Nos
últimos dias, ativistas do Greenpeace visitaram
e documentaram algumas das áreas mais afetadas
pela seca no estado do Amazonas. A visão
é dramática: grandes rios, lagos e
várzeas atingiram seu nível mais baixo
em 60 anos e, agora, não passam de pequenos
córregos de lama. Lugares onde comunitários
costumavam usar barcos e canoas como único
meio de transporte, agora podem simplesmente passar
andando ou de bicicleta. Grandes barcos estão
presos no barro seco, que costumava ser o leito
dos rios. Milhares de peixes mortos atraem urubus,
transformando a paisagem em um grande cemitério
a céu aberto. Cidades e comunidades completamente
dependentes dos rios estão totalmente isoladas,
padecendo com a falta de remédios, combustível,
água potável e comida.
Greenpeace
|
Para
Paulo Artaxo, cientista da USP (Universidade
de São Paulo), o desmatamento e as
queimadas afetam a formação
de nuvens de chuvas, o que diminui a precipitação
sobre a Amazônia. Metereologistas
do Sipam (Sistema de Proteção
da Amazônia) argumentam que as altas
temperaturas no Oceano Atlântico,
que levaram à formação
de fortes furacões como o Katrina
e Rita, podem estar mudando a circulação
do ar sobre a Amazônia, inibindo a
formação de chuvas. Estima-se
que, em algumas décadas, este efeito
perverso do desmatamento pode ser irreversível
e a floresta amazônica pode desaparecer.
“Se a Amazônia perder mais de 40%
da sua cobertura florestal, nós atingiremos
um ponto onde será |
impossível reverter
o processo de savanização da maior
floresta tropical do mundo”, alerta Carlos Nobre,
pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais) e presidente do Programa Internacional
Geosfera Biosfera (IGBP). Este processo pode ser
acelerado pelo aquecimento global. “O Brasil é
um dos países mais vulneráveis às
mudanças climáticas por causa de sua
enorme biodiversidade”, disse Nobre.
“A destruição
da Amazônia diminui a formação
de nuvens de chuva, tornando as florestas mais
secas. Por sua vez, florestas mais secas são
mais suscetíveis às queimadas e
aos efeitos do aquecimento global” explica Carlos
Rittl, campaigner de Clima do Greenpeace. Ele
lembra que o desmatamento e as queimadas na Amazônia
são responsáveis por mais de 75%
das emissões brasileiras de gases de efeito
estufa. “Isso coloca o Brasil entre os quatro
maiores emissores do mundo e dá ao Brasil
uma enorme responsabilidade na implementação
de soluções para o problema.”
Nos últimos 35 anos,
a Amazônia Brasileira já perdeu quase
17% de sua cobertura florestal devido às
atividades humanas, em particular a crescente
expansão da agropecuária e exploração
ilegal de madeira. “O planeta está enviando
sinais claros que não podemos mais evitar.
Corremos o risco de perder a maior floresta tropical
do mundo e toda uma biodiversidade que sequer
foi bem estudada”.
Para o Greenpeace, o Brasil
precisa adotar metas urgentes e concretas de redução
do desmatamento e, consequentemente, das emissões
de gases do efeito estufa se quiser barrar os
efeitos perversos do aquecimento global. O País
deve também liderar, na próxima
reunião da Convenção da Biodiversidade
(CBD), em março de 2006, os esforços
de governos de todo o mundo para criar uma rede
de áreas protegidas destinadas a preservar
a diversidade biológica, as comunidades
tradicionais e sua cultura.