(17/03/06)
- A realização da 8a Conferência
das Partes da Convenção da Biodiversidade
CDB –COP|-8 motivou uma iniciativa internacional
para conservar antigos locais sagrados baseada
na crença de que tais pontos culturais
espalhados pelo Planeta podem ser o cerne
para a salvação da decadente
biodiversidade mundial. Desde tempos imemoriais,
a religiosidade do homem sempre esteve relacionada
à natureza, conforme apontam os registros
arqueológicos. O projeto, Conservação
da Riqueza em Biodiversidade de Áreas
Ambientais Sagradas, será divulgado
na COP-8.
Especialistas de várias
partes do globo apontaram diversos locais
como ecossistemas pilotos e de importância
global para a campanha. Entre tais pontos
estão o Deserto de Chihuahuan, no México
onde se acredita ser a origem do sol ou mesmo
uma rede de cavernas que contêm esqueletos
antigos nas florestas Kakamega, no Quênia,
veneradas pelos povos Taita e Luhya..
Outros locais sagrados que
são objeto da campanha são o
Monte Ausangate, nos arredores da majestosa
montanha Vilcanota, no Peru, a área
para rituais em Puntayachi cercada pela rica
biodiversidade da região de Cayanpi,
no Equador.Um arquipélago em Guiné-Bissau
cujas praias e mangues são utilizadas
exclusivamente para rituais. Florestas sagradas
no distrito de Kogadu, na Índia, que
possuem raízes nas tradições
artísticas e culturais da região.
GEF investirá
recursos para salvar lugares sagrados
O projeto, apoiado por organizações
que incluem o PNUMA (Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente) e grupos de populações
indígenas, como a fundação
criada na Guatemala pela ganhadora do prêmio
Nobel da Paz, Rigoberta Menchu, assegurou
um capital preliminar do Global Environment
Facility, um fundo de desenvolvimento que
conta com bilhões de dólares.
Patrocinadores incluídos
em uma variada seleção de organizações
de conservação, outras agências
das Nações Unidas além
de governos como o do México, arrecadaram
os mais de U$ 1.7 milhões necessários
para o início das ações
no local.
“Há evidências
claras e cada vez maiores de uma ligação
entre diversidade cultural e biodiversidade,
entre a reverência à terra e
uma localização, uma região
que geralmente possui plantas e animais únicos”,
disse Klaus Toepfer, diretor executivo do
PNUMA.
Segundo ele, os locais sagrados também
estão sob ameaça e há
uma necessidade urgente de ajudar populações
indígenas, tradicionais e locais a
salvaguardar suas heranças que, por
sua vez, podem auxiliar na conservação
da diversidade biológica e genética
desses povos da qual todos dependemos.
Em 2002, no Fórum
Mundial para o Desenvolvimento Sustentável,
em Johanesburgo, na África do Sul,
os governos participantes se comprometeram
em reverter a taxa de perda de biodiversidade
até 2010.
“Conservar locais sagrados
e sua riqueza biológica pode ter papel
central para atingir a meta de 2010 de reverter
os alarmantes índices de perda de biodiversidade
e talvez servir como guia para a promoção
de práticas administrativas auto-sustentáveis
e de qualidade que possam ser exportadas para
regiões vizinhas e se expandir cada
vez mais”, disse Toepfer.
Pode parecer acidental,
mas não é, dizem os organizadores
da campanha, o fato de que populações
indígenas vivem onde também
se encontram a maior diversidade biológica
e da natureza. Os valores com que as populações
indígenas construíram seus complexos
sistemas são fundamentados na natureza
ética, espiritual e sagrada.
“Essa é a razão
pela qual nós exigimos o reconhecimento
formal dos nossos esforços de conservação,
das nossas áreas de proteção,
dos nossos locais sagrados, dos nossos valores
éticos que sustentam nosso estilo de
vida”, acrescentou.
De acordo com Gonzalo Oviedo,
da União para Conservação
Mundial - IUCN, uma das organizações
envolvidas na ação, as localizações
ambientais sagradas são áreas
ambientais reconhecidas por povos indígenas
e tradicionais como sendo de importância
cultural e espiritual. Elas variam de montanhas,
florestas e ilhas a oásis em desertos,
lagos, rios e bosques”.
As comunidades que administram
tais regiões têm feito esforços
locais para tentar impulsionar as potencialidades
dessas áreas, mas até agora
ações mundiais estão
longe de atingir o nível necessário
para assegurar uma mudança global em
seus destinos. Esse projeto tem como objetivo
forjar uma vasta aliança e atrair a
atenção internacional, da qual
essa área urgentemente precisa”, acrescentou
Oviedo.
Uma variedade de iniciativas
associando populações indígenas
e diversidade biológica estão
planejadas para a Conferência, inclusive
detalhes de outro projeto que tem como meta
salvaguardar as diversidades biológica
e cultural do arquipélago tropical
de Palau, nas ilhas Solomon e Vanatu, no Pacífico.
Para mais informações sobre
os locais pilotos: www.unep.org