11/11/2005 – Nos últimos
dez anos, o que era um grande pasto de uma
fazenda que fica dentro da Floresta Nacional
do Mapiá-Inauini, no Amazonas, foi
se transformando em floresta de novo. "A
gente fez um reflorestamento demonstrativo
e construiu uma fábrica de beneficiamento
de banana em passa. Nossa banana era vendida
até em Santa Catarina, conhecida no
Brasil todo. Hoje a produção
está parada porque os fornos de secagem
estão sendo reformados", conta
José Antônio Camilo, um dos 45
membros da Associação de Produtores
Rurais da Boca do Igarapé do Mapiá
e também agente de saúde da
comunidade, em entrevista ao programa Ponto
de Encontro da Rádio Nacional (Amazônia).
O projeto de reflorestamento
teve o apoio Programa Piloto para a Proteção
das Florestas Tropicais do Brasil, financiado
com verba da cooperação internacional
e coordenado pelo Ministério do Meio
Ambiente.
Os produtores da banana-passa
do Mapiá são seguidores da doutrina
do Santo Daime. E as cerca de 150 famílias
que pertencem à comunidade vivem na
floresta do Mapiá-Inauini. A origem
da comunidade remonta a 1912, quando o maranhense
Irineu Serra mudou-se para o Acre para trabalhar
como soldado da borracha. Na fronteira com
o Peru e a Bolívia, ele conheceu o
chá preparado com o arbusto chacrona
(a "rainha") e o cipó jagube,
uma bebida alucinógena consumida por
descendentes do Império Inca. Da mistura
desse ritual indígena com o cristianismo
nasceu a doutrina do Santo Daime, que tem
como valores a "harmonia, amor, verdade
e justiça".
Em 1980, o padre Sebastião
Mota Melo, seguidor do mestre Irineu no Acre,
fundou em Boca do Acre, no Amazonas, a Colônia
dos Cinco. Três anos depois, por orientação
do Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra), já
que a área ocupada era particular,
o grupo de cerca de 300 pessoas se mudou para
a região do igarapé do Mapiá.
O terreno ocupado pela comunidade
se tornou em 1989 parte da floresta nacional
que tem 311 mil hectares. E este ano, por
meio de um convênio com o Ibama, o Incra
reconheceu a reserva como projeto de assentamento
e os moradores deverão receber créditos
no valor de R$ 7.400 por família em
março.
"A doutrina é
a linha direta de toda a história.
Se não houvesse doutrina, não
haveria as pessoas juntas. Se não tivesse
esse grupo de pessoas, não teria associação.
E se não tivesse associação,
a gente não teria ajuda governamental",
argumentou Camilo, que se mudou para a região
há 28 anos, atraído pelo Santo
Daime.
Um dos objetivos do Programa
Piloto para a Proteção das Florestas
Tropicais do Brasil é promover o aprendizado
sobre novos modelos de preservação,
conservação e utilização
racional dos recursos naturais da Amazônia
e Mata Atlântica, buscando a melhoria
da qualidade de vida da população
local. Desde seu início, em 1995, o
programa apoiou 194 projetos – um deles foi
o do reflorestamento e a construção
da fábrica de banana-passa na boca
do igarapé do Mapiá, que teve
valor de R$ 20 mil e foi executado entre 1995
e 1998.