25/11/2005 - A Embrapa
Amazônia Ocidental deve inaugurar, ainda
neste ano, uma usina com capacidade para processar
mil litros de biodiesel produzidos com óleo
de dendê (uma palmeira amazônica).
O projeto está sendo desenvolvido em
parceria com o Instituto de Militar de Engenharia
(IME). Por isso, os equipamentos da usina
ainda estão no Rio de Janeiro, onde
foram construídos.
Com auxílio da logística
militar, os equipamentos serão levados
a Rio Preto da Eva, no Amazonas, onde a Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) tem 412 hectares de plantação
de dendê e um centro de extração
do óleo.
"O biodiesel produzido
a partir do dendê, como qualquer outro
biodiesel, tem uma emissão menor de
gases do efeito estufa, além de ser
uma fonte renovável de energia. O Brasil
importa derivados de petróleo, então,
a produção nacional de biodiesel
contribuirá para nossa independência
em relação à matriz energética",
afirmou Ricardo Lopes, pesquisador da Embrapa,
em entrevista à Radiobrás .
O processo que transforma
o óleo de dendê em biodiesel
recebe o nome de transiterificação.
O óleo vegetal é misturado ao
álcool etanol e a um catalisador (substância
que acelera a reação). "Por
meio de agitação, aquecimento
e pressão, surge o biodiesel e a glicerina,
que pode ser aproveitada pela indústria
de cosméticos", explicou o pesquisador.
O projeto foi iniciado no
começo de 2005 e tem duração
de dois anos. Seu custo de R$ 806 mil é
coberto pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq),
pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep)
e pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). "O
biodiesel produzido pela usina será
utilizado para gerar energia elétrica
para nossa estação experimental,
onde há 20 casas, e também para
a comunidade de São Francisco do Mainá,
na zona rural de Manaus", informou Lopes.
O pesquisador disse que
a estação experimental de dendê
foi construída em Rio Preto da Eva
em 1982, como parte do Programa de Mobilização
Energética do governo federal. "Quando
o preço do barril do petróleo
diminuiu, o programa foi interrompido, mas
continuamos com as pesquisas relativas à
cultura do dendê, com o objetivo de
aumentar a produtividade por hectare e a resistência
da planta a pragas", acrescentou.
A produção
nacional de óleo de dendê gira
em torno de 130 toneladas por ano e se destina
quase exclusivamente à indústria
alimentícia – a gordura vegetal do
dendê é utilizada na fabricação
de margarinas, sorvetes e bolachas, por exemplo.
"O biodiesel do dendê tem um custo
de produção baixo, que pode
chegar a R$ 1 por litro. Mas o custo de oportunidade
é alto, porque você deixa de
vender para a indústria alimentícia,
o que é mais lucrativo. Então,
para usar o dendê como biodiesel, o
Brasil tem que seguir o exemplo da Europa
e subsidiar a produção",
ponderou Lopes.
Segundo ele, a produção
nacional de óleo de dendê representa
cerca de 0,5% da produção mundial,
liderada pela Malásia e pela Indonésia.
"No Brasil, 80% do óleo de dendê
vem do Pará. Na América do Sul,
o maior produtor é a Colômbia,
que está em quinto lugar entre os países
que processam o produto. Mas a Malásia
e a Indonésia, juntas, respondem por
80% da produção mundial",
informou o pesquisador.