16/02/2006
– A exploração de mogno na fronteira
entre Brasil e Peru pode ocasionar uma "guerra"
entre diferentes etnias indígenas e
levar à morte índios dos dois
países. A avaliação foi
feita na última terça-feira
(14) pelo chefe da Frente de Proteção
da Fundação Nacional do Índio
(Funai) em Envira (AC), José Carlos
Meirelles, que também é coordenador
substituto da Coordenação-Geral
de Índios Isolados (CGII).
A Frente de Proteção
da Funai em Envira, região de fronteira
do Brasil com o Peru, detectou a exploração
de mogno por madeireiras em uma reserva para
índios isolados no lado peruano. A
extração ilegal foi identificada
quando pranchas da madeira desceram para o
território brasileiro pelas cabeceiras
do rio Envira.
Meirelles ressaltou que
as pranchas não são soltas de
propósito, elas são marcadas
e "fugiram" devido a uma enchente
ocorrida no rio. "Se as toras estão
marcadas, é porque devem existir vários
grupos explorando mogno", alertou. "Não
é uma pequena exploração.
A gente tem o temor, como essa região
é uma divisa seca, que explorem todo
o mogno do lado de lá [no Peru] e comece
a aparecer exploração no lado
brasileiro", acrescentou.
A região da bacia
do rio Envira é habitada por várias
etnias de índios isolados, sobretudo
os Masko-Piro, do lado peruano, e os Pano,
no Brasil - etnias, segundo Meirelles, que
são inimigas culturais. Devido à
extração ilegal de mogno, ele
explicou que os indígenas do lado peruano
estão sendo forçados a deixar
suas terras e passar para o lado brasileiro.
"A partir do momento que os Masko-Piro
começam a se deslocar e entrar na região
dos índios brasileiros, vai haver uma
disputa territorial entre eles, vai haver
guerra e eles vão acabar se matando",
observou.
O chefe da Frente de Proteção
da Funai quer propor ao governo do Acre e
às autoridades peruanas um vôo
conjunto para detectar a extensão da
atividade exploratória. Ele acredita
que índios peruanos estejam morrendo
devido à exploração de
mogno. "Quando se trata de índio
isolado, dizemos que só quem sabe das
mortes são os urubus porque é
uma coisa que acontece na surdina da mata",
afirmou.
Em dezembro de 2005, a Funai
fez uma primeira verificação,
na qual percorreu toda a extensão do
Paralelo 10 - linha imaginária que
separa os dois países. Nenhum registro
de invasão do território brasileiro
havia sido identificado.