09/03/2006
- A Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna,
SP), unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária-Embrapa, vinculada ao
Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento, lançou o livro “A
construção da relação
social com o meio ambiente entre agricultores
familiares na Mata Atlântica Brasileira”,
editado pela pesquisadora Lucimar Santiago
de Abreu, em fevereiro de 2006.
Segundo Lucimar, o livro
vem preencher uma importante lacuna da sociologia
rural brasileira: a escassez de publicações
que tratam do processo de construção
das relações sociais com o meio
ambiente do ponto de vista de diferentes “tipos”
de agricultores e de sua lógica social.
A publicação
oferece métodos de abordagem sociológica
da relação agricultura versus
meio ambiente baseada em estudos de campo
no Vale do Ribeira Paulista. A autora explica
que vem adaptando e desenvolvendo de forma
pioneira métodos de pesquisa sociológica
de problemas ambientais da agropecuária
brasileira, tendo trabalhado em áreas
de agricultura intensiva de Guaíra
em meados da década de 90 e, mais recentemente,
em áreas de preservação
ambiental e de agricultura diversificada de
Tapiraí, no Vale do Ribeira, ambas
no Estado de São Paulo.
O desafio, segundo a pesquisadora,
é o de construir uma metodologia de
pesquisa interdisciplinar para o estudo sociológico
das questões relacionadas à
sustentabilidade dos sistemas de produção
agropecuário tendo como elementos centrais
a relação dos agricultores com
o risco ecológico e as estratégias
de transição para a sustentabilidade.
O estudo foi realizado em
localidades que apresentam em sua configuração
muitos tipos de agricultores familiares –
diferenciados em suas atividades produtivas
e em seu perfil cultural – e, ao mesmo tempo,
um conjunto de sistemas ambientais diversificados,
alguns dos quais com o status de áreas
conservadas.
O objetivo desta pesquisa
foi entender as diferentes formas de construção
das relações dos agricultores
com o meio ambiente, a partir da análise
de suas práticas produtivas (mobilização
de técnicas, exploração
dos recursos, organização e
gestão dos territórios) e da
relação desses agricultores
com os recursos naturais, como os agentes
sociais identificam as relações
que estabelecem com a natureza, como vêem
o risco de que essas relações
possam gerar problemas ambientais e como formulam
a noção de risco ou de problema
ambiental.
Trata-se também de
identificar possíveis mudanças
em curso no mundo rural, que tomariam a forma
de mudanças na representação
da natureza e dos riscos associados às
atividades humanas, enfatiza a autora.
Espera-se ainda que, além
de contribuir para a compreensão das
práticas produtivas dos diferentes
atores sociais, o estudo forneça elementos
que subsidiem e orientem a formulação
de políticas públicas agroambientais.
Também divulga resultados
inéditos em termos de pesquisa ambiental
e oferece conhecimento para equipes de pesquisadores
e extensionistas que atuam em projetos e estudos
de problemas sociais e ecológicos.
Além disso, apresenta subsídios
práticos para a formulação
de políticas públicas voltadas
à gestão ambiental territorial
da agropecuária e de outras atividades
presentes na Floresta Atlântica, uma
região com baixo índice de desenvolvimento
humano (IDH), de grandes contrastes sócioambientais
e de conflitos entre os objetivos econômicos
e ecológicos no manejo dos recursos
naturais.
“Podemos apontar diversas
soluções ambientalmente aceitáveis,
como a necessidade de se praticar a queima,
por exemplo, que pode ser eliminada, com o
devido apoio para a modernização
ecológica da produção
agrícola nas áreas mais favoráveis
como um meio de estimular e fortalecer a agricultura
agroecológica”, explica Lucimar. Nesse
caso, é possível introduzir
amplamente técnicas de recuperação
de solos pobres, com base em tecnologias agrícolas
alternativas, as quais, em parte, já
estão sendo utilizadas pelos agricultores
inseridos no modelo tradição
ecológica e, mais intensamente, pelos
agricultores que estão inseridos no
modelo modernidade ecológica.
A estratégia de transição
de uma atividade decadente para outra mais
adequada, que representaria uma solução
ideal do ponto de vista ecológico,
pode ser altamente bem sucedida, fala a pesquisadora.
É o caso, por exemplo, das culturas
da banana e do gengibre, que poderiam ser
substituídas gradativamente pelo plantio
comercial de palmito. Os cálculos baseados
em experiências práticas dos
agricultores no Vale do Ribeira mostram sua
alta viabilidade econômica. O que começa
a mover os agentes sociais nessa direção
é, além da perda de rentabilidade
do negócio tradicional, a própria
intensificação da polêmica
em torno da questão ambiental na Região
e as dificuldades crescentes da exploração
predatória, que abrem perspectivas
de uma solução que indubitavelmente
beneficiará aqueles que saírem
na frente, explica Lucimar.