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GOVERNO INICIA REVISÃO DE ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA CONSERVAÇÃO

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Novembro de 2005

25/11/2005 - Levantamento é um instrumento importante para orientar as ações do governo no que diz respeito à implantação de Unidades de Conservação (UCs), licenciamento ambiental, manejo de recursos naturais, planejamento e realização de obras de infra-estrutura, entre outros. Segundo o MMA, a nova edição da publicação estará disponível até o final de 2006.

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) iniciou, na semana passada, em Brasília, a série de consultas e debates que deverá subsidiar o processo de revisão do Mapa de Áreas Prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e Repartição dos Benefícios da Biodiversidade. O documento relaciona 900 locais – cuja biodiversidade é classificada em “extremamente alta”, “muito alta” ou “alta” – que devem receber atenção especial dos governos, das empresas e das populações pela sua importância ecológica, econômica e social.

O levantamento é um instrumento importante para orientar as ações do Poder Público para o meio ambiente, especialmente do próprio MMA, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e dos órgãos ambientais estaduais, no que diz respeito à implantação de Unidades de Conservação (UCs), licenciamento ambiental, manejo de recursos naturais, planejamento e realização de obras de infra-estrutura, entre outros. O mapa atende a determinação estabelecida pela Convenção da Diversidade Biológica (CDB), assinada em 1992, na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, chamada de Rio-92 ou Eco-92 e ratificada pelo Brasil em 1993, de que os países signatários identificassem suas principais áreas para conservação ambiental e uso sustentável.

Durante três dias, de 16 a 18 de novembro, quase cem especialistas e técnicos do governo, de universidades, instituições de pesquisa, organizações da sociedade civil e do Banco Mundial estiveram reunidos para discutir as áreas que deverão ser alvo do novo mapa e as formas de conciliar as várias metodologias empregadas para identificá-las. As conclusões do encontro realizado em Brasília serão sistematizadas para orientar a realização de seis grandes seminários regionais que vão subsidiar a elaboração do novo documento. Cada evento, que deve durar até uma semana em média, vai tratar de um dos biomas brasileiros: Amazônia, Caatinga, Mata Atlântica, Pampas e Zona Costeira e Marinha; o Cerrado e o Pantanal serão tema de um único encontro. A previsão do MMA é que o lançamento da publicação seja feito até o fim de 2006. O primeiro seminário será sobre os Pampas gaúchos e deve acontecer já em dezembro deste ano.

“Uma das conclusões do evento realizado agora, em Brasília, é que precisaremos conseguir incorporar neste novo mapa tanto os indicadores de biodiversidade que surgiram nos últimos cinco anos, quanto informações sobre as comunidades que habitam cada um dos biomas e sobre seus conhecimentos tradicionais”, afirma Paulo Yosnio Kageyama, diretor de Conservação da Biodiversidade do MMA. Ele conta que alguns dados sobre populações estavam presentes na primeira edição do levantamento, mas de forma desorganizada.

Kageyama explica ainda que, nos últimos anos, surgiram muitas tecnologias novas, como aquelas de sobreposição de diferentes materiais cartográficos, o que desatualizou a publicação lançada em 2003. A elaboração do levantamento é feita a partir da reunião de vários mapas, indicadores e dados extremamente diversificados, por exemplo, sobre fauna, vegetação, UCs, Terras Indígenas, hidrologia, clima, tipos de solo e substâncias minerais, entre vários outros. Além disso, alguns biomas são mais estudados e pesquisados do que outros, o que cria um desnível entre as informações disponíveis.

A primeira versão do mapa ficou pronta em 2000, depois de dois anos de pesquisas e consultas - em agosto de 1999, ocorreu o seminário sobre o bioma amazônico, em Macapá (AM), com a presença de 164 especialistas, técnicos, pesquisadores e representantes da sociedade civil (saiba mais). Só em 2003, a publicação foi lançada pelo governo e, em 2004, foi referendada oficialmente pelo Decreto presidencial nº 5.092, ganhando, assim, status de marco legal indicativo para as políticas públicas. O Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) e a Petrobrás, por exemplo, guiam-se pelo levantamento para aprovar financiamentos e desenvolver projetos.

Restrições

O desgaste político que o MMA vem sofrendo em vários embates e discussões sobre temas polêmicos – aprovação da Lei da Biossegurança, o projeto de transposição do rio São Francisco, a pressão exercida sobre o Ibama para licenciar rapidamente usinas hidrelétricas, o pouco engajamento de outros ministérios no combate ao desmatamento – tem suscitado, porém, dúvidas quanto a sua capacidade de influenciar os programas governamentais a partir do mapa de áreas prioritárias. Também existem dúvidas sobre até que ponto empresas privadas, governos estaduais e municipais estariam interessados em respeitar o levantamento, já que ele pode implicar restrições à realização de empreendimentos e atividades econômicas em determinadas áreas. O cultivo de transgênicos, por exemplo, não é indicado em locais cuja biodiversidade é classificada como “extremamente alta”.

“Além de ter de lidar com um número grande de metodologias e a nossa tremenda diversidade de biomas, acho que o grande desafio para um projeto como este é conseguir garantir a participação da sociedade em sua execução”, defende a bióloga Nurit Bensusan, que participou do encontro realizado em Brasília. Ela considera que o processo de discussão e elaboração do mapa tem de contar com a presença do maior número possível de setores sociais, incluindo o empresariado e as várias esferas de governo, para que seu produto final possa ter efetividade como instrumento político. “Só assim vamos ter o comprometimento desses segmentos com a conservação de nossos recursos biológicos”, adverte. Nurit também levanta dúvidas sobre a viabilidade de se terminar a revisão de todas as áreas em apenas um ano por causa da complexidade da tarefa.

“Uma coisa é definir nossas prioridades do ponto de vista da conservação, outra coisa é a negociação política que teremos de fazer sobre o tema com os vários setores envolvidos. Não acho que esta negociação deva ser feita agora”, argumenta Kageyama. Ele garante que o MMA fará com que os conhecimentos e interesses das comunidades tradicionais (índios, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas, caiçaras etc) estejam em pé de igualdade com as informações trazidas por pesquisadores e pelo governo durante os seminários. A determinação seria suficiente para garantir a participação da sociedade, pelo menos nesta etapa do processo de revisão do mapa. O diretor de Conservação da Biodiversidade do MMA assegura que a publicação tem sido importante para algumas vitórias da área ambiental dentro do governo, como no caso em que a classificação estabelecida pelo mapa para uma determinada área foi utilizada para impedir a instalação de uma usina hidrelétrica. Kageyama admite, no entanto, que a aplicação integral das orientações contidas na publicação nas políticas dos vários setores do governo continua sendo um “problema”.

Para o coordenador de Biodiversidade e Florestas do ISA, André Lima, a maior dificuldade é mesmo fazer com que o novo mapa, além de atualizado e mais detalhado, seja realmente considerado nas decisões governamentais relacionadas principalmente às grandes obras de infra-estrutura. "É fundamental que o decreto que validará o novo mapa defina que as decisões de governo em cada área identificada como prioritária (em seus diferentes níveis de relevância) encontrem justificação e motivação nas diretrizes estabelecidas para cada espaço territorial. Sem isso, o mapa tem validade bastante reduzida". Lima argumenta que isso não significa dizer que o mapa deve ter o poder de impedir ou aprovar determinados tipos de atividades, mas apenas que suas diretrizes precisam ser efetivamente levadas em conta.

O que é um bioma?

O bioma é uma unidade ecológica de grande extensão de área modelada pela interação entre os climas, seres vivos e solo de uma determinada região. Os biomas possuem fisionomia homogênea e um tipo de formação vegetal predominante, sendo facilmente identificáveis. São grandes os impactos sofridos pelos biomas brasileiros - Caatinga, Pampas Gaúchos, Cerrado, Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Pantanal e Zona Costeira e Marinha -, que já perderam grande parte de sua área original. O relatório de atividades 1996-2002 do Probio (Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira), que revela a situação dos biomas brasileiros e aponta prioridades para conservação da biodiversidade em cada um deles, está disponível no site do Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Fonte: Meio Ambiente no Século 21, André Trigueiro (Coord.), Ed. Sextante, 2003.

 
 

Fonte: ISA – Instituto Socioambiental (www.isa.org.br)
Assessoria de imprensa (Oswaldo Braga de Souza)

 
 
 
 
 
 

 

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