|
PARA FÍSICO, PAÍS
PODE EVITAR QUE BIODIESEL SEJA DOMINADO
POR GRANDES PRODUTORES
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Setembro de 2005
|
|
22/09/2005 – Na
segunda parte de sua entrevista exclusiva à
Agência Brasil, o físico José
Walter Bautista Vidal, criador do Programa Nacional
do Álcool, nos anos 70, comenta as estratégias
que estão sendo criadas pelo governo federal
como forma de incluir os agricultores familiares
do país na cadeia produtiva do biocombustível.
Ele explica a concentração
da produção do álcool na estrutura
de monocultura exportadora que dominou a economia
do país por séculos: à época,
foi uma forma de viabilizar a produção
de grandes quantidades de álcool de forma
rápida e barata. E diz que, agora, com o
biodiesel, é possível fazer diferente.
"No caso do biodiesel, não existe essa
estrutura. Então, você vai ter que
montar tudo, e aí vai escolher as opções
que sejam melhores para o país", diz
ele.
Agência Brasil
- Professor, o álcool acabou se estabelecendo
no país a partir da base de grandes propriedades,
mantendo o esquema de monocultura, de concentração
da propriedade. Atualmente, para evitar a repetição
desse problema, procura-se vincular a produção
do biodiesel a pequenas propriedades. Isso vai funcionar?
Bautista Vidal -
Não vejo um projeto sólido ainda.
No Piauí, é uma hipótese, e
todos os outros também, salvo os projetos
que estão sendo montados pelo Instituto do
Sol para o Banco do Brasil. O Instituto é
uma instituição que eu presido. O
Brasil tem a melhor equipe do mundo num programa
de alternativas ao petróleo, que foi a que
fez o Proalcool. Eu digo a melhor do mundo porque
ninguém conseguiu, só o Brasil.
O governo Collor
desmontou a Secretaria de Tecnologia Industrial,
onde estava essa equipe que montou o Proalcool.
Essa gente foi espalhada, cada um foi pro seu canto.
Eu, que dirigia a secretaria, saí depois
e criei o Instituto do Sol para absorver essa equipe.
Depois de levarmos anos treinando essa gente altamente
especializada, destruir isso seria uma perda enorme
para o país. Assim, essa equipe que montou
o programa do álcool está montando
o biodiesel para o Banco do Brasil. É gente
com 30 anos de experiência, doutores pelas
melhores universidades do mundo.
Quando o programa
do álcool foi um sucesso mundial, nós
não tínhamos completado o programa
porque tínhamos que substituir o petróleo
como um todo, não só a gasolina. Aí,
eu comecei a montar o programa de biodiesel, 27
anos atrás. Já estava tudo pronto
para substituir 40% do óleo diesel por óleo
vegetal, e aí a Mercedes da Alemanha começou
a criar dificuldades. Como os motores tipo diesel
são praticamente todos da Mercedes, o governo
ficou meio assustado. Eu saí da secretaria,
e a coisa parou há 27 anos, não foi
adiante.
Agora, está
retomando tarde. Nessa brincadeira, nós perdemos
dezenas de bilhões de dólares importando
petróleo sem necessidade. Só que o
mundo todo quer que o Brasil forneça energia
alternativa aos derivados do petróleo, e
o Brasil sai com um programa a 2%, quer dizer, estavam
esperando um elefante e sai um rato.
ABr - Mas os óleos
vegetais, em geral, estão muito valorizados
no mercado internacional. Como fazer para equilibrar
a inflação se tivermos uma mistura
maior?
Bautista Vidal -
No caso da mamona sim, é um óleo muito
complexo e é matéria-prima básica
pra toda uma química, a chamada recinoquímica.
A recinoquímica é uma indústria
que faz todos os produtos da petroquímica
usando a mamona como matéria-prima, com uma
vantagem: não é tóxico e é
biodegradável.
O mercado mundial
está louco pra pegar esses produtos. Por
que a Petrobrás, que entregou a petroquímica
e agora está retomando, não entra
na recinoquímica, se há um mercado
mundial aberto?
ABr - De um modo
geral, hoje, quase todos os óleos vegetais
têm o preço superior ao litro de diesel,
não?
Bautista Vidal -
Sim, mas não em termos de matéria-prima.
Em termos de queima, é muito mais barato.
Só a mamona tem um alto valor no mercado
internacional, porque é matéria-prima
de muitas outras coisas.
Por exemplo, os lubrificantes
de alta ou baixa temperatura são todos de
mamona. Na aviação, os lubrificantes
são todos a partir da mamona, porque resistem
a baixas temperaturas.
ABr - Professor,
as estratégias de isenção fiscal
vão ser suficientes para incluir os agricultores
familiares na cadeia produtiva do biodiesel em vários
pontos do país, em cada lugar a partir de
uma determinada oleaginosa? Como o sr. vê
essa estratégia do governo?
Bautista Vidal -
Eu vejo isso como uma coisa certa. Quando nós
implantamos o programa do álcool, nós
estávamos projetando usinas de todos os tamanhos.
Não faz sentido você produzir álcool
pra uma região lá no Mato Grosso e
ter que transportar de São Paulo. Você
pode plantar cana e ter lá. Agora, o fato
é que, no caso do álcool, já
havia uma estrutura gigantesca montada em cima da
cana-de-açúcar, pra poder sair açúcar,
que levou 400 anos sendo montada. O Brasil já
foi o maior exportador do mundo com o açúcar.
Então, não se podia ignorar aquela
estrutura já pronta, todos os gastos feitos.
O que nós
fizemos foi um levantamento para identificar a capacidade
ociosa da indústria de açúcar.
Percebemos que 20% era de capacidade ociosa, investimento
já feito, sem demanda. Aí, montamos
as chamadas refinarias anexas, com a idéia
de aproveitar a infra-estrutura já pronta.
Assim foi que o Brasil começou a produzir
álcool, rapidamente, porque a estrutura estava
pronta, e a um custo baixíssimo, porque o
investimento já estava feito.
No caso do biodiesel,
não existe essa estrutura. Então,
você vai ter que montar tudo, e aí
vai escolher as opções que sejam melhores
para o país. Como você tem um grave
desemprego, muita pobreza, e os óleos vegetais
se prestam para serem feitos, desde que articulados
em cooperativas, em pequenas propriedades, nós
estamos dando prioridade, evidentemente, a essas
pequenas propriedades.
Você junta
100, 200 pequenos produtores e faz uma usina de
biodiesel. È como nós fizemos com
o Instituto do Sol com no Rio Grande do Norte, no
Rio Grande do Sul, em Minas Gerais, no Paraná...
O Paraná, por exemplo, colocou a Copel, a
empresa de energia elétrica local, altamente
capitalizada, para ajudar o pequeno produtor. Porque
o pequeno produtor tem que ser ajudado com a tecnologia.
Fonte: Agência Brasil –
Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Spensy Pimentel