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ESCOLA TUYUKA INAUGURA
PRIMEIRA TURMA DE ENSINO MÉDIO
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) - Brasil
Setembro de 2005
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20/09/2005 - Um
dos principais objetivos da escola é fortalecer
a atuação dos jovens em suas comunidades
por meio de uma formação que una a
valorização da cultura tradicional,
o aprendizado pela pesquisa e o preparo para o trabalho
dentro da própria terra indígena,
como manejo agroflorestal e artesanato.
A Escola Utapinopona
Tuyuka, na região do Alto Rio Tiquié,
no Amazonas, iniciou no final de agosto uma nova
etapa em sua inovadora experiência de educação
indígena. Depois da formatura de 20 estudantes
de ensino fundamental em maio passado, a escola
abriu sua primeira turma de ensino médio.
A principal motivação para o início
das atividades do ensino médio é completar
a formação dos jovens tuyuka, dentro
da proposta de ensino-pesquisa e valorização
cultural nas comunidades do Alto Tiquié.
O início dessa nova etapa também faz
parte do projeto do povo tuyuka de formar seus jovens
para que eles possam permanecer em suas comunidades
e, nelas, desenvolver suas atividades.
A nova turma é
composta por 23 jovens de seis comunidades tuyuka,
quatro no Brasil e duas na Colômbia, além
de um bará de aldeia localizada naquele país.
A maioria dos alunos desta nova turma foi formada
na própria Escola Tuyuka, mas há ainda
alguns novos alunos, que concluíram seu ensino
fundamental no colégio de Pari-Cachoeira,
comunidade próxima às tuyuka, na mesma
Terra Indígena Alto Rio Negro. O processo
de reconhecimento do ensino médio na Escola
Tuyuka por parte da Secretaria de Educação
do Estado do Amazonas já está em andamento,
e conta com o apoio da Secretaria Municipal de Educação
Diferenciada de São Gabriel da Cachoeira
(AM).
Estudo e
prática
A proposta da escola
é o que o ensino médio seja a etapa
conclusiva da formação destes jovens,
ou ao menos para a maioria deles. Para isso, a idéia
é que o aspecto escolar seja diluído
na formação dos alunos para que cada
um deles possa, pouco a pouco, assumir trabalhos
que, ainda que tenham início na escola, façam
parte do cotidiano das comunidades e das famílias.
Assim, os estudantes devem permanecer cada vez menos
em sala de aula para poder desenvolver atividades
e pesquisas de acordo com seus próprios interesses
e com o acompanhamento de professores.
A escola funcionará
como um meio para que cada jovem se capacite técnica
e materialmente para o desempenho da atividade pela
qual optou. Nesse sentido, a escola assume o compromisso
de formar e dar condições para que
os alunos comecem a praticar atividades como, por
exemplo, o manejo agroflorestal associado à
piscicultura ou avicultura. Gradualmente, os jovens
devem se dedicar mais ao trabalho do que a atividades
em sala de aula para, ao final de sua formação,
saber na prática o que fazer em suas comunidades.
Segundo Higino Tenório,
coordenador da Associação Escola Indígena
Utapinopona Tuyuka, os alunos deverão ser
agentes em suas comunidades. ”Para isso devem estar
preparados politicamente, devem se fazer ouvir e
participar ativamente das soluções
para os problemas de sua comunidade e de seu povo”,
explica Tenório.
Grupos de
pesquisa
Essa é a intenção
de trabalho e o desafio da Escola Tuyuka. Para torná-lo
factível quatro grupos de pesquisa foram
definidos. O primeiro (cujo nome em tuyuka é
pade bauane añuro niretire) envolve atividades
de produção alternativa, um conjunto
de cultivos agroflorestais e criações
de peixes e de pequenos animais como forma de melhorar
a alimentação e o bem-estar nas comunidades.
O segundo (pade masire)vai pesquisar o artesanato
das mulheres e dos homens, incluindo produtos do
tucum (fios, cordas, puçás, bolsas,
redes), arumã (cestaria), madeira, cerâmica
e outros, trabalhando desde o manejo e cuidados
com as matérias-primas, as técnicas
de confecção e o potencial de comercialização.
O terceiro grupo
de pesquisa (basare) é sobre cantos e danças,
que contempla tanto o aprendizado e a prática
de danças dos velhos na maloca, através
da formação como mestres de cerimônia
(baya); os instrumentos de sopro, percussão
etc., os cuidados com os ornamentos cerimoniais;
técnicas de registro oral e áudio-visual
e de arquivamento em um centro de documentação
a ser montado na escola. O quarto e último
grupo (basere) é da formação
enquanto “benzedor”, um especialista xamânico
(kumu) envolve o aprendizado e prática das
narrativas míticas, benzimentos, proteção
da comunidade durante os cerimoniais, acompanhamento
do baya, manejo tradicional das relações
com os seres vivos. Além desses, outros temas
serão comuns, como maloca e arquitetura,
matemática, gestão de projetos, direitos
etc. serão pesquisados por todos os grupos.
Os dois últimos
grupos de pesquisa e trabalho fazem parte da formação
tradicional dos jovens tuyuka. Isso porque, já
no nascimento o benzedor, ao dar o nome para a criança,
também lhe atribuía uma dessas funções.
Ser baya e ser kumu são funções
especializadas que sempre existiram entre os tuyuka
(assim como entre outros povos da região
dos rios Uaupés e Pirá-paraná)
e para as quais os jovens são preparados
desde meninos, não só através
dos ensinamentos dos mais velhos, mas na maneira
de se comportar, de se alimentar, de cuidar do corpo.
Nesse sistema os pais também indicavam aqueles
que não seriam especialistas nos rituais,
mas seriam bons no cuidado e produção
das roças e demais atividades cotidianas.
Outro desafio da
Escola Tuyuka é garantir a continuidade das
oficinas temáticas e de pesquisa, de formação
continuada, nas quais participam tanto professores
como alunos e moradores das comunidades, uma vez
que o apoio que vinha sendo oferecido pela Fundação
Rainforest da Noruega vem sendo reduzido ano a ano.
Nesse sentido, outros aportes tornam-se necessários.
Fonte: Instituto Socioambiental
(www.isa.org.br)
Assessoria de imprensa