20/03/2006 - Brasília
- A destinação dos rejeitos
nucleares e radioativos é apontada
como falha, no relatório do grupo de
trabalho que investigou a segurança
nas instalações nucleares e
radiativas no país, pois os depósitos
são provisórios. Segundo o levantamento
do grupo de trabalho de Segurança Nuclear
da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável da Câmara, só
existe um depósito definitivo no país,
o de Abadia de Goiânia (GO), cidade
da região metropolitana da capital
goiana.
Nele está depositado
o lixo radioativo transportado da Avenida
Paranaíba, no Setor Central de Goiânia,
onde em 1987 ocorreu o maior acidente radioativo
do país. Foi quando catadores de papel
encontraram uma bomba de césio 137,
usada num equipamento radiológico de
uma clínica desativada. Cerca de 300
pessoas foram contaminadas, em diferentes
graus, pela fonte radioativa manipulada pelos
catadores e por donos de ferros velhos que
compraram partes da fonte.
O controle de fontes radioativas
também foi considerado falho pelos
deputados. "Os profissionais ligados
à Associação dos Fiscais
em Energia Nuclear, que nos ajudaram voluntariamente
com informações valiosas, nos
deram conta de que não confiam no banco
de dados que a CNEN opera. Eles disseram que
o banco de dados é desatualizado e
não dá a verdadeira dimensão
de quantas fontes são e de onde estão",
disse o relator, deputado Edson Duarte (PV-BA).
Sabe-se que no país existem, pelo menos,
50 mil fontes radioativas, empregadas nas
áreas de medicina, indústria
e pesquisa. "Mas o responsável
da CNEN por este serviço não
soube precisar se realmente eram 50 mil",
acrescentou.
O deputado aponta em seu
relatório, que o Tribunal de Contas
da União, ao realizar auditoria de
desempenho nas atividades de radioproteção
e segurança nuclear da CNEN, em 2000,
constatou que as informações
do banco de dados estavam desatualizadas e
incompletas. Cerca de 20% das instalações
não operavam mais fontes radioativas
e 10% delas estavam com endereço errado.
Outro problema apontado
por Duarte em seu relatório é
o fato de não haver planos de emergência
para atuar diante de acidentes nucleares ou
radioativos. "O Brasil mostrou que não
aprendeu a lição com Goiânia",
observou.
O deputado registrou ainda
que, no caso das usinas de Angra 1 e 2 foi
reduzido há altuns anos o raio de segurança
e proteção, de 15 quilômetros
para 5 quilômetros, sem que a população
recebesse esclarecimentos quanto à
decisão. "Não tivemos da
Eletronuclear, que opera as usinas, uma explicação
convincente. É um contrasenso. No mundo
inteiro, principalmente depois de Chernobyl,
há uma tendência de aumentar
o raio de atuação de planos
de emergência", relatou Duarte,
citando o acidente ocorrido na Ucrânia,
considerado um dois piores no mundo.