Biografia de Lutzenberger
foi lançada em Brasília
21/10/2005 - A ministra
do Meio Ambiente, Marina Silva, e o secretário
de Fomento do Ministério da Cultura,
Sérgio Xavier, defenderam hoje que um
modelo de desenvolvimento mais sustentável
só será alcançado com profundas
alterações culturais que levem
a mudanças no modelo econômico.
Conforme Xavier, a economia atual tem ênfase
reducionista e é muito focada nos indicadores
financeiros.
Divulgação
|
Para
ele, uma nova economia deveria pensar
no longo prazo e nas demandas humanas
em harmonia com a natureza. "Um
desenvolvimento verdadeiramente sustentável
depende de novas visões, novas
práticas, novas percepções
e comportamentos, de uma nova cultura
com referenciais ecologicamente viáveis",
disse Marina Silva lembrou que a humanidade
está vivendo um momento desafiador,
com o acirramento de crises climáticas
de grande amplitude. "Devemos estar
atentos a tudo o que está acontecendo
no Planeta, pois muitos desses incidentes
podem estar sendo potencializados pelas
nossas ações não
respeitosas a natureza", disse.
Para a ministra, é preciso fugir
do senso comum que faz ligações
diretas de fenômenos como a seca
na Amazônia, por exemplo, ao desamatamento
da floresta tropical. "A ciência
está aí para encontrar
respostas", disse. Mas, ainda segundo
ela, também é preciso
evitar a idéia de que tais problemas
não tem qualquer interferência
humana. "Isso nos deixaria a vontade
para continuar desmatando. Se não
podemos controlar os grandes fenômenos,
que pelo menos sejamos capazes de |
controlar a nossa interferência",
salientou. Marina Silva e Sérgio Xavier
participaram hoje do lançamento nacional
da biografia do ambientalista José Luzenberger,
em Brasília (DF). Sinfonia Inacabada,
obra da jornalista Lilian Dreyer, descreve a
trajetória do agrônomo gaúcho
que, aos 44 anos, abandonou seu trabalho na
indústria química e iniciou uma
jornada que o tornou um dos grandes nomes do
ambientalismo internacional.
Também participaram
do evento o secretário-executivo do
MMA Claudio Langone, a professora da Universidade
de Brasília Maria do Carmo Lima Bezerra
e o jornalista Washington Novaes. O evento
no Distrito Federal foi o primeiro de um ciclo
de painéis que chegará a várias
capitais brasileiras.
De acordo com Lilian Dreyer,
que acompanhou o trabalho de Lutzenberger
por mais de uma década, o ecologista
tinha a capacidade de estabelecer "conexões
extraordinárias", de perceber
a evolução da natureza e da
sociedade. "A contribuição
dele continua sendo essa. Suas idéias
inovadoras auxiliam no necessário debate
sobre novos modelos de progresso para a humanidade",
disse.
"Precisamos de uma
nova economia para globalizar a sustentabilidade
e os melhores valores humanos, movida com
propósitos solidários e ações
transformadoras, valores defendidos por Lutzenberger",
completou o secretário do Ministério
da Cultura.
Para a ministra do Meio
Ambiente, as "grandes figuras" do
ambientalismo e do humanismo são capazes
de construir uma história onde as pessoas
também podem deixar suas marcas. "Pessoas
como Lutzenberger, Chico Mendes, Francisco
de Assis, Gandhi e Mandela, foram capazes
de nos ensinar muita coisa por não
serem iguais a todo mundo", disse. "A
sinfonia não acabará enquanto
existirem pessoas dispostas a se entregarem
a boas causas", completou.
Histórico - Lutz,
como era chamado entre ambientalistas, nasceu
em 17 de dezembro de 1926, em Porto Alegre
(RS). Formado em Agronomia, trabalhou por
anos para empresas voltadas à produção
de adubos e químicos, no Brasil e no
Exterior. Em 1971, abandonou uma carreira
de treze anos como executivo da indústria
alemã Basf para denunciar o uso indiscriminado
de agrotóxicos nas lavouras do Rio
Grande do Sul, voltando-se em definitivo ao
ambientalismo. Ele não concordava com
o avanço da química sobre a
agricultura.
Um exemplo de seu trabalho
foi a campanha contra a fabricante norueguesa
de celulose Borregaard, em 1974, que tornava
insuportável o ar na região
metropolitana de Porto Alegre. A fábrica
chegou a ser fechada para melhorias nos equipamentos.
Após a venda da planta a brasileiros,
Lutz participou de um projeto para torná-la
um exemplo de que é possível
conciliar desenvolvimento e respeito ao meio
ambiente.
Em março de 11000,
Lutzenberger foi nomeado secretário-especial
do Meio Ambiente da Presidência da República,
no mandato de Fernando Collor de Mello. Até
1992, quando deixou o cargo, o ambientalista
contribuiu para a demarcação
de áreas indígenas, como a dos
Yanomamis, na decisão do Brasil de
abandonar a fabricação da bomba
atômica, na assinatura do Tratado da
Antártida e na Convenção
das Baleias. Participou, ainda, dos encontros
preparatórios à Rio92.
Ao longo de sua vida, o
ecologista participou de mais de oitenta encontros
nacionais e mais de quarenta internacionais.
Recebeu mais de quarenta prêmios, entre
eles o Right Livelihood Award (Nobel Alternativo),
em 1988, 25 distinções e mais
de dez homenagens especiais. Lutzenberger
faleceu em 14 de maio de 2002, aos 75 anos.