08/02/2006
– Dois servidores indigenistas e um procurador
da Fundação Nacional do Índio
(Funai), além de técnicos da
Fundação Nacional de Saúde
(Funasa), chegaram hoje no município
de Alto Alegre do Pindaré, no Maranhão,
onde índios de diferentes etnias bloqueiam,
desde ontem (7), a estrada de ferro Carajás,
em protesto contra a Funasa.
Os representantes da Funai,
segundo a assessoria de imprensa da instituição,
estão no local com a missão
de sugerir aos manifestantes uma reunião
em Brasília com o presidente da Funasa
e da Funai, para juntos buscarem uma solução
pacífica para as reivindicações.
A Funai disse, por meio da assessoria, ter
confiança na possibilidade de consenso
entre os índios e a Fundação
Nacional de Saúde. As lideranças
indígenas exigem da Funasa a melhoria
do atendimento de saúde no Maranhão.
Os servidores da Funai também
foram ao local com o intuito de convencerem
os índios a desocuparem a ferrovia
e a liberarem os quatro funcionários
da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), proprietária
da ferrovia, que estão como reféns
desde o fim da tarde de ontem.
Sobre a proposta de os índios
virem a Brasília, como sugere a Funai,
a coordenadora do Conselho Indigenista Missionário
(Cimi) no Maranhão, Rosemeri Diniz,
afirmou não acreditar nessa possibilidade.
"Essa proposta não vai vingar,
pois os índios maranhenses já
estiveram na capital federal reivindicando
as suas questões, e tudo não
passa de promessas", disse ela, em entrevista
à Agência Brasil.
Segundo Diniz, o mais apropriado
seria que os funcionários da Funasa
– com poder de decisão – fossem ao
Maranhão conversar com os índios.
"Os índios não se negam
a dialogar, mas querem ver as promessas cumpridas.
Invadir a ferrovia foi uma maneira que eles
encontraram de protestar", afirmou.
Diniz, no entanto, criticou
a atitude dos índios de manter reféns
os quatro funcionários da CVRD, mas
avaliou que a atitude foi conseqüência
do nervosismo dos manifestantes. "Acredito
que os índios já estão
refletindo e que até amanhã
os funcionários da companhia serão
liberados."
A Companhia Vale do Rio
Doce divulgou nota repudiando a atitude dos
índios de seqüestrarem seus empregados,
e disse que essa atitude mostra "tamanha
violência em desrespeito aos direitos
humanos de seus empregados", e trata-se
de um crime "violento".
A CVRD ressaltou que a Justiça
já determinou a reintegração
de posse e a retirada dos manifestantes do
local. A empresa afirmou aguardar que as autoridades
competentes tomem as medidas necessárias
para libertar seus funcionários. Por
meio de sua assessoria, a Vale também
afirmou que os índios não têm
qualquer reivindicação em relação
à empresa. "Os índios tomaram
tal atitude para forçar os presidente
da Funai e da Funasa a sentarem à mesa
de negociação para atender suas
reivindicações".
A principal queixa dos povos
krikati, gavião, awa-guajá e
guajajara – que bloquearam a ferrovia Carajás
– se refere ao "total descaso",
como alegam, com a saúde dos indígenas
no Maranhão. Dizem que os recursos
da Funasa estão sendo mal administrados,
que a burocracia aumentou e que há
dificuldade de acesso aos medicamentos.
Eles também contestam
a realização da 3ª Conferência
Distrital de Saúde Indígena,
que acontece desde segunda-feira (6) em São
Luís, realizada, segundo o Conselho
Indigenista Missionário (CIMI), "de
forma atropelada e sem respeitar as etapas
preparatórias de nível local,
como estabelece a Lei 8.142/90". Dentre
os questionamentos, segundo o Cimi, também
está a decisão unilateral da
Funasa de firmar contrato com a organização
não-governamental Missão Evangélica
Caiová para atendimento à saúde
indígena naquele estado.