03/11/2005 - Para a gestão
da biodiversidade trazer resultados positivos
ao setor privado, é necessário
combater a ênfase excessiva nos resultados
financeiros de curto prazo. Esta é
a principal conclusão do estudo Negócios
e Biodiversidade no Brasil: experiência
e ferramentas para o engajamento corporativo
na Conferência sobre Diversidade Biológica
(CDB), de autoria dos pesquisadores Peter
May e Valéria da Vinha, ambos da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O documento
foi apresentado hoje na reunião Empresas
e as Metas de 2010 - Desafios para Biodiversidade,
que conta com a presença de empresários
nacionais e internacionais, no Hotel Transamérica,
em São Paulo.
O evento é promovido pelo MInistério
do Meio Ambiente e Conselho Empresarial Brasileiro
para o Desenvolvimento Sustentável.
O objetivo é encontrar caminhos que
permitam um maior engajamento do setor privado
na preservação e uso sustentável
da diversidade biológica, que, segundo
a CDB, é "a variedade de organismos
vivos de qualquer fonte, incluídos,
entre outras coisas, os ecossistemas terrestres
e marinhos e outros ecossistemas aquáticos
e os complexos ecológicos; compreende
a diversidade dentro de cada espécie,
entre as espécies e dos ecossistemas".
"Há uma ligação
direta entre negócios, consumo e perda
de diversidade", afirmou Joshua Bishop,
representante da The World Conservation Union
(IUCN). Ao final do encontro, no sábado
(5), será produzido um documento que
será encaminhado à 8ª Conferência
das Partes da CDB, que acontece entre 20 a
31 de março, em Curitiba (PR).
A necessidade de uma visão de longo
prazo também foi defendida pela inglesa
Kerry ten Kate, representante da Insight Investments,
companhia britânica que administra US$
150 bilhões de quinhentos fundos de
pensão do mundo inteiro. "Para
um avalista de investimento, longo prazo é
o espaço de um ano e meio. Mudar essa
mentalidade é o nosso desafio",
disse.
Autoridades brasileiras e internacionais convergem
na defesa de que é preciso estabelecer
uma nova forma de fazer negócios, que
leve em conta as variáveis ambientais.
A perda de biodiversidade irá afetar
os atuais modos de produção
e insumos ambientais que hoje são gratuitos
irão acabar ou irão tornar-se
muito caros.
Neste contexto, Kate defendeu que a biodiversidade
pode ser vista como risco ou oportunidade.
No entanto, apontou que as companhias que
insistirem em se manter no primeiro grupo
terão sérias dificuldades daqui
para frente. Entre elas, problemas para obterem
acesso à terra, a financiamentos e
seguros, mercado e até a bons profissionais.
"Ninguém mais quer trabalhar em
empresas que não possuem boa reputação
na área ambiental", acrescentou.
A realização da COP-8 no Brasil
está sendo vista como um momento importante
para envolver empresas brasileiras que ainda
não incorporaram a variável
ambiental em seus processos produtivos. Para
isso que isso aconteça, Peter May destacou
a necessidade de se disseminar os objetivos
e ferramentas da CDB, sugerindo direções
e oportunidades para o setor privado se tornar
ativo na sua implementação.
"Os empresários também
precisam ser encorajados a participar das
conferências das partes daqui para frente",
disse.
O documento elaborado pelos brasileiros inclui
oito recomendações que serão
discutidas até sábado. Entre
elas a necessidade de se quantificar os benefícios
econômicos da conservação
da biodiversidade para a sociedade e os negócios,
mesmo que esta quantificação
não seja em termos monetários.
Eles também defenderam uma maior circulação
de informações sobre o tema,
a elaboração de um guia com
os impactos da biodiversidade em diversos
setores, e a melhoria dos incentivos fiscais
e de crédito para atividades que tenham
em conta a preservação e o uso
sustentável da natureza, entre outros
itens.