22.03.2006 - Com a perda
de 13 milhões de hectares de florestas
naturais por ano – num ritmo aproximado de
25 hectares por minuto - está em curso
uma verdadeira corrida para proteger o que
resta das florestas do mundo. Se os governos
quiserem reduzir significativamente a perda
de biodiversidade até 2010 - conforme
compromisso firmado na assinatura da Convenção
sobre Diversidade Biológica das Nações
Unidas - será necessário conter
a maré de desmatamento e aumentar os
esforços de proteção
e uso sustentável, por meio de práticas
como o manejo florestal certificado.
Florestas regulam o clima, concentram a diversidade
biológica e abrigam mais de dois terços
das espécies terrestres conhecidas,
além de numerosas plantas e ervas,
algumas das quais podem guardar os segredos
para a cura do câncer e de outras doenças.
Estima-se que cerca de 1,6 bilhão de
pessoas no mundo dependam de florestas, incluindo
60 milhões de povos indígenas,
para quem elas são o lar. Mas apenas
12%, ou 480 milhões de hectares das
florestas do planeta, são formalmente
protegidos. A rede ambientalista mundial WWF
participa dos esforços para o aumento
da proteção, ajudando a manter
vastas áreas de florestas e paisagens
naturais na Amazônia, em Bornéu,
na Bacia do Congo, na Rússia, no Canadá,
na China e em outros países. A Rede
WWF espera que mais 75 milhões de hectares
de florestas estejam protegidos até
2010.
Com um tal cronograma e a apenas alguns poucos
anos até 2010, o único meio
de atingir essas ambiciosas – mas factíveis
- metas é por meio de criativas parcerias.
A mais ambiciosa parceria até o momento
é a do Programa Áreas Protegidas
da Amazônia (Arpa), liderado pelo governo
do Brasil em colaboração com
o Banco Mundial, o Fundo Global para o Meio
Ambiente, o Banco de Cooperação
da Alemanha (KfW), o Funbio, o WWF-Brasil
e comunidades locais. Por meio dessa iniciativa,
cerca de 50 milhões de hectares dos
diferentes habitats e espécies da Amazônia
serão protegidos num sistema de reservas
e parques bem administrados e financiados
– uma área superior ao total de parques
nacionais dos EUA.
Proteger a Amazônia de altos índices
de desmatamento não é uma tarefa
fácil, mas a iniciativa com múltiplos
parceiros tem cumprido as expectativas e fornecido
extraordinários resultados de conservação,
em que pese os elevados e persistentes índices
de desmatamento e a indicação
de que começaram a cair em 2005. Quase
16 milhões de hectares de áreas
protegidas já foram criados. E, no
mês passado, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva assinou um decreto criando novas
áreas protegidas no Pará. Com
6,4 milhões de hectares - duas vezes
o tamanho da Bélgica - elas incluem
dois novos parques nacionais e a expansão
de um terceiro, quatro florestas nacionais
e uma zona de proteção ambiental
na qual o desenvolvimento é estritamente
controlado.
Esse mosaico de novas areas protegidas cria
uma genuína expectative de conter o
desmatamento, conserver a biodiversidade e
promover o desenvolvimento sustentável
local e regional. Esforços como esse
- que implica o trabalho em grande escala,
com o envolvimento de múltiplos setores
da sociedade e parceiros fortes e comprometidos
– são fundamentais para acabar com
o desmatamento sem planejamento.
Centenas de comunidades indígenas da
Amazônia contribuem para a rica diversidade
cultural da região. É importante
que comunidades locais e indígenas
façam parte do processo de conservação.
Sem elas, a biodiversidade certamente seria
perdida.
Essa visão da conservação
em larga escala no Brasil, alicerçada
em sólida base científica, fortes
alianças públicas e privadas,
e no envolvimento comunitário, é
uma receita de sucesso e deve ser seguida
em outros lugares. A conservação
e o manejo sustentável de florestas
e espécies que nelas vivem são
fundamentais para a sobrevivência de
comunidades locais, rurais e indígenas
no mundo em desenvolvimento. Muitas delas
são pobres e foram marginalizadas por
mal traçadas estratégias de
desenvolvimento do passado. Compromissos claros
e parcerias ambiciosas são o segredo
para atingir com sucesso a conservação.
Diplomatas e ambientalistas reunidos esta
semana em Curitiba, na Oitava Conferência
das Partes (COP8) da Convenção
sobre Diversidade Biológica, para discutir
o ritmo e os índices de degradação
e destruição dos recursos naturais
do mundo, deveriam encarar iniciativas de
conservação de larga escala
e que envolvem parceiros mútliplos
como um meio de atingir os alvos estabelecidos
para 2010.
• James P. Leape é Diretor Geral do
WWF- Internacional