
Em sua opinião,
os problemas ambientais do planeta - como o aumento
da acidez dos oceanos (o PH) e o efeito estufa -
vêm sendo ignorados pelo governo dos Estados
Unidos e pela mídia de seu país. "Nem
a tragédia provocada pelo furação
Katrina vai fazer Bush ou o seu governo prestar
atenção a estas questões ambientais",
afirmou. "Vivemos na América uma época
muito estranha. Todo a atenção do
país é para problemas de curto prazo,
ninguém pensa a longo prazo. Vejo que no
Brasil e na Europa existe uma cobertura da mídia
muito mais completa sobre o meio ambiente do que
nos EUA".
Thomas Lovejoy falou
ainda que o manejo sustentável de florestas
é um dos maiores desafios para a preservação
da Amazônia e que o projeto de concessão
de florestas públicas à iniciativa
privada, ainda que positivo, não deve começar
a ocorrer em grande escala. "Temos no mundo
boas e más experiências, então
é melhor o Brasil começar com calma
para ver quais serão os resultados por aqui",
avaliou o pesquisador, que esteve no ISA acompanhado
pelo ambientalista Paulo Nogueira Neto, uma das
maiores autoridades em meio ambiente do Brasil,
e por José Pedro de Oliveira Costa, ex-secretário
de Florestas e Biodiversidade do Ministério
do Meio Ambiente, na gestão José Sarney
Filho, e é atualmente assessor da Secretaria
de Meio Ambiente de São Paulo.
Quem é Lovejoy
Consultor-chefe de
biodiversidade do Banco Mundial e presidente do
Centro de Ciência H. John Heinz III, Lovejoy
foi dirigente do WWF-EUA por muitos anos e é
considerado um especialista em Brasil, onde residiu
por 17 anos. Em 1980, cunhou o termo biodiversidade
e ajudou a levar a questão da conservação
da Amazônia ao interesse da opinião
pública norte-americana. É dele o
conceito do "tamanho crítico mínimo"
no projeto ecossistema, que serviria para definir
as áreas de parques e demais unidades de
conservação. Em 1988 recebeu a comenda
da Ordem do Rio Branco do governo brasileiro, sendo
o primeiro ambientalista ganhar tal distinção.
É também o autor do conceito de "troca
débito para a natureza" para envolver
o mercado de ações na criação
de áreas de preservação.
Lovejoy trabalhou
como cientista-chefe e conselheiro do Smithsonian
Institute e como conselheiro da ciência e
meio ambiente para a secretaria de Negócios
Internos do governo dos EUA durante os anos Ronald
Reagan, George Bush pai e Bill Clinton. Amigo do
ex-vice-presidente Al Gore, foi idealizador da série
Nature da rede de televisão CNN. Ganhou no
ano passado o prêmio Tyler por "realização
ambiental". Possui verbete próprio na
enciclopédia virtual Wikipedia.
Fonte: Instituto Socioambiental
(www.isa.org.br)
Assessoria de imprensa