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CEARENSE REGISTROU PRIMEIRA
PATENTE DE PRODUÇÃO DE BIODIESEL
EM TODO O MUNDO
Panorama
Ambiental
Fortaleza (CE) - Brasil
Setembro de 2005
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21/09/2005 – Até
2008, passa a ser obrigatório no Brasil misturar
a todo o óleo diesel que consumimos 2% de
biocombustível produzido a partir de óleo
vegetal, o chamado biodiesel. O governo federal
avalia que será necessário produzir
quase 1 bilhão de litros por ano para atender
essa demanda. E essa produção não
será feita apenas com matéria-prima
brasileira, mas também com tecnologia genuinamente
nacional. A primeira patente mundialmente registrada
de um processo de produção industrial
de biodiesel foi registrada por Expedito Parente,
65, engenheiro químico cearense.
A transesterificação,
então patenteada por Parente, é, ainda
hoje, o principal processo industrial utilizado
no país para a fabricação do
biodiesel. A primeira usina a operar em escala comercial
na região do semi-árido nordestino,
em Floriano (PI), por exemplo, tem Parente como
consultor.
A idéia para
a descoberta, lembra ele, não se deu no ambiente
de um laboratório de alta tecnologia, ou
no escritório de uma megaempresa multinacional.
Veio da observação de uma vagem do
ingazeiro, segundo ele, semelhante à molécula
do biodiesel.
Nestes tempos em
que o barril de petróleo beira US$ 70 e os
países ricos devem cumprir compromissos políticos
de diminuir suas emissões de gases responsáveis
pelo aquecimento global, o país redescobre-se
vanguarda no campo dos biocombustíveis. Nesta
entrevista, concedida no modesto escritório
da Tecbio, a empresa que Parente criou dentro do
Núcleo de Tecnologia da Universidade Federal
do Ceará, o professor conta a história
de uma invenção que esperou 30 anos
para revolucionar o país.
Agência Brasil
- Como surgiu a idéia de um diesel desenvolvido
a partir do óleo vegetal?
Expedito Parente
- Em 1977, eu trabalhava na Universidade Federal
do Ceará com tecnologia, com processos de
produção de álcool a partir
de matérias-primas não convencionais,
basicamente de celulose e de materiais como mandioca,
batata. Isso me causava certa estranheza, porque
eu via que, com o Proálcool, nós estávamos
resolvendo o problema errado. Por quê? Porque
a matriz energética dos combustíveis
brasileiros deve contemplar o transporte, que é
feito com óleo diesel. O álcool é
para veículo de passeio.
O Proálcool
surgiu por uma necessidade de mercado. Na época,
o açúcar estava muito barato, e os
usineiros precisavam de alternativas. Então,
o programa do álcool não nasceu pela
necessidade energética. E contemplava veículos
leves, quando o Brasil precisava de um combustível
para veículos pesados e máquinas agrícolas.
ABr - Como o senhor
chegou à formula do biodiesel?
Parente - Um certo
dia, em 1977, eu estava no meu sitio, em Pacoti,
aqui na serra, sozinho tomando uma cachaça
na beira de uma cachoeira e debaixo de um ingazeiro.
De repente, olhando para uma vagem de ingá,
eu vi a molécula do biodiesel. Era assim,
comprida, lá dentro tinha uns grãos
ligados... Aquilo tem óleo... Tudo aquilo,
aquele arquétipo da natureza fomentou a molécula
do biodiesel, com os ésteres de ácidos
graxos. Isso foi num sábado. E aí,
pronto, a coisa ficou na minha cabeça remoendo...
Na segunda feira,
quando cheguei no laboratório, eu fiz a síntese
a partir do óleo de algodão, que era
o óleo que tinha, porque se usava naquela
época para cozinhar. E examinando a substância,
eu verifiquei que a viscosidade e as características
aparentes se assemelhavam às do óleo
diesel. Então eu fiz um ensaio de combustão
num algodão. Aí eu vi que queimava
muito bem, e a chama era muito bonita, muito viva.
Então, durante a semana, eu produzi dois
litros desse combustível.
ABr - Como o sr.
testou o funcionamento do biodiesel num motor?
Parente - Havia um
cidadão aqui no Ceará que já
tinha mais de 80 anos na época, Bernardo
Gondim. Ele era um prático, um mecânico
com um conhecimento muito grande de motores e gostava
muito de coisas não convencionais. Então
eu pedi a ele que me arranjasse um motorzinho pequeno
para experimentar o combustível. Ele me mostrou
um que ele tinha lá, que era muito velho,
não funcionava direito nem com óleo
diesel. Ele me ofereceu, mas avisou: "Não
vai funcionar".
ABr - Funcionou?
Parente - Funcionou
perfeitamente com o biodiesel. E o Bernardo disse
pra mim: "Professor, se esse motor conseguiu
funcionar com o seu combustível, então
é porque esse seu combustível é
muito bom, é melhor que óleo diesel".
Isso me incentivou a prosseguir com os testes. Nos
dois primeiros anos, eu trabalhei muito nesses testes,
usando outros óleos vegetais, como babaçu,
soja... A mamona, não, porque eu achava que
o óleo da mamona deveria ser reservado para
biolubrificantes.
ABr - O sr. procurou
alguma parceria, alguém que financiasse a
produção?
Parente - Em 1980,
quando eu já tinha concluído essa
fase de pesquisas, eu arranjei uma grande parceria,
com um grande banqueiro de São Paulo chamado
Amedeu Augusto Papa, que era dono do Banco Lavra.
Juntos, nós criamos uma empresa que se denominou
Proerg – Produtora de Sistemas Energéticos
Ltda. O objetivo era dar agilidade ao desenvolvimento
do biocombustivel.
Aí, nós
partimos para requerer a patente e construímos
um protótipo de produção que
poderia obter 100 litros por dia, ou melhor, em
8 horas. E aí começamos a testar em
veículos mesmo. Testamos vários, mas
o que usamos mais foram aqueles jipes Bandeirante
da Toyota. O lançamento oficial do nosso
Prodiesel foi com os veículos da Coelce,
a Companhia de Eletricidade do Ceará.
ABr - Era a sua versão
do Proalcool?
Parente - Só
que nós íamos mais longe. Já
naquela época, a gente tinha concebido toda
a cadeia produtiva integrando as atividades agrícolas,
com a geração de emprego, as transversalidades
com o setor de alimentos. Tudo isso de que se fala
hoje, naquela época já estava previsto
no nosso projeto.
Fonte: Agência Brasil –
Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Olga Bardawil