(18/10/05) - Desde o início
do ano, 20 baleias jubarte encalharam no litoral
brasileiro. Na temporada de 2004, durante
todo o ano, foram registrados 22 animais encalhados.
Os dados são do Instituto Baleia Jubarte,
responsável pela proteção
da espécie no Brasil, em cooperação
com o Ibama.
Desse total, 12 animais
encalharam no estado da Bahia, cinco no Espírito
Santo, um no Rio de Janeiro, um em Santa Catarina
e um em Alagoas. Segundo a diretora do Instituto
Baleia Jubarte, bióloga Márcia
Engel, desses 20 animais, somente um encalhou
vivo. "Foi um filhote em Guarapari (ES)
e morreu pouco depois do encalhe. Pelo tamanho
do animal, com 3,64 metros, devia ser um prematuro".
Ela informou que no ano passado cinco animais
encalharam vivos, mas nenhum sobreviveu.
O mês de setembro
é o que concentrou maior número
de encalhes, seis. Em julho e agosto foram
registrados quatro encalhes em cada mês,
num total de oito. Na primeira quinzena de
outubro foram registrados quatro encalhes.
Dois encalhes, um em janeiro, e outro em fevereiro,
ocorreram fora da temporada de baleias jubarte
no Brasil. Durante o verão, as jubarte
se alimentam nas águas da Antártida,
e migram para as águas tropicais do
litoral baiano, para reproduzir e amamentar
os filhotes, entre os meses de julho e novembro.Dos
animais que encalharam este ano, dez eram
filhotes que ainda estavam mamando, quatro
eram adultos, e seis não possuíam
dados precisos de comprimento.
O coordenador de pesquisas
do Instituto Baleia Jubarte, veterinário
Milton Marcondes, explica que o encalhe pode
ser definido como: "qualquer mamífero
marinho morto na praia ou flutuando próximo
à costa; qualquer cetáceo vivo
na praia ou em água tão rasa
que não seja possível para ele
se livrar sozinho e retomar suas atividades
normais. O encalhe ocorre quando estes animais
chegam próximos às praias ou
arrebentação e não conseguem
se libertar sozinhos".
Márcia destaca que
as baleias fazem parte da chamada megafauna
carismática, animais de grande porte
que despertam a atenção e carinho
por parte das pessoas. "As campanhas
Salvem as Baleias realizadas nas décadas
de 70 e 80 no mundo é um exemplo disso.
Uma baleia encalhada desperta a atenção
da população e a cobertura da
mídia, principalmente televisiva, gera
a necessidade de uma resposta pronta para
o resgate", afirma.
O veterinário do
IBJ, que participa das operações
de resgate de cetáceos, ressalta que
mesmo que parte dos resgates não obtenha
sucesso, "isto não inviabiliza
o valor da tentativa em si, desde que esta
seja feita de maneira responsável.
Embora a morte de uma baleia gere comoção,
se todos os esforços para salvá-la
foram feitos, existe um reconhecimento público
pelo valor da tentativa". Ele informa
que durante o resgate são tomadas medidas
para minimizar o sofrimento do animal.
Nos resgates bem sucedidos,
quando o animal é devolvido ao mar
e não volta a encalhar, "existe
o benefício para o animal em si, para
a espécie, e a satisfação
pessoal da equipe de resgate e o atendimento
ao anseio popular", disse ele.
Causas - As causas do encalhe podem ser de
origem diversas, como: ocorrência de
doenças; a fuga de predadores ou a
perseguição a presas; o emalhe
em artefatos de pesca ou a colisão
com embarcações; condições
climáticas adversas (tempestades, furacões)
e condições topográficas
e oceanográficas (variações
de maré, praias de relevo plano); a
coesão social (comportamento de manter
o grupo unido - podem fazer com que animais
sadios acompanhem outros doentes até
à praia); entre outros.
O veterinário alerta
que um animal encalhado é também
um risco para a saúde pública.
Ele observa que a curiosidade da população,
em relação às baleias
e golfinhos encalhados, faz com que muitas
pessoas tenham contato com animais vivos ou
carcaças em decomposição.
Muitas doenças podem ser transmitidas
por estes animais ao homem.
O atendimento aos animais
encalhados deve ser feito por profissionais
especializados. No caso de animais vivos,
os técnicos podem realizar trabalhos
de informação ambiental para
a população.
Para a diretora do IBJ,
um dos fenômenos com maior poder de
sensibilização nas pessoas é
o encalhe de uma grande baleia viva. "Um
animal tão grande e indefeso sofrendo,
costuma sensibilizar as pessoas e causar uma
grande mobilização, sejam de
curiosos, querendo observar mais de perto
um animal raro, ou de pessoas querendo auxiliar
no resgate."
Os encalhes individuais
de animais vivos são raros. No Brasil,
a baleia jubarte é uma das espécies
mais estudadas. Há 17 anos, o Projeto
Baleia Jubarte é responsável
pela proteção da espécie
no País. Em 1996, deu origem ao Instituto
Baleia Jubarte (IBJ), que é patrocinado
pela Petrobras. O Instituto realiza trabalhos
de pesquisa e conservação da
espécie, além de prestar apoio
às comunidades litorâneas com
atividades de educação ambiental.A
baleia jubarte consta da lista do Ibama de
espécies da fauna brasileira ameaçadas
de extinção.
Encalhes de jubarte no Brasil
- Em 2000, o Instituto Baleia Jubarte passou
a integrar a Rede de Encalhes de Mamíferos
Aquáticos do Nordeste (Remane), a primeira
rede de encalhes criada no Brasil. O IBJ possui
um banco de dados de encalhes desta espécie
no Brasil com cerca de 200 registros ocorridos
nos últimos 40 anos.
A maior ocorrência
dos encalhes ocorreu nos meses de agosto e
setembro. De acordo com Márcia Engel,
este período corresponde ao auge da
temporada reprodutiva e com a maior concentração
de baleias no Brasil.
Marcondes informa que 44%
dos encalhes foram registrados na Bahia, 20%
no Espírito Santo e 16,5% no Rio de
Janeiro. Segundo ele, as ocorrências
na Bahia e no Espírito Santo são
explicadas porque parte do litoral destes
estados constitui o Banco dos Abrolhos, principal
área reprodutiva da espécie
no País, no extremo sul da Bahia. Já
o litoral norte do Estado do Rio de Janeiro
é considerado corredor migratório
da espécie em direção
ao Banco dos Abrolhos.
Sobre a faixa etária
dos animais encalhados, foi verificado que:
57% são filhotes em lactação
(que ainda mamam), 9% são animais recém
independentes, 12% animais sexualmente imaturos,
e 22% animais adultos. Pouco mais de 38% dos
animais encalhados são de filhotes
recém nascidos. Com relação
ao sexo, 44% são de fêmeas e
56% de machos.
O veterinário explica
ainda que diversos fatores interferem no sucesso
do resgate, tais como: causa do encalhe; estado
de saúde do animal; tamanho do animal;
número de animais encalhados; temperatura
da água; relevo e acesso ao local do
encalhe; variação da maré;
tempo de resgate; coordenação
e experiência da equipe de resgate;
equipamento adequado; apoio logístico.
Quem encontrar uma baleia
jubarte encalhada na praia deve avisar ao
Instituto Baleia Jubarte, pelos telefones
– (71) 3676-1463 e (71) 3297-1320. As ligações
podem ser feitas a cobrar.
Mais informações:
Márcia Engel - diretora geral do Instituto
Baleia Jubarte (IBJ) - márcia.engel@baleiajubarte.com.br
– (71) - 3676-1463 e 8127-8964 - Milton Marcondes
- coordenador de pesquisa do IBJ - milton.marcondes@baleiajubarte.com.br
– (73) 3297 -1340 e 8802-1874.